Gustavo Hoffay

Durante quase duas décadas venho contribuindo da forma que posso na reabilitação de dependentes químicos em Uberlândia e fazendo alertas em escolas e empresas diversas a respeito da importância de trabalhos de prevenção ao uso de drogas. Iludido e insistindo em enxugar gelo, eu era absolutamente contra a liberação das drogas para uso geral. Hoje, diante do terrorismo instalado pelo tráfico e todas as suas deletérias consequências e depois de constatar que todo trabalho repressivo da polícia não resulta em algo que possa ao menos diminuir a ação dos criminosos e suas drogas sobre a mente dos nossos adolescentes, não restou-me outra alternativa senão constatar que, de fato, a reincidência ao tráfico de drogas daqueles que já foram presos e condenados em função daquele crime é, indubitavelmente, a prova cabal do total fracasso do Estado na sua tentativa de combater aquelas substâncias e quem faz das mesmas um meio de vida ou de morte! O tráfico mata, aleija, destrói famílias, causa pânico e terror a uma sociedade que luta diariamente pela sua própria sobrevivência e ainda obriga o Estado a cumprir o seu papel protecionista, gastando fortunas por meio de uma legislação que não resolve e que não basta para erradicar um mal que insiste em permanecer. É como investir “milhões” na tentativa de erradicar definitivamente uma doença incurável. É duro, duríssimo, lamentável e doído admitir que há tempos perdemos toda e qualquer batalha que trava-se contra as drogas e os seus agentes; mortes violentas são registradas em ambos os lados de qualquer combate que tem por finalidade a apreensão de drogas e posterior prisão dos envolvidos, além de ter-se conhecimento de aplicação de penas a traficantes que, na realidade, em nada contribuem para a diminuição daquele tipo de crime. Tal e qual ao rabo das lagartixas depois de cortado, o crime de tráfico torna à ativa e ainda mais forte todas as vezes que é combatido, embora ilusoriamente menor e a cada morte de alguma pessoa absolutamente inocente, vítima de balas perdidas ou enquanto refém de quadrilhas diversas e muito bem capacitadas e armadas para seguirem no trato mercantil daquele luvrativo negócio, trazendo ainda mais horror a uma população cada vez mais descrente com a nossa justiça. Enquanto o povo se protege intramuros e procura armar-se de maneira muitas vezes ousada e até inconveniente, traficantes subornam autoridades constituídas e fazem das ações policiais uma forma de se autopromoverem, ao continuar ameaçando e até levando a óbito quem é pago para defender-nos de quem bandeou-se para a criminalidade mantida pelo lucro da produção e comercialização daquelas substâncias, servindo ainda de um grande motivo para alimentar de maneira crescente a audiência e o lucro de grandes redes de televisão que têm em noticiários policiais uma enorme fonte de renda. Hoje em dia, infelizmente, querer dissuadir alguém a deixar de traficar drogas é uma ilusão, principalmente quando se sabe que o lucro do comércio daquelas substâncias garante comissões invejáveis ao melhor vendedor de qualquer outra mercadoria e em qualquer lugar do mundo. Da mesma maneira que algumas seitas religiosas equipam seus “pastores” com carros “último modelo” e garante-lhes uma vida nababesca no intuito único iludirem e convencer que aquela sua religião irá garantir uma vida luxuosa e sem qualquer preocupação financeira aos seus fiéis discípulos e futuros mantenedores de sua igreja, assim também age o tráfico em relação a quem trabalha para iludir terceiros, ao fazer que os seus “soldados” apareçam -via internet- de posse de carros importados, residindo em mansões e curtindo praias e piscinas ao lado de um grupo de lindas mulheres seminuas. Aqui, também, a propaganda é a alma do negócio e o que torna ainda mais atrativa uma vida ao sabor da delinquência enquanto no tráfico das drogas. Quais empresas brasileiras são capazes de oferecer muito dinheiro, luxo e vida regada a prazeres imediatos aos seus empregados, que não aquelas que vendem ilusão a quem não é capaz de conquistar uma vida feliz e saudável por si mesmo, pelos seus esforços e conquistas honrosas? Liberando-se o consumo de drogas e a partir de um comércio controlado por leis e fiscalizado por agentes públicos, ao menos lança-se a expectativa de que o tráfico irá diminuir sensivelmente em função, primeiro, de achar-se a droga de preferência e à venda (mesmo que em pequenas porções) em locais específicos e mediante critérios oficiais pré-estabelecidos. A mera proibição ao uso de drogas, como ocorre em nosso país ( temos que admitir ) apenas diminui ou dificulta a oferta dado a um natural receio de ações policiais, mesmo que isso resulte em medidas que pouco ou nada irão deter o comércio e o consequente consumo de tais substâncias. Oferta aquela que, nos moldes de grandes magazines, tende a seguir padrões de marketing e merchandising convincentes e o que faz elevar ainda mais um comércio clandestino mantido por ameaças, armas e mortes até de pessoas absolutamente inocentes. Ou alguém ainda duvida que o alto índice de assaltos e homicídios tem por finalidade obter-se meios de rápido acesso às drogas? Há que levar-se ainda em consideração que o comércio legal de entorpecentes reduziria muito o valor de acesso aos mesmos, acabando com os altíssimos custos de produção e intermediação que a proibição implica. Isto significa que muita gente que é dependente destas substâncias não teria que roubar ou prostituir-se com o fim de custear o alto preço de tais substâncias. O narcotráfico, sabemos, tem estendido seus tentáculos ao cenário político dos países, sim. A legalização das drogas em nosso país acabaria também com esta nefasta aliança entre o narcotráfico e o poder político, dando fim a uma poderosa rede corruptiva que alimenta parte de quem elegemos na condição de legisladores ( como já ficou evidenciado em ações da Justiça) e faz aumentar a descrença da população quanto à política praticada em nosso país. Ainda há muito o que considerar-se a esse respeito e eu, humilde e vergonhosamente, mais uma vez sinto-me obrigado a registrar que são infrutíferos quaisquer esforços no sentido de proibir-se o uso de drogas em nosso país. Que continuem os trabalhos de prevenção ao uso de drogas, sempre e da maneira que procura-se prevenir a todos contra possíveis incêndios em residências, industrias e comércio em geral. A vida agradece.

*Agente Social Uberlândia-MG