A paz no campo

Ana Maria Coelho Carvalho – anacoelhocarvalho anacoelhocarvalho

Todos nós procuramos encontrar a paz. O descanso da alma cansada, o respiro depois da tempestade, o abraço que acalma, o caminho de volta pra dentro de si mesmo. A tranquilidade, o equilíbrio, a harmonia. Essa paz suplicada em orações, como a de São Francisco: “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz”. Ou como naquela oração quando reconhecemos que a paz é Deus em nós: “…e Tu, que és a paz, dá-nos esperança em cada momento, Senhor!”

Assim, alguns procuram a paz em retiros espirituais, nas montanhas, na contemplação da natureza, na oração em um quarto silencioso, na meditação, nas igrejas e templos. Outros tiram férias dos filhos barulhentos. Uns arrumam as tralhas e partem para uma pescaria. E os mais diretos simplesmente gritam: “Pelo amor de Deus, me deixa em paz!”

Mas interessantes são aqueles que acreditam que a paz está nos campos. No vento batendo nas folhas, no canto dos passarinhos, na sombra das árvores, no verde por todo lado, nas estrelas brilhando na noite escura, no silêncio das matas. Tem tudo isso sim, mas a paz no campo vem com um pacote completo de bichos diversos.

Como aconteceu recentemente comigo e com a filha Thaís, que mora nos States e ansiava por conhecer a minha fazendinha no norte de Minas e ter uns dias de paz. Acontece que foi um susto atrás do outro. Primeiro: assim que chegamos à casa da sede, ela foi ao banheiro. Deu um grito estridente. Havia uma perereca verde e branca luzidia dentro do vaso, prontinha para grudar suas patas com discos adesivos nas “partes íntimas” de algum desavisado que ali se sentasse. Eu, como já estou especialista em pegar sapos e pererecas com um pano de chão, apanhei-a e joguei-a na grama (ainda peguei mais umas seis). Segundo: estava a Thaís concentrada, á noite, trabalhando no laptop. Outro grito: passou um morcego em voo rasante rente à sua cabeça (ela nem se maravilhou com a perfeição do voo e com a aerodinâmica das asas do morcego, o único mamífero que voa). Na sequência, um besouro escaravelho bem grande, dentre os vários que estavam na sala, veio com seu voo desajeitado, usando as asas membranosas e os élitros duros, e bateu de frente nos óculos dela. Outro susto. Terceiro: no dia seguinte, fomos no curral ver o gado. A Thaís logo notou um bezerro com sangue escorrendo pelo pescoço. O encarregado da fazenda explicou que foi um morcego que o mordeu à noite. Ela, impressionada, pois não sabia que existiam morcegos hematófagos por ali, dormiu à noite com o quarto bem fechado. Acordou de madrugada, sentindo umas mordidinhas pelo corpo. Acendeu a luz e viu que estava compartilhando a cama com quatro besouros grandes. Pegou os quatro, abriu a porta e jogou-os no corredor. Mas assim que abriu a porta, entrou algum ser voador. Ficou aterrorizada, poderia ser um morcego-vampiro que iria grudar em seu pescoço, fazer um pequeno corte e ficar lambendo seu sangue, se dormisse. Resolveu procurar pelo quarto e encontrou uma mariposa enorme atrás do armário. Menos mal. Deixou-a lá, a mariposa estava quieta, pousada com as grandes asas abertas (borboletas pousam de asas fechadas). E quando pensou: -“Agora eu durmo!”, começou , às quatro da manhã, a ouvir um canto alto, exasperante, uma sequência repetitiva de ‘ah-ah-ah-ah-ah”, parecendo uma gargalhada. Um pássaro cantando direto, sem nem tomar fôlego. Era o Acauã, um tipo de gavião pequeno, um dos falconídeos mais comuns no Brasil. É bonito mas irritante, e dizem que é uma ave de mau agouro. Canta feio a qualquer hora do dia ou da noite. Lá se foi o sono reconfortante. Quarto: durante o dia, também adeus soneca. Além do Acauã, existia o canto das cigarras. Impressionante a altura do som, pode atingir até 120 decibéis, o que é classificado como um som ensurdecedor. São os machos que cantam para atrair as fêmeas, é um canto de amor. Como eles vivem apenas uns 30 dias como adultos, cantam o mais alto possível e o máximo de tempo que conseguem. E adeus silêncio. Pior: sempre que a sinfonia começava, a Duda, minha cachorrinha Yorkshire, latia freneticamente. Como a audição dos cães é melhor e mais aguçada que a dos homens, ela estava enlouquecendo. Quinto: num final de tarde, estávamos na varanda de uma vizinha; escureceu e apareceram centenas de aleluias atraídas pela lâmpada que foi acesa. E com elas, no mesmo instante, surgiram quatro sapos enormes e corpulentos, com patas traseiras curtas e robustas, pele seca e rugosa característica dos sapos. Moviam-se com pequenos pulos para capturar , com suas línguas longas e pegajosas, as aleluias do chão, bem aos pés da Thaís. Outro susto. Sexto: estávamos caminhando tranquilas na estradinha no meio do pasto, quando a Thaís , sem mais nem menos, perguntou : _”Aqui não tem onça, não é? “ E eu: “O pior é que tem!” Contei das pegadas de onça em volta da lagoa e do funcionário que viu uma dormindo e correu como louco. Acabou o encanto da caminhada. Sétimo: a Thaís estava nadando no rio Jequitai, que contorna a fazenda. Um rio bonito, raso e límpido. Só que a moradora da fazenda avisou, quando ela estava bem no meio do rio, que não entrava na água porque aparecia jiboia. Corajosa, a Thaís não saiu, mas ficou vigilante caso aparecesse uma jiboia para enrolar em seu corpo e quebrar os seus ossos. Felizmente, não apareceu.

