Ivan Santos*

Depois das barulhentas visitas ao cacique Trump, nos Estados Unidos e ao Chile, o presidente Bolsonaro, no final da semana passada envolveu-se numa discussão inesperada sobre velha e nova política com o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia. Isto depois de ter mandado para a Câmara Federal, um polêmico projeto de revisão das aposentadorias dos militares e de ter despencado 15 pontos na avaliação popular positiva, segundo uma pesquisa divulgada pelo Ibope. Mesmo depois de constatado um claro e forte desentendimento entre o presidente, chefe da indefinida “nova política” e centenas de deputados federais, considerados pelo novo cacique nacional como representantes da “velha política”. Ideologias à parte, o que se sabe é que o presidente da República ainda não tem uma base de apoio constituída e firme que o apoie na Câmara Federal nem no Senado da República. Confiar a articulação político-parlamentar ao presidente da Câmara é um engodo monumental. Este não tem obrigação de coordenar a tramitação de projetos de interesse do governo. Esta tarefa é do líder do Governo e dos líderes dos partidos que apoiam o Governo. O presidente da República, que assumiu o mandato há três meses, ainda não sabe com quantos partidos pode contar na Câmara. Assim, o projeto de maior interesse do governo – o da Previdência – ainda não conta com 308 votos para ser aprovado em dois turnos de votação na Câmara. A relação de qualquer governo com o Parlamento, em qualquer democracia do mundo, é política. É uma ilusão o presidente pensar que vai governar com o povo através de redes sociais porque, a menos que seja mudado o regime, as relações do Poder Executivo com o Poder Legislativo são feitas via Congresso Nacional. Democracia direta no Brasil é ilusão ou simples demagogia. O povo só se manifesta nas eleições e delega poderes para os deputados falarem em seu nome. Os senadores recebem a delegação do povo para defenderem os Estados. É assim que manda a nossa Constituição. Para mudar este modelo só rasgando ou mudando a Constituição. O governo só vai começar a caminhar quando o chefe perceber que não poderá governar o País pelo twitter e decidir dialogar com os partidos políticos e com o Congresso. Caso contrário, o País continuará patinando e a economia atolada num brejo imenso.

*Jornalista