Antônio Pereira da Silva*

Segundo vários documentos, o Uberlândia Esporte Clube foi criado em 1922, com o nome de Uberabinha Sport Club. Há, entretanto, provas de que, antes desse ano, já existia na cidade um time de futebol com o mesmo nome. Fez sua partida inaugural em 1918 num campo que existia na avenida Cesário Alvim. Um dia falarei sobre esse clube pioneiro; por enquanto, vou ater-me ao esquadrão de 1922.
Havia na cidade um time chamado “Associação Esportiva de Uberabinha”, cujo campo era na atual avenida Afrânio Rodrigues da Cunha, pouco acima da Vila dos Oficiais do Exército, onde também foi um estádio muito tempo depois. Não era no mesmo lugar. Era na chácara do coronel Virgílio Rodrigues da Cunha. Clube formado por elementos ligados ao Partido Republicano Municipal, conhecido popularmente por “cocão”, liderado pelos Rodrigues da Cunha. A Associação era o time representativo da cidade que arrastava multidões para a chácara nos dias de jogo.
As bandas de música eram fundamentais em todo acontecimento social ou político. Impossível uma partida de futebol sem dobrados, marchas, valsas, maxixes, tanguinhos – músicas da época. Uberabinha tinha duas bandas: uma do partido “cocão” e outra do partido “coió” (liderado pelo tenente coronel José Theóphilo Carneiro). Combinou-se, a fim de que a frequência não fosse prejudicada pela cor política, que em cada jogo tocaria uma banda.
Dada, entretanto, a importância de um determinado prélio, Adolfo Fonseca entendeu que, embora fosse a vez da banda dos “coió”, deveria tocar a dos “cocão” (*), que era a famosa União Operária.
Agenor Bino, político e esportista, “coió”, procurou o Adolfinho e exigiu o cumprimento do acordo. Mas o Fonseca respondeu apenas que “o campo é nosso e por isso a banda que vai tocar também será a nossa!”
Indignados, os correligionários do Partido Republicano Mineiro, os “coió”, retiraram-se da praça esportiva e, liderados por Agenor Bino e Gil Alves dos Santos, subiram para os cerrados onde mais tarde seria a Vila Operária.
É preciso que se diga que o futebol, nessa época, era esporte de elite e preconceituoso; nos dias de jogo, iam a campo senhoras e senhoritas bem vestidas e cavalheiros de terno e gravata.
Pois bem, Gil, que era proprietário daquela parte da cidade, mandou que os companheiros escolhessem uma área para construir o campo para o clube que fundariam.
Escolhida a área onde depois foi o Estádio Juca Ribeiro, Gil fez a venda, tida como simbólica, por escritura pública. Os “coió” se ajuntaram em mutirão e derrubaram as árvores rapidamente. Os adversários chamavam o novo time de “arranca toco” por causa dessa providência. Mas, construiu-se o campo e elegeu-se uma diretoria. Curiosamente foi convidado para primeiro Presidente o adversário “cocão” Tito Teixeira, por ser pessoa sem paixões políticas. Era uma forma de mostrar aos “coió” que futebol não deveria ter política no meio. Tito aceitou.
O entrevero não ficou nisso. Houve dissensões internas. Alguns “cocão” não aceitaram o desrespeito dos seus correligionários e afastaram-se da agremiação, entre eles, Ladário Cardoso e Alyrio França.
A pedido do Ladário, Lindolfo França e Alyrio França tinham feito um Hino para a Associação Esportiva sobre letra do dr. Manoel Martins da Costa Cruz. Alyrio, ao se passar para o Uberabinha Sport Club, levou a música e pediu outra letra ao jornalista poeta Nicolau Soares e o Hino mudou de praça. E onde anda esse Hino?
Embora apoiado pelo forte partido “cocão”, a Associação Esportiva não resistiu e acabou desaparecendo. Redimindo-se da deselegância inicial, os diretores “cocão” doaram ao novo time todo o alambrado de peroba (que um dia seria usado pelos araguarinos no famoso “jogo das ripas”), madeiras e traves dos gols.
E assim foi o surgimento oficial do UEC.

(*) – Estou usando “cocão” e “coió” sempre no singular porque o sr. Athayde Ribeiro, velho morado de Uberabinha me contou que o povo, mesmo as pessoas mais cultas, não usavam plural quando se referiam a esses partidos políticos.

*Jornalista