Cesar Vanucci *

“Todos os caminhos estão errados
quando você não sabe aonde quer chegar”.
(William Shakespeare)

• Quarenta milhões de desempregados, minha nossa! PIB descendo a ladeira. Milhares de empresas fechando as portas. Placas de “vende-se” e “aluga-se” afixadas em tudo quanto é prédio, de tudo quanto é cidade, do Oiapoque ao Chuí. A pandemia tem a ver com tudo isso, tá certo. Mas a colossal encrenca social posta diante de nosso olhar aturdido não é provocada tão somente por ela, pandemia.

Alguém, aqui por perto, sabe dizer alguma coisa que soe como alento a respeito de qualquer projeto relevante de desenvolvimento, de inspiração oficial, em marcha acelerada na extensão continental brasileira? Dá para compreender perfeitamente que o silêncio seja a resposta correta para essa incômoda interrogação. A realidade registra que o País anda falto de ideias, de projetos, de arrojo empreendedor nas iniciativas governamentais.

A comparação – reconheçamos – é desconcertante para um bocado de líderes políticos. Por mil e uma razões. Dispensável mencionar uma razão sequer apenas para os bons entendedores daquilo que anda rolando no pedaço brasileiro.

Mas não custa nada recordar – até pra manter acesa a esperança, esse impulso heroico da alma – que antes mesmo de transcorrida a metade do mandato do inesquecível JK, fixando-nos apenas em um dos inumeráveis projetos então tocados país afora, a simbólica Brasília já despontava na paisagem desértica do cerrado como obra administrativa estupenda, inigualável, atraindo para o Brasil admiração e encantamento universal. E olhem que a capital majestosa, antevista profeticamente por Dom Bosco, nascida nas pranchetas de Niemeyer e Lúcio Costa, erguida pela benfazeja obsessão desenvolvimentista do Nonô de Diamantina, com a competente colaboração de Israel Pinheiro e outros compatriotas comprometidos com o progresso e o sentimento nacional, representou um dos incontáveis soberbos projetos abraçados pelo governo visando a construção econômica e o bem estar social!

Os inumeráveis problemas administrativos e políticos confrontados na época encontraram respostas propositivas em realizações a perder de vista. Realizações que contemplaram as mais diversificadas áreas do labor humano, mobilizando o melhor do talento, engenho, criatividade, vontade política de nossa gente. E, também, o melhor dos atributos de liderança, capacidade, inteligência criativa, disposição para diálogo dos dirigentes da Nação. Juscelino Kubitschek de Oliveira comprovou, à saciedade, ser possível, não importa o tamanho da crise, trabalhar com afinco, sem esmorecimento, o tempo todo, em favor da prosperidade social. Os exemplos por ele deixados deveriam tocar mais fundo a sensibilidade de seus sucessores.

Crise não é desculpa para que um País, com as potencialidades e virtualidades de que o Brasil é afortunadamente possuidor, detenha abruptamente sua caminhada em direção ao futuro. Navegar é preciso, lembra o poeta. Mas não se chega ao almejado porto seguro sem que se tenha uma rota previamente traçada. Ao leme, pilotos experientes sabem que é preciso olhar as estrelas para dar rumo ao navio.

Informação derradeira: a história da humanidade assinala que também Franklin Delano Roosevelt acreditava na tese de que as crises podem representar chance excepcional para mobilização da consciência coletiva de uma Nação, tendo em mira o progresso. Os Estados Unidos se tornaram grandiosos no panorama internacional graças a providenciais projetos executados em sua governança. Frentes de trabalho absorveram milhões de cidadãos. O patrocínio e os estímulos oficiais concedidos a empreendimentos de magnitude nos setores públicos e privados concorreram para reduzir os impactos da fervente crise dos anos 20, elevando a índices impressionantes, em médio prazo, as taxas de crescimento do país.

• Tristeza e perplexidade. No rádio do carro, no curto trajeto percorrido, o boletim noticioso narra dois lances do cotidiano, fazendo ouvidas as vozes dos protagonistas e deixando os ouvintes perplexos e entristecidos. No primeiro caso, detido em flagrante delito, na posse de arma de fogo, alguém afirma: -“Não me importa matar ou morrer.” Era um guri de 12 anos.
No outro caso, respondendo à pergunta de um jornalista que não lhe saiu ao agrado, influente personagem exclama: -“Vou cobrir sua cara de porrada”. Era o Presidente da República do Brasil.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)