Gustavo Hoffay*

Até durante as décadas de sessenta e setenta o Rio de Janeiro merecia, de fato, o título de Cidade Maravilhosa e em quase tudo o que podia-se ver, tocar, sentir e curtir: o fantástico carnaval não apenas na Marquês de Sapucaí, mas também nos bailes de clubes diversos e nos concursos de fantasias que realizavam-se a cada ano no Hotel Glória , O Cristo no alto Corcovado e o próprio Corcovado, o bondinho do Pão de Açúcar e o próprio Pão de Açúcar, o bucólico bairro de Santa Teresa e o seu próprio bonde, o histórico Maracanã e as suas fantásticas e até bem comportadas torcidas, a riqueza e a beleza da arquitetura do Teatro Municipal, os Arcos da Lapa, etc…etc.., sim, tudo era lindo e maravilhoso! E a sua gente, então, super alegre, extrovertida e de bom e envolvente “papo”, calorosa, receptiva e alegre….Tudo isso e muito mais atraia turistas de todos os lugares do Brasil e do mundo. Lembro-me bem que, em 1.975, eu passeava por Copacabana de maneira absolutamente despreocupada quando, de repente, em uma pequena lanchonete,encontrei-me com o compositor e flautista Altamiro Carrilho, com quem conversei descontraidamente e sem importar-me se ao voltar para a casa da minha tia Célia, à rua Djalma Ulrich, em Copacabana, eu pudesse ser vítima de assalto ou sequer de algo pior. No Rio, daquela época, ainda podia-se respirar muito de paz, embora já fossem crescentes as notícias de assaltos e de algumas apreensões de drogas, principalmente maconha. Enchentes originadas de grandes tempestades também ocorriam e arrastavam consigo dezenas de carros, motos e mortos. Em 1.966 foram mais de duzentos e cinqüenta mortos e cinqüenta mil desabrigados em conseqüência de um único temporal! Mas o Rio continuava lindo…..Até hoje as suas belezas naturais encantam a todos que as vêem e sentem e mesmo muitos cariocas não se cansam de ao abrir as janelas de suas casas darem de frente com algumas das suas exuberantes formas naturais. E por falar em formas, é no Rio de Janeiro onde, no Brasil, lindas mulheres desfilam em praias ou mesmo no centro da cidade toda a sua elegante beleza e o seu irresistível charme! Mas o Rio, hoje, não é mais tudo isso. Também lá as tragédias vêm ocorrendo de maneira sistemática e de formas diversas, fazendo embotar os encantos de uma cidade que antes era maravilhosa em tudo. Em um mesmo dia são assassinadas treze pessoas no bucólico Santa Teresa e dez jovens atletas foram mortos por um incêndio de causas ainda desconhecidas no flamenguista “Ninho do Urubu”, enquanto mais e mais pessoas deixam até mesmo de sonhar pois sequer conseguem dormir em função do barulho de tiros e sirenes. Paraíso da Corrupção empresarial e política e somente, ao menos por enquanto, superada pelos escândalos originados em Brasília, a exuberante ex-capital federal e local escolhido por famosos escritores e poetas que ali sentiam-se à vontade em meio a descontraído burburinho, em uma só e recente manhã torna-se origem de uma inundação de terríveis conseqüências. Praia, sol, alegria, arquitetura, belezas naturais e futebol, de repente e desde um longo tempo deixaram de ser sentidos de maneira realmente descontraída.Que me desculpem os cariocas, mas não pretendo retornar ao Rio tão cedo, talvez nunca mais. Posso, um dia, até ser vítima da violência aqui mesmo em Uberlândia (MG), mas não estarei movendo uma única agulha para, ao menos, pensar em alguma possibilidade de retornar às suas belíssimas praias e acariciadas por um mar que já é quase de sangue. O Cristo Redentor, lá do alto, parece mesmo afastado da babilônia tupiniquim e onde não existem tragédias mas um só tragédia, geral e de duração ilimitada, embora a cada novo governo surjam ações a partir de uma policia desaparelhada e movida unicamente pelo ideal de soldados que persistem e insistem. Eles sim, militares heróis esquecidos pelos Três Poderes e colocados sob um regime de trabalho que apenas os deuses do Olímpio, talvez, suportariam.

*Agente Social – Uberlândia