Marília Alves Cunha – Educadora e escritora – Uberlândia – MG

JURO! Nunca pensei que fosse ficar com tanta saudade do ilustre parlamentar Ulysses Guimarães que, em tempos imemoriais, comemorou em discurso histórico a promulgação da Constituição Federal de 1988. Suas palavras, ditas naquele momento, dão a exata noção da dimensão e da importância que a Carta Magna, lei das leis, representa para uma nação. Reproduzo aqui alguns trechos que merecem sempre a nossa lembrança. Não apenas pelas palavras bonitas de quem tinha o dom de emití-las, mas pela perpétua memória de um tempo em que o anseio era a liberdade, conquistada a duras penas :
“A persistência da Constituição Federal é a sobrevivência da democracia. Quando após tantos anos de luta e sacrifícios promulgamos o estatuto do homem, da liberdade e da democracia, bradamos por imposição de sua honra: temos ódio à ditadura. Ódio e nojo. Amaldiçoamos a tirania onde quer que ela desgrace homens e nações, principalmente na América latina”.
“A Constituição não é perfeita. Ela própria confessa a admitir a reforma. Quanto a ela, discordar sim. Divergir sim. Afrontá-la nunca!”

Quando rememoro as palavras emocionadas do doutor Ulysses, sinto que aos poucos o sentido de liberdade e democracia se perdem nos desvãos do tempo que hoje são outros, muito outros… O tempo de liberdade no Brasil será sepultado? Estarão brasileiros sendo punidos, apenas por usar o seu direito à liberdade de expressão, ainda fortemente impressa na CF? Não sei! Tirem suas próprias conclusões lendo parte de uma fala proferida pelo Exmo. Sr.Flávio Dino, Ministro da Justiça:

“ Não são os senhores que interpretam as leis no Brasil, não são, não serão. Eu sei que os senhores sabem disto e eu me refiro a todas as plataformas. Este tempo de auto regulação, de ausência de regulação, da liberdade de expressão como valor absoluto que é uma fraude, que é uma falcatrua, este tempo acabou no Brasil, acabou, foi sepultado.
Tenham clareza disto, clareza definitiva disto. Se os senhores não derem respostas que nós considerarmos como compatíveis ao Estado, nós tomaremos as providências que a lei determina. Isto os senhores viveram no processo eleitoral de 22 no Brasil. Anotem isto como referência. É o que nós faremos com os senhores, tenham clareza disto.
Vamos fazer todos os dias, até que cheguemos a um ponto que os senhores e senhoras consigam se adequar a uma premência.”

Putz! Depois de falas tão importantes, acho melhor fazer uma retirada estratégica, pois tenho assuntos menos importantes a tratar neste momento. Leiam e pensem. Ler e pensar, se não me engano, ainda não foram tornados proibitivos…