Marília Alves cunha – Educadora e escritora
“Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão .
(Nicolau Maquiavel)
Todo o Brasil tem conhecimento do enorme, grandioso, vergonhoso roubo que deu-se no INSS, contra velhinhos aposentados e pensionistas e seus miseráveis proventos. Anos e anos de extorsão pura e bruta e só agora, depois da coisa agigantar-se a tal ponto que seria impossível escondê-la, deu-se início às investigações para desvendar a roubalheira, seus protagonistas e seus coadjuvantes. Tudo muito difícil, sempre difícil, quando trata-se de tanto volume de dinheiro, muita gente envolvida numa teia, num emaranhado de empresas criadas para lavar o dinheiro e criar as oportunidades. Uma multidão de gente ocupada exclusivamente em roubar, ajudar a roubar, curtir a vida boa, farta e luxuosa proporcionada pela vida minguada, pobre, doente, mirrada de milhões de velhinhos. Não dá para pôr de lado, não dá para esquecer, mesmo que outros acontecimentos de igual ou maior proporção tomem as manchetes…
Pois bem, a Policia Federal está investigando, mesmo com uma certa reserva. Tem gente importante nadando neste mar umbroso de lama. As duas casas legislativas, Senado e Câmara Federal, houveram por bem investigar o caso, abrindo uma CPMI para que pudessem se entranhar melhor no assunto e cumprir sua função como fiscal do dinheiro público. São mais de 6 bilhões de dinheiro tirado dos bolsos dos velhinhos, sob a “proteção” de uma instituição pública.
Tenho assistido a algumas sessões desta CPMI e, francamente, muitas vezes sinto-me envergonhada e horrorizada com algumas testemunhas e depoentes que comparecem a estas sessões e com a blindagem oferecida a alguns suspeitos de terem participado deste monumental roubo. Elogiável a participação de alguns deputados e senadores com perguntas inteligentes e necessárias, com exposições do assunto que mostram seu conhecimento e o quanto se preocuparam em coletar provas e fatos. Mais que elogiável o trabalho do Presidente e do Relator da CPMI que têm lutado incansavelmente e estudado profundamente todos os detalhes do caso, fazendo um trabalho incessante para demonstrar a verdade. Um trabalho difícil e que tem requerido dos mesmos uma boa dose de inteligência, paciência, estudo e tenaz vontade de esclarecer o roubo e devolver aos velhinhos o que lhes é de direito, inclusive a sua dignidade.
Mas o que a gente vê e causa repugnância é a frequência com que os chamados a depor ou testemunhar usam da expressão “vou permanecer em silêncio”, mesmo estando sob juramento e mesmo sabendo que sua resposta às perguntas desvendaria muito mistério. A gente sabe que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo, devido ao “princípio da não autoincriminação” previsto na CF. Mas, grande parte dos entrevistados têm esquecido o nome de seus próprios patrões, com quem trabalham (ou se apoderam do alheio)por anos e anos. E até dos próprios apelidos que bafejaram seus ouvidos por muito tempo. Misericórdia! Pelos seus rostos de cera não passa a mínima expressão de arrependimento, de vergonha, de pudor. É de um cinismo exasperante…
Bem, para completar, entram em cena os célebres habeas corpus, repressivos ou preventivos, muito usados nas CPMI (até para permitir o não comparecimento do depoente ou testemunha)e que ganha outros contornos quando servem para proteger aqueles que, decididamente, não merecem receber tal instrumento institucionalizado. De repente algum figurão é preso, mas ato contínuo solto pela mão da justiça. Há provas contundentes e irrefutáveis e, creio, servirão para impor a lei, apesar do empenho de alguns governistas no sentido de desandar com a CPMI.
Torcemos muito para que os culpados sejam penalizados devidamente e para que sejam tomadas medidas severas para que este tipo de crime não volte a acontecer. Todo mundo já reparou e sentiu no bolso que nós, o povo, pagamos caro por estes escândalos e estas roubalheiras. E não falo isto apenas pelo prejuízo financeiro. Falo pela vergonha em morar num país conhecido, hoje, mais pelo montante de seus crimes e criminosos, mais conhecido pelos escândalos que rolam em profusão do que por suas belezas e riquezas, seu povo bom e hospitaleiro, afeito à alegria, bom humor e liberdade. Na estatura que tenho hoje, no alto da minha idade, apesar de constatar que o país era afeito a uma certa anarquia e que mensalões e petrolões existiram e nos deram lições, nunca pensei em ver tanta roubalheira perturbando a vida dos velhinhos brasileiros.Putz!