Gustavo Hoffay – Agente Social – Uberlândia (MG)

Uma única palavra, sim, apenas uma, define todos os serviços oferecidos pelo Hospital do Câncer em Uberlândia: Amor! Ali pessoas voluntariosas se misturam a dedicados profissionais da saúde, gente simples que não se interroga, não se contempla, não se julga. Elas todas são o que são, simplesmente, fazem por amor o que lhes é indicado a fazer e não vêem nisso motivo para discursos ou comentários. Ali, naquele hospital, voluntários que fazem do seu trabalho de algumas poucas horas semanais uma doação de pequenos gestos, sorrisos e palavras de esperança, são como passarinhos de nossas florestas, leves e discretos mesmo quando cantam; são pessoas reduzidas à sua expressão mais simples enquanto cantam o amor à vida, sem sentimentos de gloria, modestos em suas virtudes que encantam, seres transparentes e raros; que fazem da sua dedicação à saúde dos enfermos um trabalho sem frases, sem exageros, sem eloqüência nem esnobismo. E isso não impede de serem simplesmente o que são, sem nenhuma falta, sem nenhuma pretensão, muitas vezes desprendidos de si mesmos enquanto acolhendo com muito amor aquele que vem, sem outra riqueza senão tudo o que podem oferecer em favor de quem precisa da sua atenção, do seu amor ágape. Ali aqueles voluntários e todo o corpo médico, enfermeiras, técnicos e todo o pessoal de apoio administrativo e operacional, dos mais humildes aos mais graduados, acolhem fazendo o bem e o melhor que podem por aqueles que ali procuram oportunidades de reflorescerem para uma nova e saudável vida; ali trabalha-se com a simplicidade de uma nudez, despojando-se de orgulho e soberba, sem qualquer tesouro senão a bonança e a solidariedade; ali simplicidade é entrega, liberdade e leveza e a esperança é como a uma janela aberta para o grande sopro do mundo, para a infinita e silenciosa presença de tudo o que há de mais positivo em prol daqueles que almejam abraçar cada vez mais e com maior enlevo a própria vida, com o auxilio de dedicadas pessoas que têm transparência no olhar e no trato, pureza no coração, sinceridade nas palavras e gestos e retidão na alma e no comportamento, alegria e simplicidade espontâneas. Ali, entre voluntários e funcionários, a simplicidade no eficaz atendimento ao próximo é esquecimento de si mesmo, é quietude contra naturais inquietudes, alegria sincera de servir contra um pouco de agonia, amor contra inquietude, esperança contra descrença. Eu nunca terminaria de avaliar muito positivamente os serviços prestados pelo Hospital do Câncer, onde a misericórdia faz as vezes de simplicidade ou a simplicidade as vezes de misericórdia. Ali voluntários e funcionários seguem o seu caminho de luz com o coração leve, a alma em paz e transmitindo otimismo, nada têm a buscar, pois para eles tudo está ali. Pergunto: há algo mais leve que servir com amor? Essa é a virtude dos sábios e a sabedoria dos santos. Juro desconhecer sequer uma pessoa que goste de ser alvo de compaixão ou mesmo de sentir compaixão por alguém, muito embora o contrário desse sentimento sejam indiferença, frieza, insensibilidade….Ora, então a compaixão é um sentimento de amor! Acho isso curioso e quanto mais ao lembrar que meu grande amigo Santino ( Frei Antonino Puglisi), doutor em letras e ex-professor por mais de duas décadas na UFU; ele costumava dizer que o duplo etimológico de compaixão é simpatia, que diz em grego exatamente o que compaixão diz em latim. Se a simpatia desempenha um papel tão importante na vida das pessoas, porque a compaixão às vezes é mal vista? Pela minha experiência de vida e depois de vinte anos no auxilio a pessoas em tratamento de uma doença de fundo psicológico e hoje prestando serviços voluntários no Hospital do Câncer, penso que a compaixão seja sim uma virtude! A participação efetiva nos sentimentos do outro é ser simpático e a compaixão que ali eu sinto é a participação, mesmo que pouco tempo, dos sentimentos de um enfermo. Tenho total consciência de que posso aliviar os outros de suas penas, sendo apenas receptivo e tratando pacientes não com piedade, mas agindo com amor e generosidade, deixando-me levar pela razão do momento. No trabalho voluntário de dedicadas pessoas naquele hospital e enquanto sob a supervisão de leais e aplicados profissionais ali empregados, tenho certeza que uma boa acolhida, um amor sem tristeza e uma generosidade serena são também remédios eficazes. E a compaixão é positiva, é menos tristeza que solicitude, menos paixão que paciência. Ali a compaixão que nós voluntários sentimos é um amor que regozija com a esperança de um enfermo afortunado por encontrar naquele espaço a sabedoria, a dedicação e o amor alegre e espontâneo dos atendentes e profissionais da saúde; ali, naquele centro de esperança e rejuvenescimento singular, sente-se no ar, no olhar e no tratar, atitudes de proximidade fraterna, de respeito, de disponibilidade no auxilio, de simpatia e total solidariedade. Cada um que se entrega àquela divina causa, faz o que pode de acordo com os seus meios e muito de generosidade enquanto desenvolvem em si a capacidade de amor ao próximo. Ali não se faz caridade, pratica-se a compaixão para levar ânimo e alegria para quem tem sede de vida. Hoje procuro entender esses meus sentimentos com maior determinação, pois também já fui um feliz paciente daquela entidade e pude sentir a importância dos serviços ali prestados e motivadores que são de esperança para um recomeço de vida . “Ama e faz o que queres” ou “ compadece-te e faz o que deves”.