Marília Alves Cunha – Educadora e escritora – Uberlândia – MG

Uberlândia hoje chega aos mais de 700 mil habitantes com um admirável crescimento em vários setores. A administração atual, competente e séria, aliada a um povo visionário e empreendedor e a vocação para o desenvolvimento, são ingredientes importantes para o sucesso da receita. Problemas existem e muitos. Uma cidade deste porte e com tal índice de crescimento, fatalmente pagaria o preço do progresso. No geral, entretanto, observa-se uma cidade mais saneada, mais voltada à educação e cultura, trabalhando com a execução de grande obras que serão, sem dúvida, fatores de máxima importância no aprimoramento da qualidade de vida dos seus moradores.

Uma situação chamou bastante atenção, nas mudanças que houve na cidade: a reformulação do Plano Diretor, no intuito de dar chance a que o comércio possa instalar-se em regiões antes inatingidas pelo setor. As justificativas prendem-se principalmente ao fato de que, nos locais onde não existem pontos comerciais, o dia a dia dos moradores torna-se complicado, pela necessidade do deslocamento para outras regiões da cidade afim de fazer suas compras. E eu completaria, sem medo de ser infeliz: fica claro o atendimento a interesses econômicos, motivação forte a impelir esta reformulação, muito mais fortes que os interesses dos moradores.

Há que se ter cuidado no planejamento de determinadas mudanças. Existem cidadãos em Uberlândia que compraram seus terrenos em bairros “estritamente” residenciais , assim identificados no Plano Diretor e por isso mesmo muito valorizados. Construíram suas casas dentro de normas rígidas e específicas: proibida a construção de prédios no bairro, os passeios devem ser ajardinados e com tal metragem, o afastamento das casas deve observar tal medida e outras tantas imposições que a norma erigiu e que foram devidamente respeitadas, muitas vezes com prejuízo para as próprias construções. Para que? Para que o bairro fosse estritamente residencial, para que o verde sobressaísse, para que vicejassem no local a paz, o silêncio, a tranqüilidade. As pessoas optaram por morar afastadas do tumulto da cidade, com mais privacidade e para isto pagaram um preço alto. Não podem ver, de repente, o desmonte de seus planos e de seu investimento. As mudanças de regra, depois do jogo começado, carecem de muito bom senso e análise. Há direitos adquiridos que estão acima dos interesses econômicos de alguns e não podem ser agredidos. Vemos prédios enormes crescendo nestas regiões, uma agressão ao sossego e tranquilidade que os moradores procuravam ao construir suas casas, uma agressão à privacidade que foi desmantelada, com prédios altos olhando para dentro de suas residências.

Nesta linda cidade, infelizmente, algumas coisas extrapolam todos os limites. Praças são tomadas por bares e botecos, calçadas viram extensão de restaurantes, obrigando-nos muitas vezes a transitar pela rua, desde que os passeios tornaram-se propriedade dos comerciantes. Em alguns lugares o barulho e a baderna são infernais. As altas madrugadas transformam-se em martírio para muitos que são obrigados a pagar, com noites insones ou mal dormidas e com a perda da qualidade de vida, o desrespeito ao próximo, a falta de educação e de civilidade de alguns.

Não basta a uma cidade crescer vertiginosamente e alcançar altos patamares no mundo da economia. Há que crescer também na qualidade de vida de seus moradores e no respeito aos direitos dos seus cidadãos.