Gustavo Hoffay – Agente Social- Uberlandia- MG
Há certas passagens na vida que nunca desaparecem da nossa memória ou – como diz a minha esposa Eliane – de dentro das nossas retinas espirituais. No meu caso parece que o tempo as aviva sempre mais e a cada vez que elas me vêm à cabeça: a antiga fazenda dos meus pais no Vale do Jequitinhonha e onde morei durante um bom tempo em minha saudosa e feliz infância, o grupo escolar no qual aprendi as minhas primeiras lições, o clube recreativo que eu freqüentava na companhia de alguns dos meus irmãos, os primeiros flertes e paixões, o primeiro emprego….Dia desses satisfiz um acalentado e antigo desejo: em recente viagem à capital mineira, retornei ao colégio onde cursei o ginásio, depois de passados pouco mais de cinqüenta anos sem ao menos passar próximo a ele quando de minhas viagens a passeio àquela capital. Foi uma visita agendada àquele grande e reconhecido educandário dos Irmãos Maristas, religiosos que promovem os valores e a espiritualidade herdados de Marcelino Champagnat, presbítero francês da Sociedade de Maria. Comoveu-me rever as mesmas escadarias por onde eu subia e descia com a extrema destreza e satisfação de um jovem sonhador, o pátio central onde havia uma quadra poliesportiva e que também, à minha época, servia para a realização de eventos culturais diversos…( hoje linda e totalmente modificada). Aproximando-me das salas que freqüentei durante os quatro anos consecutivos do curso ginasial (1970/1973), emocionei-me ao ponto de recordar alguns dos antigos colegas e professores (Silviomar, Kaiser, Claudio, Claudia, Falqueto, Célia, Irmãos Braz e Adalberto entre outros) e do abissal silêncio religioso durante as aulas, quando somente a voz dos mestres era ouvida entre as paredes daquelas espaçosas e arejadas salas. Que dizer, então, dos atropelos nas saídas de aula na ânsia incontida da juventude e tal a uma revoada de canários chilreantes de volta ao ninho; do grande campo de futebol de terra batida e da piscina que freqüentávamos durante algumas das aulas de Educação Física; do grande teatro e em cujo palco atuei como figurante em peça adaptada de uma obra do escritor Jorge Amado; e as salas que abrigavam a diretoria e a secretaria, ao lado da nobre sala de recepção…. Naquela oportunidade pude, de fato, sentir a ronda de espíritos de que freqüentaram aquele majestoso educandário, mestres e alguns discípulos que certamente faleceram ao longo das ultimas cinco décadas. Quem ali lecionou ou aprendeu não sai mais daquele colégio. O grande relógio encimado sobre a quadra central marcou hora a hora, minuto a minuto e com extrema disciplina, o tempo de estudo de dezenas de gerações de estudantes, alertando para a aula que terminava e o conseqüente início da aula seguinte, além do recreio que se abria para reencontros marcados….; festa da juventude! É claro que paredes foram pintadas, carteiras e mesas substituídas; o tempo mudou muita coisa, exigindo necessárias readequações….Mas o tempo não tem alma nem sensibilidade, é um destruidor de belezas, um assassino de agradáveis detalhes passados, um abominável ceifador de tradições. Colégios como aquele não deveriam ser pintados ou remodelados e readaptados desde a sua fundação pois, julgo, devem sempre trazer conservados em cada um dos seus ladrilhos e azulejos, portas e janelas, lições de vida ali entendidas e praticadas. Naquele dia, certamente um dos mais felizes e comoventes de toda a minha vida, senti novamente o convívio com antigos colegas e mestres, me comovi com a sensação de tê-los novamente por perto e até mesmo de ouvi-los, o que causou-me íntimo contentamento e profunda nostalgia. Hoje trago em meu peito um sereno orgulho de ter estudado naquele colégio, o qual marcou profunda e positivamente a minha vida e para o qual sempre terei palavras de carinho e de gratidão. E quis o destino que, algumas décadas depois, eu recebesse um glorioso convite para desenvolver uma palestra em uma extensão daquele educandário nesta cidade de Uberlândia e onde tive a satisfação de ser agraciado, pela sua diretoria, com uma singela recordação e envolvida que foi por uma carinhosa energia. O tempo passa, o tempo voa, mas ficam saudáveis lembranças eternamente gravadas em nossa alma, em nosso coração, em nossa mente. E entendo que não devemos deixar que a correria dos dias atuais impeça-nos de reviver ao menos parte de um passado feliz; penso que devemos buscar, mesmo, as mais singelas recordações como forma das mesmas virem a contribuir como a um virtuoso vínculo entre o que fomos e o que nos tornamos e, também, de recordarmos antigas e saudáveis amizades. Pois é….admito que cheguei naquela fase da vida onde a memória afirma como o nosso caráter foi formado e a nossa identidade construída, principalmente a partir de recordações que acalmam e elevam a nossa alma. E insensibilizados são aqueles que não valorizam ou sequer compreendem o que viveram com ordem e paixão ; por isso, também, sugiro que os jovens dignifiquem o presente para um dia terem a graça de reviver o que serviu-lhes para a construção do seu futuro. Tropeços certamente haverão de surgir em suas respectivas caminhadas, mas que eles sirvam de alerta na condução de suas vidas.
Gustavo, adorei seu texto. Muito bom lembrar a juventude, tempo de muitas alegrias, grandes descobertas e também de inquietações. E grande parte de nossa juventude passamos naqueles magníficos colégios, sempre merecedores de serem relembrados. Como era diferente de hoje…