Bem, estes foram apenas alguns bichos que povoaram os nossos três dias de paz no campo. Sem falar naqueles que sempre insistem em ir embora conosco, como carrapatos e bichos de pé…

Enfim, pra encontrar paz no campo é preciso saber conviver com a bicharada e ter o coração preparado. Para aprendermos, no meio de tantos sustos, que o sossego está, não na ausência de barulho, mas sim na aceitação da natureza como ela é. Para entendermos que a vida é bela, diversificada e pulsa de todas as formas: canta, voa, pula, rasteja, corre. E que a paz encontra-se dentro de nós quando estamos com Deus.

Narrativas falsas e mentiras em profusão!

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Acadêmico da ABLetras, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.

Todos sabemos que os políticos de direita, no governo ou no legislativo, têm em comum o fato de que são improdutivos. Não possuem legado de obras, construção de hospitais, maternidades, creches, duplicação de rodovias, habitação popular, etc.
Como conseguem se eleger e reeleger nas eleições municipais e gerais no país? Simples: eles perceberam que parcela significativa do eleitorado não pesquisam, não lêem e se informam em grupos de aplicativos de comunicação. A partir de 2018, começaram a se utilizar de disparos de fake news nos grupos de whatsapp e telegram, isso depois foi aprimorado para os vídeos no Instagram, Facebook e TikTok.
O conteúdo desse material divulgado pelos políticos de direita varia entre mentiras sobre o governo Lula e os posicionamentos dos partidos de esquerda até narrativas falsas criadas a partir de dois prismas: Se o governo consegue vantagens ou implanta algo positivo eles deturpam ou as vezes dizem que aquilo foi feito pela turma de direita. Outra situação é quando percebem uma brecha para falar mal de alguma ação do governo federal, neste caso, usam novamente de mentiras para obter likes em redes sociais.
A situação é tão ridícula que alguns deputados, como o medíocre Nikolas Ferreira, fazem o seguinte quando estão numa comissão da Câmara entrevistando algum ministro do governo: ele faz uma afirmação mentirosa ao interlocutor do governo, sabendo que é mentira, porém, grava em vídeo e omite a resposta que contradiz o que perguntou. Em seguida sua equipe dispara o vídeo com sua pergunta e aquilo pode viralizar como verdadeiro.
Outro esquema é o utilizado pelo governador Castro no RJ. Após a chacina no morro do Alemão com mais de 130 mortos, ele vai até as mídias de rádio e TV, mente dizendo que não teve ajuda do governo federal. Mesmo sabendo que rapidamente o governo irá desmenti-lo, porque ele nunca pediu ajuda. Ele e sua equipe contam com a preguiça e o desconhecimento do eleitor, que “compra” a mentira postada pelo governador e não a verdade dos fatos.
A situação é tão esdrúxula que o Deputado Gustavo Gayer do PL/GO, teve a desfaçatez de subir ao plenário da Câmara e mentir em alto e bom som, dizendo que não foi a reunião de Lula com Trump, mas sim, o “trabalho” de Eduardo Bolsonaro que “reduziu” as taxas impostas para alguns produtos brasileiros exportados para os EUA.
Os eleitores brasileiros precisam definitivamente dar valor aos votos concedidos aos vereadores, deputados estaduais, federais e senadores, porque são estes que podem levar o país a ter leis favoráveis ou promoverem o atraso e a insignificância que o país não merece.
Voto não é algo que se consegue ouvindo pastores, padres, militares, grupos de whatsapp, mas sim, pesquisando com seriedade, buscando em fontes seguras a verdade sobre partidos e candidatos. Deixando de acreditar em absurdos como o “comunismo” vai voltar, o Lula vai fechar Igrejas Evangélicas, etc.
Basta de dar ouvidos a políticos corruptos que estão enriquecendo através do desvio de emendas parlamentares ou da cobrança de “pedágio” ao concedê-las para prefeitos em diversas cidades.
Como por exemplo, os áudios obtidos pelo Site Metrópoles mostrando conversas de uma filiada ao Partido Liberal (PL) na cidade de Rio Claro – SP, no interior paulista, negociando a devolução de parte do valor de uma emenda parlamentar que seria destinada a um município da região.
Amanda Servidoni se apresenta na região como “assessora” da deputada estadual licenciada Valéria Bolsonaro (PL/SP), atual secretária de Políticas para a Mulher do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), embora não ocupe nenhum cargo na pasta.

