Desde que o Colégio Eleitoral elegeu Tancredo Neves na qualidade de presidente do Brasil e após pouco mais de duas décadas de governo militar, tivemos dois presidentes eleitos que não concluíram os seus respectivos mandatos: Collor em 1.992 e Dilma em 2.016; Itamar e Temer foram os vice que assumiram em seguida àqueles dois e um outro vice, Sarney, já havia perdido a oportunidade de fazer uma boa história na presidência em 1.985, ao assumir a vaga deixada por Tancredo. Em pouco mais de trinta anos desde a abertura política, vale lembrar que apenas três presidentes eleitos concluíram seus mandatos: Fernando Henrique, Luis Inácio e Bolsonaro. De toda uma barafunda de eleitos, impeachment e ainda a renuncia de Collor, Sarney destacou-se por ter sido o presidente mais inexpressivo da recente história política do nosso país, embora continue sendo um respeitadíssimo coronel em seu estado natal: Maranhão; aquele que pegou carona na eleição de Tancredo e na tragédia que abateu-se sobre o mesmo, para vir a ocupar o trono do Palácio do Planalto. O mais antigo político ainda em atividade no Brasil, cevado pelos governos militares e cúmplice no seqüestro da poupança promovido por Fernando Collor em 1.990, Sarney ainda é tido como “dono” do Maranhão, a sua capitania hereditária e onde um dia, dizem, haverá um município com o nome de Sarneylandia, Sarneycity ou Sarneypolis. E um dos maiores infortúnios deste nosso Brasil foi, sem dúvida, o falecimento do presidente-eleito dr. Tancredo Neves em 21 de abril de 1.984, depois de uma longa e comovedora agonia em função de uma infecção generalizada. Sobrevivemos à tenebrosa época do Cruzado, ao congelamento de salários por longos nove meses e enquanto surtávamos com aumentos absurdos nos preços dos combustíveis e das contas de telefone e energia elétrica, seguidos de badernaços, urutus, saques e depredação. Lembro que Sarney ficou conhecido como o Pinochet do Maranhão, mas o Brasil e o seu povo conseguiram sobreviver ao caos econômico imposto por aquele acadêmico que, diziam, remetia Al Capone à condição de mero aprendiz. Tudo bem que não foi o povo brasileiro que elegeu Sarney para ocupar a função de presidente da República, mas quantos foram os políticos que ele ajudou a eleger e que faziam dos seus mandatos uma manobra para usufruírem dos mesmos, ao contrário de centrarem as suas ações no povo que garantiu seus mandatos legislativos? Ficou a lição. E a história recente mostra e atesta que o povo brasileiro, em sua maior parte, ainda não sabe usar a melhor ferramenta para promover as mudanças necessárias como resposta aos nossos anseios mais básicos: o voto! Salvo algumas exceções, o que assistimos são eleitos nas assembléias legislativas estaduais e no Congresso encenando o papel de políticos enquanto driblam suas obrigações parlamentares. Basta, não merecemos outros “sarney”… Ora! Diante do quadro político tupiniquim, deveras deplorável, só resta a uma grande parcela de eleitores conscientizar-se da desordem originada dos seus respectivos votos e rezar para que, um dia, o nosso país obtenha finalmente uma organização social e jurídica baseada em uma democracia forte e totalmente livre das ameaças de um socialismo ditatorial fincado ao norte da nossa América. Fosse vivo e no esplendor da sua vida política, Tancredo Neves já teria levado milhões de brasileiros às ruas em todo o país e gritado, com toda a força dos seus pulmões: – “O primeiro compromisso do Brasil é com a liberdade”, parafraseando ele mesmo ao assumir o governo de Minas e citando o nosso estado como o berço da independência e da democracia brasileira. E por outro lado é triste, lamentável e mesmo desesperador termos agora um presidente que já disse: -“Este país tem jeito; não nasceu para ser a merda que é”! Se ele espera que um dia a população brasileira o saúde com um “Ave Lula”, está enganado; o mais certo será ouvirmos um “ Aff, Lula”!

Gustavo Hoffay
Agente Social
Uberlândia-MG