Marília Alves Cunha – Educadora e escritora – Uberlandia – MG
Encontrei-me por acaso com a colega que há tempos não via. Como sempre acontece em encontros inesperados, repetiu-se uma efusão de abraços e beijos afetuosos e exclamações costumeiras: ”Você está ótima!” –“Continua a mesma, não mudou nada!” Graças! Nenhuma cometeu o impropério de lembrar o adjetivo “conservada”. A palavra lembra substâncias que se guardam em líquidos e dá uma ideia, por paradoxal que seja, de coisa que já perdeu o viço, o brilho e o sabor natural.
O meu espírito observador esquadrinhou o aspecto da colega: alguma coisa nela estava diferente. Algo a fazia mais bonita e no alto de sua idade a beleza transparecia no olhar brilhante e transparente, na forma como agitava as mãos a afagar os cabelos meio grisalhos, na boca que se abria em sorriso fácil. Um ar jovial acompanhava todos os gestos, denotando alegria de viver, animação, como se um encantamento a possuísse e arrebatasse. Um encantamento que levava prá bem longe a figura sem graça e sem cor que eu descreveria algum tempo atrás. Pensei comigo mesma: É a viuvez! O tinhoso lustra as viúvas. Principalmente aquelas que não guardam um grande arsenal de melhores recordações do convívio com o falecido.
De repente explodiu a confissão: o amor era o senhor da transformação. Estava namorando, confessou. Estava completamente apaixonada. Nunca se sentira assim, uma adolescente retardatária cheia de planos e sonhos que julgara mortos. Redescoberto o prazer de estar nos braços de alguém e abraçar, beijar, entregar seu corpo às carícias, deixar a energia fluir no estranho e avassalador mistério do prazer.
O amor transforma, não importa em que época chegue. Trás recompensas maravilhosas que valem o preço de uma decepção, uma mágoa, desenganos e frustrações. Repetindo Pablo Neruda:” O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido”! O amor, cantado e decantado pelos poetas é tão complexo e tão simples e ingênuo, assim, como entendeu Chico Buarque: “Gravei seu nome com as letras da paixão, fiz tatuagens de amor no coração!”
Bem, desperto deste enlevo e lembro que precisamos resgatar todos os planos para depois de 2023, que afinal de contas o mundo não vai acabar como foi previsto anos atrás. O tal calendário Maia que supostamente fazia a predição, não passou de uma interpretação errônea. E entre estes planos ofereça um lugar à paixão. Apaixone-se por uma pessoa, ou pelas mesmas pessoas que estão a seu lado, reacendendo sentimentos que pararam de crepitar… Apaixone-se por uma ideia, uma causa, pela natureza, pelos animais, pela literatura, pela música, pela dança, por qualquer coisa que enseje mais felicidade, que transforme sua vida, que a faça mais bonita.
Dia desses encontrei de novo a colega e o companheiro apaixonado. De mãos dadas entraram no salão. Ao som da música lenta dançaram agarradinhos, olharam-se e sussurraram, creio, coisinhas de amor. Não importa o tempo, os cabelos grisalhos, as rugas “que devem indicar apenas onde os sorrisos estiveram”. Importam sim o ser romântico e amoroso que cabe bem em qualquer idade, o gostar de viver e fruir as delícias que a vida pode nos oferecer.
É isto que desejo para todos em 2024. Apaixonem-se por algo ou por alguém. E que sejamos felizes!
Obs. Tive a intenção de escrever sobre a Conferência Nacional de Educação (CONAE) realizada há poucos dias atrás. Tentei, com base em alguns discursos que ouvi durante a mesma. Tentei, procurando no Google alguma coisa que pudesse sustentar um texto. Nada achei. O tema era o plano nacional de educação 2024-2034 –Política de Estado para garantia da educação como direito humano com justiça social e desenvolvimento sócio ambiental sustentável. Tudo aprovado, conforme foi exposto na Conferência realizada. Pelo pouco que vi, temo muito que o nossa sistematizado ensino/aprendizagem formal, parte importante da educação, continue a fugir de suas verdadeiras finalidades e continuemos a ocupar os últimos lugares em qualquer avaliação que se faça no mundo. Hoje me dedico a esquecer um pouco a política e escrever sobre coisas de amor… Voltaremos em breve ao assunto educação.