Marília Alves Cunha*

Certa vez Pedro Malan, que foi Ministro da Fazenda de
Fernando H. Veloso e Presidente do Banco Central no governo
Itamar Franco, disse com muita propriedade: “Aqui no Brasil
até o passado é imprevisível”. Mesmo com a chegada da
Internet, que sempre deixa rastros e com milhões de
celulares e microfones gravando tudo o que veem pela
frente, ainda assim há fortíssimas tentativas de enterrar o
passado, se este não agrada a alguns.

Houve um tempo em que era fácil fazer o enterro. No dia
10/05/1933, em várias cidades alemãs ocupadas pelos
nazistas, queimaram-se livros em praça pública. Grandes
obras e grande parte da história, infelizmente, foram
perdidas. Stalin, em sua paranoia criminosa, conseguia
apagar, de fotos originais, inimigos reais ou imaginários.
A tentação de apagar o passado não larga cabeças com
“déficit” de liberdade.

O caso de Lula e da corrupção que envolveu este país é
emblemático. Quem não nasceu ontem, lembra-se perfeitamente
do forte impacto das descobertas e ações da Lava jato na
nossa política e até no exterior. Foi um momento de euforia
para a nação brasileira, que pressentia claramente que algo
estava podre no reino Brasil, mas necessário era que se
provasse com robustez o apodrecimento. O trabalho
incessante, sério e honesto de Sérgio Moro, Deltan
Dallagnol, Policia federal e Juízes de instâncias
superiores desmontou peça a peça o que seria considerado a
maior corrupção sistêmica já vista no Brasil, quiçá no
mundo. Em pequeno plano, as palavras do Ministro Barroso
ditas em velhos e saudosos tempos, falam muito da
enormidade e profundidade deste trabalho. Estão perenemente
gravadas na nossa história, assim como muitos outros
importantes acontecimentos:

“O que aconteceu na Petrobrás foi crime mesmo, não foi
política. O que aconteceu na Eletrobrás foi crime mesmo. O
que aconteceu na Caixa Econômica Federal foi crime mesmo. O
que aconteceu nos Créditos consignados foi crime mesmo. O
que aconteceu nos Fundos de Pensão foi crime mesmo.
Portanto, a gente não deve criminalizar a política, nem
politizar o crime. Desvio de dinheiro, gerente devolvendo
150, 180 milhões de reais, não é possível alguém achar isto
natural. Isto não é política, isto é bandidagem.”

Bem, infelizmente o tempo passou e os que foram condenados
e sua militância, imiscuídos em tudo que pudesse facilitar
e beneficiar os criminosos promoveram uma mudança de rumo
que nunca se poderia prever. E continuam tentando mudar o
rumo da história. O Ministro do STF se propôs a fazer a
revisão histórica e afirmou que a prisão do Lula, em 2018,
pode ter sido um dos maiores erros judiciários da história
da política. E começou mal, anulando o acordo de leniência
da Odebrecht. De acordo com juristas famosos esta anulação,
sem pé nem cabeça, pode trazer consequências imprevisíveis
e trágicas para o nosso país e o nosso povo. Saudade bate
no coração, saudade dos tempos em que os ministros do STF
tinham na defesa da Constituição o mote do seu trabalho e
não emitiam opiniões, principalmente políticas, falando
apenas nos autos dos processos.

Bem, mudando de assunto, mas nem tanto, pois tudo se aninha
no pacote do atual governo, onde falta povo e a democracia
custa a respirar, falemos de uma, em meio a muitas
“pérolas” do presidente Lula. Na opinião do excelentíssimo
senhor os votos dos ministros do STF deveriam ser secretos
(já não basta serem monocráticos). O povo não deveria tomar
conhecimento destes votos. Para que? Para que os ministros
ficassem antipatizados? Só faltava esta para engrossar o
rol de besteiras que têm preenchido os nosso dias e que
saem da boca de presidente, ministros executivos e até da
1ª.dama. Pelo que se observa, Lula não tem conhecimento de
princípios da nossa CF. Seria prudente que ele lesse o
caput do artigo.37.

O Ministro Marco Aurélio Mello criticou com veemência a
controversa declaração do presidente, quanto ao voto
secreto dos ministros do STF, para ele uma retórica
inconcebível:
“A publicidade é em essência um desinfetante. Ela ilumina o
caminho, aponta para um futuro mais promissor e
transparente. Não há espaços para mistérios no judiciário.
Retornar à práticas obscuras seria como regredir à época
das cavernas. É imperativo lembrar que os ministros do STF,
assim como qualquer homem público, devem satisfações à
sociedade”
O ministro Celso de Melo, também aposentado, enfatizou a
transparência garantida na CF, mencionando que a mesma não
privilegia o sigilo.
José Nêumanne Pinto, jornalista e escritor, opositor feroz
de Bolsonaro, foi mais curto e grosso: “Isto é coisa de
ditadura, seu Lula”.

Não vamos comentar o 7 de setembro. As imagens são fortes e
falaram mais alto. Mas não deixei de notar algumas coisas,
entre elas uma que me chamou a atenção: até a faixa
presidencial parecia desconfortável envolvendo o peito do
presidente. Larga demais? Muito apertada, sem cair com
leveza e naturalidade? Sei lá! Dava a ligeira impressão que
estava no lugar errado, principalmente quando o presidente,
passado o melancólico desfile, resolveu chupar
jabuticaba…

*Educadora e escritoria – Ubrlândia – MG