Raízes insuspeitadas do SUS

Dr, Flavio e Abdade Goulart*

Você conhece algum personagem na fotografia acima? Possivelmente sim, pelo menos aquele senhor de terno preto e um sorriso inconfundível no rosto redondo e no jeito bonachão: Getúlio Vargas. Já o outro homem, de terno claro, porte avantajado, também posando de maneira simpática e sorridente para a foto, é Franklin Delano Roosevelt, então presidente dos EUA (a foto é da década de 30). Historiadores profissionais certamente identificariam outros personagens em tal fotografia, mas de minha parte, admito reconhecer apenas os dois que acabo de citar. Mas afinal, o que faziam aquelas duas autoridades juntas em uma mesa festiva, o ditador daqui e o presidente de lá, e o que isso tem a ver com o SUS? Pois é, pode parecer inacreditável, mas tal encontro, apesar de ter acontecido há quase 100 anos, teve consequências para a política social, a política econômica e o próprio lugar do Brasil no mundo, nos anos atuais. Adicionando certo spoiler a esta história, diria que naquele momento de transição global, com o nazismo florescendo na Alemanha e os Estados Unidos se preparando para se transformar em potência mundial, aquele encontro possibilitou um movimento de aproximação do Brasil a uma esfera geopolítica que, com todos os seus problemas e defeitos, nos coloca hoje como beneficiários de um sistema de saúde que, mesmo aos trancos e barrancos, avanços e recuos, está em sintonia com a ideia mãe do Estado de Bem Estar Social, que sem dúvida representa um marco civilizatório, presente nos países mais desenvolvidos do mundo. Simbolicamente, pelo menos, estávamos do lado certo da história, mas é melhor não sermos muito dogmáticos quanto a isso, pois países do lado errado, como o Japão e a Alemanha, estão hoje em situação social e econômica muito melhor do que a nossa. Mas atenção: não se trata de uma história perfeitamente linear – vamos a ela.
No campo específico da saúde já havia alguma colaboração entre os EUA e o Brasil desde a década de 20, quando dominavam as doenças infecciosas e parasitárias, ditas tropicais, aqui no Brasil (e mesmo em partes dos Estados Unidos) e havia entre os dois países processos de colaboração técnica e mesmo operacional, através da Fundação Rockfeller. A diretriz filosófica disso era o chamado círculo vicioso da pobreza e da doença e a estratégia usada para rompê-lo tinha como base o saneamento básico e a educação das pessoas. Não que isso não fosse importante, mas a verdade é que havia mais coisas a considerar no cenário, por exemplo, um tratamento mais político da questão, a ser considerada a partir de determinantes econômicos e sociais mais amplos – mas isso podemos discutir mais adiante.
Quando Roosevelt veio ao Brasil (e ele o fez mais de uma vez ao longo de seus inéditos quatro mandatos, entre 1930 e 1945), já estava em curso, por parte do EUA, uma operação de verdadeira cooptação do Brasil, dentro de uma geopolítica de boa vizinhança, destinada não só a nos incorporar na esfera de influência (política e econômica) norte-americana como consolidar uma aliança estratégica (embora em uma posição subsidiária para o Brasil), aspecto que viria a ser incrementado pela ascensão do nazifascismo na Europa.
O resultado de tal aproximação tornou-se bastante visível nos anos 40, por exemplo, com a criação da Cia. Siderúrgica Nacional e da Cia. Vale do Rio Doce, já integrantes do chamado esforço de guerra, por lidarem com uma comodity fundamental para tanto: o minério de ferro e através dele, o aço. Aí entra, também, a criação dos Serviços Especiais de Saúde Pública – SESP, que introduz em cena, finalmente, o tópico central deste artigo, a Saúde Pública. Isso se deu no ano de 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, por ocasião de uma reunião de dos Ministérios das Relações Exteriores das Américas, realizada no Rio de Janeiro. Tal organismo tinha como atribuições básicas prover saúde e saneamento na Amazônia e no Vale do Rio Doce, onde se produziam borracha e minério de ferro, matérias-primas estratégicas para o esforço de guerra, com foco nos altos índices de malária, febre amarela e outras doenças que atingiam os trabalhadores em tais regiões.
Nos anos seguintes o SESP viu crescer extraordinariamente suas tarefas, que passaram também a incluir a criação de hospitais e outras unidades de saúde na Amazônia, Vale do São Francisco e Rio Doce; a erradicação da varíola; o desenvolvimento de serviços de água e esgoto, chamados SAAE e mesmo a formação de profissionais de saúde. Ainda como parte do esforço de guerra, prestou assistência direta no encaminhamento de trabalhadores, principalmente nordestinos, para os seringais da Amazônia. Em termos da formação de RH para a saúde, implantou escolas de enfermagem no Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Goiás e Amazonas, através de cursos de graduação e de formação de auxiliares de enfermagem.
Nem tudo, porém, foram flores e glórias em tal história. A entidade, depois denominada Fundação SESP, exerceu atividades ininterruptas entre a década de 40 e o início dos 90, sendo então despojada de suas atividades assistenciais, descentralizadas a estados e municípios, por força da Constituição de 1988.
