Antônio Pereira – Jornalista, escritor e historiador

A rapaziada descia a encosta do morro, lá do fim da atual avenida Afrânio Rodrigues da Cunha, chegava até perto da ponte do Marquinho, atravessava uma pinguela no córrego de São Pedro, seguia por uma trilha que ficava entre o rio e o atual campo de futebol e ia nadar no rio Uberabinha num lugar que chamavam de “poço do seu Aladim” porque, do outro lado, à margem da estrada para o Prata, ficava o armazém de Aladim Bernardes. Do lado de cá, a área era de propriedade do sr. Constantino Rodrigues da Cunha.
Um empregado do Banco de Crédito Real, o primeiro a instalar-se na cidade (1919), casou-se com uma das filhas do Constantino e começou a implicar com os nadadores. Não queria que ninguém passasse por sua propriedade. Mandava recados ameaçadores aos nadadores cá na cidade porque os conhecia e não os queria ver por lá.
No lugar onde nadavam, na margem direita, havia uma pequena clareira formando uma praiazinha pedregosa. Como os rapazes achavam que não estavam fazendo nada de errado, continuaram a nadar na “praia”, ou no “seu Aladim” – o que era a mesma coisa.
Não abrindo mão da proibição, o novo proprietário da chácara mandou um ultimatum aos nadadores: se não parassem, jogaria cacos de vidro na “praia”.
José de Oliveira Guimarães, ex-proprietário da conhecida “Casa Guimarães”, na avenida Afonso Pena, foi falar com o homem.
– Nós sempre nadamos aqui. Não fazemos mal a ninguém, não depredamos, não desrespeitamos… seu sogro nunca implicou com a gente.
– Mas eu não quero!
– Então você vende essa parte da beira do rio pra gente.
– Não está à venda.
– Um alqueire.
– Não vendo! Vendo tudo: seis alqueires.
Guimarães voltou disposto a acabar com aquela pendência. Foi atrás dos companheiros. Uns puderam, outros não. Quatorze se cotizaram e compraram a chácara toda. Ia das margens do Uberabinha até o Matadouro Municipal que ficava à margem esquerda do córrego de São Pedro, na rua General Osório, já do lado do Patrimônio.
Não imaginando o quanto o clube cresceria, os sócios separaram uma pequena parte suficiente para passarem e nadarem e venderam o resto.
Quem cuidou de organizar o clube foi o dr. Celso Queiroz. O nome “Praia Clube” foi sugerido em razão da pequena praia original onde havia até há alguns anos uma meia lua cimentada com trampolins para o rio e onde se faziam bailes nas noites encaloradas. Hoje, é quadra de peteca.
José de Oliveira Guimarães acabou comprando quatro cotas porque três dos primitivos sócios não puderam adquirir os títulos emitidos por ocasião da organização do clube. Com o tempo, vendeu três e ficou com a de número 4. Segundo suas informações, a de número 1 seria do dr. Mário Faria.
As primeiras cotas compradas e que deram a condição de fundadores foram as de: José de Oliveira Guimarães, Mário Guimarães Faria, Lourival Borges, Oscar Miranda, Roman Balparda, Enéas de Oliveira Guimarães, Gercino Borges, Boulanger Fonseca, Floramante Garófalo, Hermes Carneiro, Jose Carneiro Jr. e Fausto Savastano.
Entre esses fundadores havia dois estrangeiros; José de Oliveira Guimarães, que era português e Roman Balparda que era uruguaio e trabalhava nas indústrias do Aníbal Saglia (também uruguaio), exportador de vísceras enlatadas. (continua) (Fonte: José de Oliveira Guimarães).