Gustavo Hoffay*

Tenho a impressão de que ser fiel dessa ou daquela igreja já tornou-se um diferencial para medir, incluir, excluir, afastar, atrair (ou não) alguma pessoa e até mesmo para uma colocação no mercado formal de trabalho. A religião vem tornando-se (novamente e talvez com maior intensidade) em oportunidade de medir-se a capacidade de alguém ser ou não racional, nocivo, trabalhador, inteligente, prestativo, sociável, amável……..Desde criança até à idade adolescente eu não tive conhecimento da existência de mais que três religiões e mesmo porque uma delas é a que fui batizado, abracei e sigo por todo o sempre e as outras duas porque tinham belos e grandes templos próximos à casa dos meus pais. Com o passar dos anos e até a presente data, verifico que são tantas as religiões e seitas em solo brasileiro que chega a ter uma espécie de disputa campal entre algumas delas, ao ponto de cidadãos serem objetos de rivalidade e alvos de assédio constante da parte de seus seguidores, pessoalmente ou por meio de mídias eletrônicas, aí incluída ( é claro) a televisão; sem contar as vezes que somos visitados por fanáticos adeptos de alguma crença, como a uma legião de seguidores captados, cativados, instruídos e ordenados a propagarem a idéia de que o seu “produto” é o melhor a ser “degustado” e que ele, somente ele, tem a resposta para indagações do tipo “ Porque eu vivo? Porque irei morrer? Porque sofro….”? Enfim uma salada de extasiantes movimentos que se chocam, causando uma profusão de mensagens, teorias, impressões e conversões a partir de suas próprias interpretações das sagradas escrituras. A necessidade de respostas para essas indagações vem evidenciando-se cada vez mais e especialmente nessa grave pandemia, quando muitos temem o sofrimento, a perda pelo estímulo de viver e até mesmo o sair de suas próprias casas. É nessa hora que teorias obscurantistas e credos diversos surgem com redobrado vigor, para apresentarem todas as respostas que, imaginam, possam satisfazer todas as nossas dúvidas em relação ao transcendental. Por outro lado a crença na ciência, na filosofia do progresso e do desenvolvimento tecnológico é o que unicamente interessa a muitos que preferem substituir a fé em
Deus. É notório em um momento desse , um retorno espontâneo de grande parte da população às questões relativas a Deus, diante de um ateísmo que tende extirpar a fé de um numero cada vez maior de pessoas, daí o empipocar de seitas e pastores que encontram eco fácil e rápido em meio a uma sociedade sedenta de um pronto-socorro espiritual, necessitada de descobrir um algo mais que a simples materialidade que enxerga ao seu redor e da qual, em vão, procura nutrir-se para saciar a dúvida da sua existência. E é nesse momento, penso, que o charlatanismo para a exploração da credulidade popular surge com todo um aparato para “saciar” os inquietos e insatisfeitos que, até, deixam-se contagiar por magias e superstições. Ora! A visão da finitude deveria levar todos os homens a desejarem superar os seus próprios limites, mas somente voltando-nos para Deus encontraremos a resposta para as nossas demandas sem no entanto deixarmo-nos alienar, enquanto alimentando-nos de fanatismos originados e propagados por grupos de pessoas que dão à nossa fé expressões inadequadas e caricaturais, fazendo que essas procurem em cisternas rotas aquilo de que carece (Jr 2,13) ou batam em portas falsas à procura de resposta para os seus anseios. Equilíbrio é o sentimento do qual mais necessitamos nos dias atuais e ele somente será pleno na graça da fé.

*Agente Social
Uberlândia(MG)