Problemas conceituais e operacionais relativos a seu funcionamento, entretanto, não foram poucos, por exemplo: (a) Sua estrutura altamente centralizada, sediada no Rio de Janeiro e com pouca delegação de poderes às superintendências estaduais. (b) Além disso, como geralmente acontece em casos assim (vide a estrutura militar), forte hierarquização de suas cadeias de comando, gerando morosidade e letargia na transmissão de determinações ao logo delas. (c) Tal hierarquização e centralismo tinham como consequência imediata sua atuação isolada e sem maiores pontos de contato ou mesmo consulta com estruturas correspondentes nos estados e municípios, fazendo parte, aliás, de uma lógica declarada na instituição. (d) As múltiplas unidades de assistência não faziam parte de um sistema verdadeiro unificado e regionalizado, como seria desejável, mas sim fragmentado. (e) Apesar de assistência saúde se ligar fortemente a saneamento básico, a atuação simultânea do SESP nessas duas áreas acarretava fatores complicadores operacionais e estratégicos diversos, por buscar associar desafios de ordem social e cultural, na saúde, bem como de tecnologia e engenharia, no saneamento. (f) A mudança do panorama epidemiológico, com domínio cada vez maior das condições crônicas e não transmissíveis certamente também contribuiu para o panorama de dificuldades, já que a atuação do SESP foi pensada e gerida dentro de outro paradigma, ou seja, da prevalência das doenças infecciosas e parasitárias, das endemias e das condições agudas em geral.
Acima de tudo, com certeza, vieram as novas determinações constitucionais no campo da Saúde: unificação, descentralização, regionalização, participação social, apressando a decadência de tal entidade . O fato é que a atuação histórica da SESP teve um fim relativamente melancólico, com a sua fusão com outros segmentos do Ministério da Saúde, dentro de um processo que lembra uma anedota atribuída ao teatrólogo G. Bernard Shaw, sabidamente um homem feio, a respeito de um possível casamento com a bela, mas pouco inteligente, Miss Inglaterra da época, ao que ele comentou: melhor não, haveria o risco de juntarmos a minha feiura com a estultice dela… Foi algo assim o que aconteceu com a instituição nascitura, nos anos 90. Não bastasse isso, a nova Fundação Nacional de Saúde, ficou restrita basicamente à área de saneamento, mesmo assim com muitas limitações, dado que a a operação primordial em tal campo coube ao Ministério do Interior (e depois das Cidades) , além de ter se transformado em presa fácil e preferencial de disputas políticas acirradas entre políticos clientelistas, particularmente na região Nordeste.
Mas ao mesmo tempo não se pode negar o papel do SESP como verdadeiro laboratório de ensaio para algumas das conquistas do SUS, por exemplo: a descentralização operacional (mais do que de gestão); o foco na Atenção Primária à Saúde; o trabalho em equipe de relações horizontalizadas; o foco em grupos populacionais vulneráveis; o desenvolvimento da educação sanitária, mesmo em sua forma tradicional, não necessariamente emancipadora; a integração entre intervenções individuais e coletivas; os primórdios de uma hierarquização assistencial, mesmo restrita ao conjunto de suas unidades, fora de modalidade mais sistêmica.
De toda forma, não se pode negar que naquela foto dos anos 30 já havia pelo menos um pequeno sinal premonitório do SUS, embora isso tenha acontecido depois de longo e acidentado percurso.
É claro que as raízes do do SUS vão bem além disso. O nosso atual sistema de saúde, o qual merece nosso carinho e proteção, é também fruto de um movimento intelectual, político e também social (em menor escala), surgido muitos anos depois. Ele certamente bebeu de outras fontes, por exemplo, da formação dos National Health Services do Reino Unido; de outros sistemas de direito universal e responsabilidade estatal, presentes em países socialistas e socialdemocratas em geral; de programas como o dos médicos descalços chineses, que tiveram reflexos em programas brasileiros como o de Agentes Comunitários de Saúde; enfim, de uma potente produção intelectual e empírica, oriunda de diversas culturas sanitárias mundiais.
Acima de tudo, o SUS derivou também do trabalho anônimo de muitos médicos, de outros profissionais e de equipes de saúde, gente que nos interiores e nas capitais do Brasil colocou em prática, desde sempre, (velhas) ideias novas como: trabalho em equipe, foco na atenção primária, responsabilização pela saúde dos cidadãos, educação sanitária, participação e interação com as comunidades, planejamento participativo, sintonia e respeito com a cultura local etc.
E é bom lembrar: curiosamente, se o SUS deve algo aos EUA, nos dias de hoje a situação se inverteu, porque temos um sistema de saúde muito mais aperfeiçoado do que o deles, que é baseado em transações no mercado e não em direitos das pessoas usuárias. O nosso SUS, enfim, embora seja uma solução ainda com problemas, principalmente no financiamento, jamais representaria um problema sem solução.

