Ana Maria Coelho Carvalho*
Folheando uma revista chamada “Todos”, distribuída por drogarias para auxiliar ONGs diversas, li vários exemplos de pessoas realizando atos de bondade pelo Brasil afora. Por exemplo, a Cristina Harumi, veterinária em Jundiaí, passou um mês no Pantanal socorrendo os animais vítimas das recentes queimadas. A Ivanilde Bandeira, historiadora e indigenista de Porto Velho, enfrenta criminosos ambientais e já morou mais de 20 anos em uma aldeia na Floresta Amazônica. O Diego de Melo, vendedor de frutas em Colombo, PR, mora em uma casa onde, nos fundos, corre o rio Atuba. Impressionado com o volume de lixo que desce pelo rio todos os dias, construiu uma barreira flutuante com 25 galões de 50 litros e já retirou mais de seis toneladas de lixo do rio. A Maria de Fátima Santos, jardineira de Arapiraca, AL, criou um parque ecológico, onde recebe estudantes e público diverso para atividades de Educação Ambiental. Já o Nereu Rios, viveirista de Campo Grande, criou um viveiro de mudas e planta as árvores em ruas, praças e margens dos rios.
Exemplos como esses, de bondade e doação, existem por todo lado e de todo o tipo. Podem ser gestos simples, como palavras de consolo, ouvir o desabafo de alguém, contar uma piada para alguém que está triste. Outros que exigem um pouco mais de esforço, como bordar enxovais para bebês necessitados, confeccionar e doar máscaras contra a Covid, fazer e entregar cestas básicas, cuidar de animais abandonados , auxiliar em creches e asilos, dar aulas de recuperação para crianças carentes, abrigar moradores de rua. Ou contribuir com doações para igrejas, Ongs, hospitais, associações, membros da família. Pessoas por toda parte doando seu trabalho, sua arte, seu dom, seu tempo, seu coração, seu apoio, sua compaixão, seu amor. Como isso é bonito.
Como o caso do Eduardo Kobra, outro exemplo. Ele é paulista e o mais famoso muralista brasileiro. Terminou agora de pintar uma obra de 22 m de altura e 300 m quadrados, no paredão de uma escola pública de Sorocaba, para celebrar a importância da educação. É a imagem de um menino subindo uma escada para apanhar um livro na estante. A subida simboliza o esforço pelo conhecimento e a vitória de cada degrau superado. Mas a obra gigantesca simboliza também a superação do próprio autor, que passou por vários problemas pessoais em 2020: a perda da filha recém nascida, depressão e agravamento do seu quadro de intoxicação por tintas. Foi parar no hospital quatro vezes. Sem poder ir para a rua , está criando os painéis no estúdio e leiloando. Com o dinheiro que arrecada, está auxiliando os moradores de rua, os refugiados e as usinas de oxigênio em Manaus. Ainda fará doações de suas obras ao Instituto Butantan e à Fiocruz, em homenagem às campanhas de vacinação. Uma pessoa tão franzina fazendo tão grandes gestos de amor.
Mas pequenos gestos para ajudar o próximo também são importantes. Como no caso da minha filha Thaís. Ela é dentista em Sacramento, California e se inscreveu para auxiliar na campanha de vacinação contra a Covid. No dia marcado, já chegou esbaforida e atrasada. Vestiu o avental às pressas e antes de começar, a supervisora a chamou. Teria que responder um questionário sobre a vacina da Moderna que estavam aplicando. Ela não sabia nada e respondeu como pode . Aplicou a primeira vacina e a segunda, com todo cuidado. Deu certo, mas teve dificuldades em colocar a agulha da injeção dentro de uma tampinha para descartar. Na terceira vacina apareceu uma mulher corpulenta , nervosa e com medo. Disse que não queria saber de nada sobre a vacina e era para aplicar bem rápido. A Thaís aplicou e, na pressa, colocou mais um pouco de força. Desapareceu o líquido na seringa e a agulha também! Pensou que tinha entrado no braço da senhora. Apertou, apalpou e nada. Procuraram nas roupas e no chão. Veio a supervisora ajudar . A mulher nervosa foi dispensada, sem entender o que ocorreu. Mais algumas agulhadas á frente, desapareceu como por encanto outra agulha. A Thaís, aflita, perguntou se estava acontecendo com outras, mas era só com ela . Na terceira agulha que desapareceu do nada, ela foi pedir explicações para a equipe de apoio. Deveriam estar preparando as seringas de forma incorreta e as agulhas estavam ficando no braço dos vacinados. O pessoal começou a testar várias seringas. Descobriram que se apertasse o êmbolo mais um pouco, depois que o líquido era aplicado, a agulha era puxada para dentro e desaparecia! Era apenas um mecanismo de proteção, para não descartar agulhas, e ninguém sabia. A Thais voltou a trabalhar confiante e feliz de ter desvendado o mistério. E tempos depois, a mesma senhora corpulenta e nervosa a procurou em outra fila de vacinação, para pedir desculpas por estar tão agitada naquele dia.
Bem, estes foram apenas alguns exemplos de atitudes bondosas. Existem milhares. Eu mesma, no momento, ando escrevendo o meu quinto livro de crônicas para editar uns 500 exemplares e dar de presente. Como geralmente as crônicas são leves e divertidas, se despertarem nos leitores ao menos uma boa risada, já terá valido a pena.
*Bióloga – Uberlândia – MG – anacoelhocarvalho@terra.com.br