Antônio Pereira – Jornalista, escritor ehistoriador

Naqueles tempos não havia clubes sociais, os bailes se faziam nas salas de visitas dos palacetes dos coronéis e os encontros festivos familiares eram na beira dos rios e córregos.
Nos fins de semana, as famílias desciam para as suas margens e ali passavam o dia, brincando na água, comendo e bebendo. Eram os piqueniques.
Por isso se pode refluir a história do Praia do Clube para toda a década de vinte, do século passado. Menos perigoso que o rio das Velhas, com a água sempre límpida, piscoso, mais perto, o Uberabinha atraía famílias e grupos de jovens para as suas margens. Eles desciam pela encosta do Fundinho, atravessavam o córrego São Pedro e iam usufruir das delícias do rio, sempre fresco, sempre ensombrado. Era comum senhoras distintas trazerem suas filhas para nadar. Então, todas entravam na água com aqueles vestidões longos que mal deixavam ver seus tornozelos. As primeiras a usarem maiôs foram as senhoras Conceição e Zizi.
Era assim mesmo, pena que as senhoras Oneide Borges Fonseca, Conceição Carneiro, Dorama Marquez, Zizi Carneiro, Censinha Moreira e outras que levavam as meninas para brincar no rio já não possam mais confirmar.
Foi, no entanto, a rapaziada que resolveu criar o clube depois de um desentendimento com o proprietário da área que não queria mais que ali se fizessem piqueniques nem que os moços do comércio lá nadassem. Esses moços e mais uns poucos senhores casados, jovens também, ao fim do expediente desciam diariamente para a natação no Uberabinha.
Nunca é demais citar seus nomes: José de Oliveira Guimarães, Mário Guimarães Faria, Oscar Miranda, Mackis Alvim, Dario José Vieira, Roman Balparda, Enéas de Oliveira Guimarães, Boulanger Fonseca, Floramante Garófalo, os irmãos Hermes, José, Joaquim e Francisco Carneiro, Fausto Savastano, Cícero Macedo, José Quércia, Manoel Moraes, os irmãos Gercino e Lourival Borges, Américo Vaz e outros.
Os compradores da área foram: José Guimarães, Mário Faria, Lourival e Gercino, Oscar, Roman, Enéas, Boulanger, José Carneiro, Hermes e Savastano. Depois o José Guimarães comprou as partes dos Carneiro e do Savastano.
Desses tempos heroicos há que se registrar algumas passagens interessantes: primeiro, durante dez anos o clube permaneceu como propriedade particular. Só em 1945, por sugestão do associado Celso Queiroz, é que a propriedade se transformou em clube de direito, com Estatuto e tudo.
O nome “Praia Clube” foi sugerido pelo fiscal federal José Victor, um apaixonado, capaz de loucuras, pelo futebol, que não ficou muito tempo por aqui. A sugestão nasceu por causa de uma prainha de seixos, em forma de meia lua, que havia onde estão as quadras de peteca descobertas. Os seixos foram tirados e colocada areia do rio das Velhas.
As cores preto e branco foram sugeridas pelo sócio Roman Balparda, uruguaio, torcedor do Peñarol que adota essas cores.
Logo no início, havia um salva-vidas, o Nenê, Manoel Moraes, que possuía um casal de cães, o Príncipe e a Praiana, que, sob suas ordens, mergulhavam dos pontos mais altos do trampolim de madeira que se construiu na prainha.
Pouco depois, o clube adquiriu um ônibus com bancos apenas nos fundos e nas laterais, apelidado de Tereza, que tinha ponto na praça Adolfo Fonseca, em frente à casa comercial do sócio Oscar Miranda. O Tereza fazia muitas viagens; quando ele ia chegando, o pessoal se agitava: “Corre, gente, que lá envém a Tereza!”
Pois é, o tempo passou, muita coisa aconteceu e o Praia Clube virou essa coisa fenomenal que, em matéria de crescimento e beleza, é a própria projeção da cidade. A mera visão de sua proposta de lazer conduz para a alma do usuário uma sensação plena de conforto e de felicidade.