Gustavo Hoffay*

Sugiro que deixemos de lado conjecturas que carecem de base lógica e sempre levam a lugar nenhum. Vamos direto ao ponto: considerável parcela da população das grandes cidades e principalmente aquelas que sofrem em conseqüência de deletérias ações criminosas, vem embarcando numa onda ilógica e crescente onda que trata fatos criminosos como se os mesmos fossem algo muito banal, previsível, corriqueiro….E essa onda à qual me refiro não passa imperceptível, chega mesmo ao ponto de irritar até o mais discreto observador , trás em sua crista um incompreensível e até suspeito afagamento a ações de uma descomunal horda de delinqüentes, os quais não hesitam sequer um segundo em provocar o pânico e levar o luto para dentro de numerosas famílias brasileiras. Verdade seja dita: o nosso Código Penal é um cacareco alfarrábio de deboches, de falta de respeito e de consideração para com o povo brasileiro diante de uma atrevida ousadia de capacitadas organizações anarquistas, amplamente disseminadas e sempre mais estilosas em seus respectivos e característicos modus operandi. Para dar-se início a uma nova e necessária ordem nas coberturas da imprensa em relação a sua sanha na difusão de crimes de qualquer espécie, sugiro que diretores de redação e repórteres especializados no trato da segurança pública, evitem a divulgação de termos que dão a clara impressão de que crimes absolutamente hediondos sejam simples e popularmente entendidos como a (mais) uma espetacular e imperdível atração em suas respectivas programações vespertinas e noturnas, como se fossem algo relativamente banal, trivial em nosso cotidiano. Posso estar enganado, mas tratar criminosos presos em flagrante de delito por “suspeitos”, é o cúmulo da afetuosidade ou beneficência em relação aos marginais e um total desrespeito à integridade intelectual de todo um público telespectador, aliado ao incontestável fato de que os criminosos têm como cúmplice e incentivador de suas ações sanguinárias o próprio estado, dada a simplicidade e a ignorância de leis que tratam da criminalidade em nosso tempo e da acomodada ( porém passageira) situação dos seus autores: os nossos nobres congressistas. Esses nos confundem e mesmo abusam do conhecimento que têm da nossa quase total omissão de acompanhar e cobrar as suas ações parlamentares. O sentimento de que estamos em demanda de algo que, ao menos, diminua a força bruta da criminalidade vigente é espontâneo em qualquer cidadão ordeiro. Não temos dúvida alguma de que o trabalho das polícias civil e militar são magnânimos , mas trata-se na verdade de um vergonhoso enxuga-gelo diário e tal a fragilidade ( ou infantilidade?)do nosso código penal, cada vez mais emendado com retalhos podres e convenientemente afetos a criminosos que desafiam a nossa capacidade de estancar as suas ações. Apesar de toda a nossa atrofiada legislação criminal ainda podemos insuflar a nossa gratidão ao estado por desempenhar, mesmo aos trancos e barrancos, a sua função e enquanto amarrado a uma legislação capenga, cotó e desatualizada, que contribui para desumanizar ainda mais uma considerável parcela da população e já tão carente de serviços básicos, essenciais até mesmo para a sua sadia subsistência. Para o nosso espanto ainda temos ( temos ?) de engolir leis que dão liberdade a criminosos de “bom comportamento”, sabendo-se que 60% deles recaem nas mesmas ações que serviram de base para as suas condenações ao serem reaproveitados, reciclados e “retificados” por quadrilhas diversas, após um estágio de aprendizagem em alguma cela das nossos penitenciárias. Perguntar não ofende: Onde está a lógica do combate à criminalidade, se não há leis que de fato penalizem os infratores ? Estamos a muito tempo em uma situação vergonhosa, truncada, descombussolada, sem rumo e sem leme em um mar repleto de tubarões e outros evidentes perigos, diante de uma “segurança” pública emoldurada por uma legislação incompetente e deixada ao léu por aqueles que estão – momentaneamente – muito mais seguros do que nós, seus eleitores. Depois dos surtos de dengue, vaca-louca e covid, ainda somos continuamente picados pela apatia dos nosso legisladores e o que, fatalmente, contribui para o crescimento de uma danosa neurose coletiva. Convido a você, leitor(a), a fazer eco ao já grandioso grito de cidadãos que são contra a permanência de programas que tratam da criminalidade, que vão ao “ar” em horários absolutamente impróprios e servindo-se da miséria alheia para atrair cada vez mais lucro para os seus cofres.

*Agente Social – Uberlândia-MG