A liberação do uso de drogas ( ao contrário de uma proibição geradora de preconceitos e perseguições morais, familiares, sociais, policiais e não poucas vezes seguidas de tiroteios, caos generalizado em comunidades diversas e outros tormentos que, ainda, servem de fomento ao tráfico de drogas entorpecentes e estupefacientes) , já é algo tratado muito a sério por alguns reconhecidos juristas e políticos de todo o país embora, há tempos, a grande e quase esmagadora maioria da população brasileira continue posicionando-se absolutamente contrária a um arrebatado e imediato gozo resultante de um consumo daquelas substâncias em caráter popular, independente, espontâneo e democrático e enquanto alegando seus particulares e respeitosos pontos de vista, instruída de todos os traumas decorrentes de tão lamentável prática, tanto a nível pessoal quanto social e profissional, considerando-se também que as drogas podem gerar o surgimento e o desenvolvimento de doenças não curáveis (porém tratáveis) como, por exemplo, o Câncer e a Dependência Química, além distúrbios mentais e comportamentais. Enfim, um antigo problema que aos poucos vem transformando-se numa das maiores pragas já surgidas em todo o mundo. E, sinceramente, hoje penso, a saída desse labirinto povoado por neuras assustadiças e arrepiantes é por uma porta muito estreita, além de trabalhosa de ser alcançada, principalmente se o sujeito não estiver imbuído de um forte desejo e contar com o auxilio de pessoas que sirvam-lhe de apoio e incentivo; um labirinto nebuloso criado pela natureza, muitas vezes manipulado e clandestina e sinteticamente produzido por criaturas que visam unicamente um lucro derivado de suas mentes transtornadas, conflituosas, visando o consumo a partir de pessoas de todas as faixas etárias e camadas sociais. Certo é que as drogas já assumiram o seu lugar e o seu status na sociedade mundial, venceram e continuam vencendo tudo e todos que lutavam e ainda insistem em lutar contra os seus poderes (incluindo-se aí todo um exército de produtores , apontadores, municiadores, distribuidores e uma eficaz parafernália laboratorial ), até mesmo em alguns dos mais avançados países de todo o mundo. E não adianta, sob o meu particular ponto de vista, aumentar-se ainda mais os graúdos investimentos governamentais, no sentido de combater aquelas substâncias e todos aqueles que fazem das mesmas um dos mais rentáveis meios de multiplicar milionárias quantias em Euro, ouro e Dólar. O mundo inteiro já falhou e ainda falha em operações que envolvem milhares de homens das forças armadas e policiais das mais diversas áreas; estrategistas e especialistas de vários setores conseguem alguns fragmentados êxitos no combate a um enorme grupo de indivíduos envolvidos, direta e indiretamente, com todo um processo que vai desde o cultivo ou produção sintética de drogas, transporte, distribuição e venda até a quem passa por aluno em escolas do ensino médio com a missão de capturar novos e potenciais clientes. Talvez o termo correto não seja “liberação” (das drogas) mas, sim, uma legislação baseada numa regulamentação passível de ser bem administrada e na exclusão de algumas sanções que, hoje, servem apenas para anular ainda mais um usuário recuperável e deixá-lo indelevelmente marcado pelo resto da sua vida. Sim, uma legalização que conduziria a uma conseqüente descriminalização e sem censura de natureza penal; em outras palavras, deixar de tratar o uso ocasional e habitual como a um ato criminoso, cruel e deplorável e tratar os usuários compulsivos e dependentes na condição de enfermos sujeitos a tratamentos multidisciplinares, desde que oficialmente reconhecidos. Por outro lado e no sentido de prevenir-se o uso de drogas, ainda não descobriu-se meio melhor que a família e onde deve prevalecer a responsabilidade dos pais ou responsáveis na reta criação dos seus filhos, ante o mal do século que avança despudoradamente e como a uma das maiores pragas já surgidas no mundo contemporâneo: o narcotráfico. Esse, gerador do “vírus” de uma dependência que traz em seu bojo tormentos cruéis para os usuários dependentes e suas famílias (co-dependentes); um “vírus” raivoso, vigoroso, resistente, insubmisso porém evitável. Alertar grupos de risco a respeito do consumo de drogas licitas e ilícitas é uma ação que deve ser contínua, inspiradora, motivadora e adequada à idade e ao meio social de jovens e pais que ainda deixam-se limitar a meras advertências de cunho político, ao contrário de consultarem-se preventivamente com especialistas nas áreas da psicologia e da medicina. Enquanto lidei por mais de duas décadas com dependentes e co-dependentes químicos (usuários e seus familiares) em tratamento, eu usava 80% de emotividade para mostrar-lhes o quanto deveriam colocar toda a sua energia para reerguerem-se na direção de uma vida saudável-longe das drogas; hoje, afastado daquela lida, analiso a Dependência Química sob o prisma da razão e em torno da qual espero, sinceramente, que familiares e a Justiça caminhem irmanadas no sentido de se adaptarem a uma nova e traumática realidade imposta pelas drogas;uma caminhada exigente porém extremamente necessária. Aos pais, que sejam realmente pais; aos jovens, que saibam viver e conviver sem qualquer necessidade de usarem de máscaras que absorvem o seu caráter e manipulam a sua personalidade até verem castrados os seus mais nobres ideais. E que aumente-se os trabalhos e campanhas preventivos, principalmente nas escolas de Ensino Fundamental e de forma que os jovens sadiamente adaptem-se a uma liberação do uso daquelas substâncias, o que seria fundamental para uma conseqüente diminuição do tráfico e, por conseqüência, de uma infinidade de mazelas dele correntes. Insistir com a proibição ao uso serviria, ainda, para a obtenção de dividendos políticos por parte de agentes legislativos inescrupulosos e renda, muita renda, para algumas comunidades terapêuticas religiosas que ainda usam de estratégias para captar fiéis e formar novos pastores para atuarem em seus cultos e missões divinos. Liberar o uso de drogas não seria banalizar o uso dessas substâncias, mas mantê-las sob o controle do Estado e o qual, ainda, iria auferir impostos sobre a produção e a comercialização das mesmas e de forma a destinar parte da arrecadação para a prevenção do uso das mesmas e para a reabilitação de drogados e alcoólatras, da forma que vem sendo praticado com sucesso em alguns países que já adotaram essa política . Concluo esse meu ponto de vista com uma frase de Immanuel Kant: -“O homem é aquilo que a educação faz dele”. Se continuarmos proibindo o uso de drogas e punindo quem as consome, então é porque falhamos na educação dos nossos filhos!

*Gustavo Hoffay
Ex-diretor da Fundação Giuseppina Saitta
Ex-presidente do Conselho Deliberativo da Fundação Frei Antonino Puglisi
Ex-diretor do Conselho Municipal Antidrogas
Palestrante, Fundador e Diretor do Grupo de Prevenção ao Uso de Drogas “Palavra-Vida”