Gustavo Hoffay*

Luiz Inácio suscitava interrogações aos eleitores daquela época; muitos o aceitavam como provável futuro presidente da república, alguns poucos não. Ele seguia garantindo benefícios, nunca vistos ou sentidos pelos mais humildes e que sempre foram formadores do maior grupo eleitoral abaixo da Linha do Equador. Afinal ele já havia deixado marcas profundas, indeléveis durante a sua passagem pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista e onde ele começou e erguer a sua própria lenda, a partir do momento que fez aquela entidade entrar para a história na qualidade de uma das maiores forças que sustentaram a abertura democrática no Brasil dos anos oitenta. Ele foi não apenas mais um operário que reunia outros de sua classe ao seu redor; a eles expunha as suas ideias revolucionárias em um tempo que já anunciava-se propício à participação popular na vida política brasileira. Luís Inácio não tinha títulos, mas aos poucos ganhava mais e mais prestígio, inclusive de renomados escritores, intelectuais, artistas…. Se para a elite social ele era tido como politicamente débil e desprezível, para aqueles da sua classe social ele era um fervoroso agente na luta pela soberania operaria. Dedicava às causas trabalhistas todo o seu folego, mas os tutores da ordem (res)estabelecida o julgavam incapaz, um blasfemo, um fanfarrão, um tagarela, um mero oportunista e até, na opinião do general Golbery Coto e Silva, um inocente útil e dada a facilidade de manipula-lo. Muitos compareciam aos eventos nos quais ele apresentava-se como a um messias e especialmente interessavam-se pelo seu jeito popular de agir, cumprimentar, falar, vestir, beber e até de alimentar-se. Desde então a política tupiniquim já não acontece sem a ativa participação de centenas de milhares de seus asseclas e que usam o nome Lula e a sigla PT como senhas de identificação; sua pessoa e a marca vermelha que deixou continuam a ser cultuados em camisetas, jornais, livros, discursos e filmes. Indubitavelmente a saga desse ex-operário e que já havia sobrevivido à base de farinha, rapadura e queijo e vendido tapioca, amendoim e laranja, inspirou a vida politica de milhares de brasileiros. Seu nome continua salivado por milhares de agonizantes como a um comichão; a sua pessoa suscita em milhões a adesão total às ideias que inspirou ou o ódio radical a outros milhões e até dentro do próprio partido político que fundou. Ora, francamente….Seria Luís Inácio Lula da Silva um bálsamo que cura, espada que fere ou morfina que aliena? A resposta a estas perguntas se impõe a todos os eleitores tupiniquins, diante da perspectiva de que ele consiga – novamente – candidatar-se ao cargo de presidente do Brasil. Com efeito. Se Luís Inácio chegar lá, a vida de cada um de nós irá tomar novos rumo e sentido. Se, porém, for negada a ele uma nova oportunidade de poder subir a rampa do Planalto, toda uma geração de petistas terá sacrificado em vão o melhor da sua vida política e enquanto deixava-se iludir com a oficialização da essência do socialismo em nosso patropi; uma geração que deixou-se sustentar por uma utopia. Verdade é que Lula nunca foi membro de um partido passional, mas ele combina essa índole com impressionante serenidade e que chega a desconsertar seus mais ardorosos adversários. Impressiona-me a confiança que Luís Inácio tem em si mesmo, talvez baseado em sua inquebrantável força de vontade, em sua teimosia. Ele sabe o que quer e está disposto a realiza-lo mesmo ciente de que oscile e tropece sua vida como sindicalista e político. Realmente em toda a história brasileira não se conheceu trajetória política tão decidida, tão constantemente voltada para o poder. Mas Lula, quem diria, caiu; deixou-se deslizar, derrapou em desvios morais originados dos seus criadores e apóstolos, brilhou de forma inconteste no horizonte político e social tupiniquim, mas deixou-se sucumbir ao dínamo de um poderoso estilo de governança socialista que, aos poucos, foi desgastando-se em consequência do tempo e da sua própria fragilidade em mundo convertido ao mercantilismo. Por outro lado, nunca um chefe-de-governo se deixou ocupar com coisas tão comezinhas, por pessoas de caráter tão duvidoso e com interesses incomuns de vantagens pessoais, que não fugiam de honrarias e ainda faziam questão de glorificar-se. Luís Inácio foi um governante que aprofundou como nenhum outro o conceito social; um reformador que, entretanto, deixou-se desmoralizar por muitos da sua própria equipe e por fortes influencias internacionais. A sua história poderia ficar marcada como a de um hábil chefe de governo, a de um arrebatador de massas ou mesmo a de um doente mental obcecado por um projeto mirabolante de Brasil ou a de um político megalomaníaco e mal secundado, que conseguiu seduzir milhões de brasileiros soçobrados e politicamente mal informados. Líder “ilúcido” e “ilusor”, em muito pouco tempo tornou-se aceito e acreditado; contudo Luís Inácio revelou-se facilmente manipulado por forças maiores que aquelas por ele mesmo inicialmente imaginadas. Se ele foi o maior fenômeno político brasileiro, seus discípulos disso aproveitaram-se e ao ponto de converte-lo a uma ferramenta de algo muito mais poderoso que jamais pudesse imaginar e que o deixou refém de uma onda de paixões e de crimes que infestaram a nossa sociedade nos últimos vinte anos. Pudesse Lula restaurar-se moral e espiritualmente e daí emergir acima dos seus instintos, a fim de governar segundo parâmetros de uma escala de valores na qual a verdade, a conduta altruísta, o amor nobre pelo seu país e a justiça fossem referenciais que harmonizassem instintos cegos, seria bem possível que o Brasil viesse a ser bem melhor.

*Agente Social – Uberlândia-MG