Antônio Pereira – jornalista e escritor – Uberlândia – MG

“Qualquer um dos italianos que fizesse festa na casa dele, as pessoas que eles tinham confiança eram os patrícios. Aquela liberdade de palestrar, recordar o passado na Itália, eles convidavam os italianos. O Pepe Rende mesmo fazia festas juninas, seu João Schiavinatto, o Naghetini também. Era fotógrafo. Tinha dois italianos ali juntos: o Naghetini com foto e o Pepe Rende que era sapateiro de fama. Era pai de uns médicos. Infelizmente, a maioria dos italianos que vieram pra cá, não tinha estudo suficiente. Era difícil criar uma sociedade. Faziam uma festa e ali eles trocavam ideias. Eu aprendi muito falar italiano com meu pai, porque meu pai xingava, ficava nervoso, xingava a gente nervoso, tudo em italiano e eu não esqueço que uma vez que o meu tinha uma chácara que comprou do meu padrinho Nicomedes Alves dos Santos e ali na frente do Praia Clube e a Xarqueada Omega, naquela época era Xarqueada Omega, e a gente ficava arrumando as verduras, colocando nas carroças, porque naquela época meu pai tinha quatro carroças e oito animais. Naquela época colocavam dois animais em cada carroça. Você chegou a ver isso? Já deixava no estaleiro a carroça, a gente chegava de madrugada e já arrumava. Então enquanto a gente não arrumasse aquelas quatro carroças de verduras, tudo lavadinho, tudo amarradinho, tudo prontinho, a gente não saia. A gente vivia com os pés sem sapatos, porque meu pai lutava com dificuldade, não tinha condições, nós tínhamos muitas cabeças de porco. A gente lidava com aqueles porcos e dava muito bicho de pé. Dos meninos, eu era um dos mais novos e quando dava a hora de ir embora, naquela escuridão, porque a luz era fraquíssima e não tinha em todo lugar, eu tropecei numa pedra e começou a sair sangue e comecei a chorar e meu pai voltou disse um palavrão em italiano e me perguntou por que eu estava chorando. Porque eu tropecei e machucou e eu estou com medo de assombração. Disse mais outro palavrão e que ia me explicar. Olha: a pessoa morre faz um buraco coloca aquela pessoa no buraco, jogou terra, acabou. Não se fala mais nada. Colocou a mão na minha cabeça e me disse: Giuseppe você precisa de ter medo é de gente vivo, gente vivo é que faz mal a você. É justamente o que eu estou observando hoje, uma população que você não pode mais confiar em ninguém. Hoje, você sai pra rua, não sabe se volta.”