Gustavo Hoffay- Agente Social – Uberlândia-MG

Ligamos a TV e logo somos enxovalhados por notícias que prestam conta da vida alheia, de lucros empresariais, doenças e exposições de animais diversos, apresentações de cantores e cantoras emergentes e fastidiosos, receitas culinárias e outros assuntos ainda menos cotados entre um público ávido por formação e não por deformação ou mero cultivo de pieguices travestidas em formato de notícias de interesse público, sem contarmos que famílias inteiras e situadas em todos os rincões tupiniquins tornaram-se adoradores de novelas e programas que, sabemos, desagregam o íntimo de nossas mais profundas raízes culturais. Enquanto por um lado está unicamente o objetivo mercantil das emissoras, por outro estão telespectadores indefesos em busca de notícias de interesse comum – com qualidade e responsabilidade. Ao passo que pais de família esforçam-se para educar, manter e defender as suas respectivas crias em um mundo cada vez mais desafiante, repleto de acirradas lutas por maior domínio de mercado entre grandes organizações, assiste-se no dito horário nobre da TV que a esposa do presidente não gosta da cama onde se deita no Palácio da Alvorada e omite-se informações de que o Brasil caminha a passos largos para tornar-se uma nação economicamente independente e já rico em programas sociais de profundo e largo alcance, a partir de algumas muito competentes Organizações Não Governamentais que, diariamente, entregam-se a uma divina labuta diária para oferecer o que o governo não observa ou coloca dificuldades diversas para levar adiante e, daí, satisfazer parte ou um todo daquilo que é ansiosamente aguardado por um povo que geme, grita , reclama, implora por soluções justas e dinâmicas para as suas aspirações e por mais modestas que sejam …..! Se alguém, por exemplo, indagar a algum distraído telespectador, qual a mais recente atitude do governo quanto a uma solução definitiva para os horrores da Cracolândia em São Paulo, é bem possível que terá como resposta a exterminação daqueles farrapos humanos, hoje expostos à execração pública ou – no mínimo – a remoção de todos eles para algum lugar bem distante da imensidão amazônica ou, ainda, para alguma remota ilha no Atlântico Sul, em razão da freqüência com que são exibidos noticiários a respeito daqueles dependentes químicos, ao contrário de serem apresentados programas que gerem sadias discussões àquele respeito. Em nossa Uberlândia, mesmo, o atendimento à saúde pública colapsou e o que se assiste nos noticiários locais de TV, com raras exceções, são autoridades discursando àquele respeito em reuniões bocejantes e freqüentadas por servidores públicos, convocados que são de ultima hora para servirem de figurantes diante das câmeras de emissoras diversas que, naquelas ocasiões, são convidadas a testemunhar e divulgar tais eventos para o grande público….eleitor. A semiologia do “rictus” em discursos oficiais reclama mais atenção de quem está disposto a ouvi-los. Aos poucos vamos, felizmente, dando conta de interesses em jogo também na mídia televisiva, de como procuram se articular da melhor maneira possível e de modo a defender interesses que nem sempre são da população em geral. Têm-se a impressão de que questões de suma importância são absorvidas por vulgaridades e outros assunto que escapam à função do legítimo jornalismo, o que leva a crer que os noticiários de uma ou outra emissora de TV são pontuados por uma só pessoa e com um único interesse. E nesse ponto eu lembro, aqui, uma famosa frase do saudoso sociólogo Herbert de Souza, o Betinho: “…como se fosse um oligopólio de temas onde os valores (preços) das notícias são previamente combinados”! E viva o controle remoto!