*Flávio de Andrade Goulart é médico, professor de Medicina na UFU e na UNB, secretário de Saúde em Uberlândia e sobrinho do poeta Carlos Drummond de Andrade

Principe de Gales

Tania Tavare- Prpfessoa – SP

príncipe de Gales :William Arthur Philip Louis, mais conhecido por Príncipe William visitando o Rio de Janeiro e atendendo a todos com simpatia, simplicidade e atenção nos lembra de sua mãe, a Princesa Diana que foi tão carismática. E como diz o ditado popular: “traço que não parece com o dono é roubado”!

Vou permanecer em silêncio…

Marília Alves cunha – Educadora e escritora

“Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão .
(Nicolau Maquiavel)

Todo o Brasil tem conhecimento do enorme, grandioso, vergonhoso roubo que deu-se no INSS, contra velhinhos aposentados e pensionistas e seus miseráveis proventos. Anos e anos de extorsão pura e bruta e só agora, depois da coisa agigantar-se a tal ponto que seria impossível escondê-la, deu-se início às investigações para desvendar a roubalheira, seus protagonistas e seus coadjuvantes. Tudo muito difícil, sempre difícil, quando trata-se de tanto volume de dinheiro, muita gente envolvida numa teia, num emaranhado de empresas criadas para lavar o dinheiro e criar as oportunidades. Uma multidão de gente ocupada exclusivamente em roubar, ajudar a roubar, curtir a vida boa, farta e luxuosa proporcionada pela vida minguada, pobre, doente, mirrada de milhões de velhinhos. Não dá para pôr de lado, não dá para esquecer, mesmo que outros acontecimentos de igual ou maior proporção tomem as manchetes…

