Uma antiga e intrigante sensação de “dé já vu” – um sentimento de que repete-se no momento presente uma situação que já vivemos em algum lugar do passado, vem tornando-se uma constante e toma conta de quase a totalidade do povo tupiniquim. A política e toda a teatralização dela derivada, que tem como pano de fundo os suntuosos palácios da Praça dos Três Poderes e algumas das mais luxuosas mansões do Lago Sul em Brasília, novamente ocupam destacados espaços nos noticiários de todo o Brasil e, certamente, são motivos de comentários polêmicos e até de chacotas, por exemplo, na turma que freqüenta a esquina do “Já Óh” ou “Butantã” em nossa querida Uberlândia. Ouve-se de maneira sistemática e retumbante, desgastante até, bordões e comentários variados sobre denuncias de todo tipo de corrupção ativa e passiva de políticos e alguns dos seus asseclas e o que, até parece, algumas vezes, ter o efeito de anestésico social ou seja: já estamos terrivelmente acostumados a uma sistêmica repetição de desacatos e desonra, uma autêntica derrama de imoralidades a partir de pessoas que, a princípio, deveriam ser exemplos públicos de decoro, honorabilidade e decência. A nossa sensibilidade patriótica, mais uma vez, está embrutecida e ao ponto de acharmos que alguns dos nossos principais líderes políticos já perderam, há tempos, o comando das rédeas que dirigem o rumo da decência legislativa nesta tão amada nação. Desde o fim dos ditos anos de chumbo não tivemos sequer um presidente da república que não fosse alvo de investigações policiais: Color, Lula, Temer, Dilma e agora o capitão da reserva do Exército e acumulador de polêmicas diversas, Jair Bolsonaro; não poucos políticos de crachá e carteirinha emascularam a tesão popular de vivenciar uma autêntica democracia, enquanto partiam lampeiros e de maneira sistemática rumo ao balcão de negócios montado no Congresso Nacional, com o intuito de saberem qual a melhor moeda de troca a ser oferecida aos colegas parlamentares e para o que, diz-se, não falta dinheiro nos cofres do Palácio do Planalto. Sozinho esse velho que subscreve o presente artigo, chegou à conclusão de que a barbárie originária de escândalos financeiros a partir de alguns legisladores, no decorrer das ultimas décadas, parece inutilmente blindada frente a investigações que vêm à tona pelo serviço de investigação da Policia Federal e a qual, em maior ou menor grau, parece repetir com a mesma eficiência operacional e eficácia organizacional, investigações que alcançam os resultados perseguidos face, também, a um amadorismo explícito e a uma conseqüente falta de cálculos de risco a partir dos seus principais atores, embora esses continuem incansavelmente tirando proveito de situações onde se vêem metidos. Tenho comigo a impressão de que a Praça dos Três Poderes abriga um amplo circo de interesses espúrios e particulares, onde muitos ainda não freqüentam o picadeiro mas, pomposamente, já encontram-se confortavelmente instalados em seus respectivos camarotes enquanto aguardando o momento propício de obterem (+) vantagens para aumentar o seu capital. Tem-se a claríssima impressão de que há pessoas locupletando-se de benesses diversas em “algum lugar” daquela “Power Square”, afinal de contas elas sequer sentem o cheiro do povo e portanto mal conseguem ouvir os apelos e gemidos que vêm das ruas e becos de cidades diversas. Nós, eleitores brasileiros, de tanto olharmos a escuridão, infelizmente acabamos nos acostumando com o breu e o nada, enquanto distanciamo-nos do picadeiro político, onde uma Babel de senhas e velhas promessas costumam imperar de maneira mirabolante. Sim, brasileiros de todas as regiões certamente já tiveram essa mesma sensação desde os primórdios da república e até parece ser comum o fato de alguns poucos privilegiados desejarem, de acordo com o que tem-se noticiado fartamente pela imprensa nacional, tornar a sentir o gostinho de prazeres imediatos a partir de ações nem um pouco honrosas. Salve-se, evidentemente, as exceções e as quais cada genuíno patriota tem guardadas em foro íntimo.

Gustavo Hoffay
Agente Social
Uberlândia-MG