Pois bem, a Policia Federal está investigando, mesmo com uma certa reserva. Tem gente importante nadando neste mar umbroso de lama. As duas casas legislativas, Senado e Câmara Federal, houveram por bem investigar o caso, abrindo uma CPMI para que pudessem se entranhar melhor no assunto e cumprir sua função como fiscal do dinheiro público. São mais de 6 bilhões de dinheiro tirado dos bolsos dos velhinhos, sob a “proteção” de uma instituição pública.

Tenho assistido a algumas sessões desta CPMI e, francamente, muitas vezes sinto-me envergonhada e horrorizada com algumas testemunhas e depoentes que comparecem a estas sessões e com a blindagem oferecida a alguns suspeitos de terem participado deste monumental roubo. Elogiável a participação de alguns deputados e senadores com perguntas inteligentes e necessárias, com exposições do assunto que mostram seu conhecimento e o quanto se preocuparam em coletar provas e fatos. Mais que elogiável o trabalho do Presidente e do Relator da CPMI que têm lutado incansavelmente e estudado profundamente todos os detalhes do caso, fazendo um trabalho incessante para demonstrar a verdade. Um trabalho difícil e que tem requerido dos mesmos uma boa dose de inteligência, paciência, estudo e tenaz vontade de esclarecer o roubo e devolver aos velhinhos o que lhes é de direito, inclusive a sua dignidade.

Mas o que a gente vê e causa repugnância é a frequência com que os chamados a depor ou testemunhar usam da expressão “vou permanecer em silêncio”, mesmo estando sob juramento e mesmo sabendo que sua resposta às perguntas desvendaria muito mistério. A gente sabe que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo, devido ao “princípio da não autoincriminação” previsto na CF. Mas, grande parte dos entrevistados têm esquecido o nome de seus próprios patrões, com quem trabalham (ou se apoderam do alheio)por anos e anos. E até dos próprios apelidos que bafejaram seus ouvidos por muito tempo. Misericórdia! Pelos seus rostos de cera não passa a mínima expressão de arrependimento, de vergonha, de pudor. É de um cinismo exasperante…
Bem, para completar, entram em cena os célebres habeas corpus, repressivos ou preventivos, muito usados nas CPMI (até para permitir o não comparecimento do depoente ou testemunha)e que ganha outros contornos quando servem para proteger aqueles que, decididamente, não merecem receber tal instrumento institucionalizado. De repente algum figurão é preso, mas ato contínuo solto pela mão da justiça. Há provas contundentes e irrefutáveis e, creio, servirão para impor a lei, apesar do empenho de alguns governistas no sentido de desandar com a CPMI.

Torcemos muito para que os culpados sejam penalizados devidamente e para que sejam tomadas medidas severas para que este tipo de crime não volte a acontecer. Todo mundo já reparou e sentiu no bolso que nós, o povo, pagamos caro por estes escândalos e estas roubalheiras. E não falo isto apenas pelo prejuízo financeiro. Falo pela vergonha em morar num país conhecido, hoje, mais pelo montante de seus crimes e criminosos, mais conhecido pelos escândalos que rolam em profusão do que por suas belezas e riquezas, seu povo bom e hospitaleiro, afeito à alegria, bom humor e liberdade. Na estatura que tenho hoje, no alto da minha idade, apesar de constatar que o país era afeito a uma certa anarquia e que mensalões e petrolões existiram e nos deram lições, nunca pensei em ver tanta roubalheira perturbando a vida dos velhinhos brasileiros.Putz!

Eleições.

Tania Tavares – Professora – SP

Interessante, de repente o governo federal de Lula resolve fazer obras na Praça dos Três Poderes, e gastos ficam 57% mais caros. Já o sócio sr. Francisco Kertész, do ministro da Secretaria da Comunicação Social, Sidônio Palmeira, conseguiu vencer todos os concorrentes para produzir campanhas publicitárias para a Caixa Econômica Federal, garantindo R$12.000.000,00 em contratos. Pois é, ano eleitoral surgem tantas obras… nem todas para o eleitor!”.