Marília Alves Cunha – Educadora e escritora – Uberlândia – MG

“Enquanto existir otário, malandro não passa fome.”

Escrevi em outras épocas matéria sobre NEPOTISMO, prática muito conhecida dos brasileiros porque usada em alto grau. Um ardiloso artifício que muitos políticos e agentes públicos usam para empregar parentes e contraparentes nos quadros de funcionalismo da administração pública. Na boa, sem concurso, sem mais aquela… Esta prática dissende de princípios essenciais à administração pública: principio da impessoalidade, principio da moralidade administrativa, principio da igualdade e da eficiência. Em governos não se pode privilegiar interesses individuais em detrimento de interesses coletivos e muito menos permitir que tudo se transforme em negócios de família (como sói acontecer…). Lembro-me neste momento, caso verídico, da vovozinha do deputado, lá no estado de Goiás, empregada em alto cargo na Assembleia Legislativa. A pobrezinha nem sabia que ocupava privilegiado lugar no quadro do funcionalismo público. Esqueceram de avisar a ela…

A proibição do nepotismo, mal que se instalou em cada canto deste país de meu Deus o que é isto, não depende de mediação legislativa, eis que o ordenamento jurídico atual, claramente exposto na Constituição Federal, regras federais infraconstitucionais e jurisprudenciais regulamentam a matéria, vedando a terrível e afrontosa prática.
NEPOTISMO É PROIBIDO, tá? Estamos conversados… Mas políticos, ai, nem o boníssimo Deus aguenta! Conhecemos tão bem! São mestres em inventar maneiras surpreendentes de burlar a lei que lhes tira privilégios e o fazem de maneira tão grosseira, como se tudo estivesse legal e bonito na Terra de Santa Cruz. Inventaram uma maneira de continuar os erros, revestindo-os de legalidade. Inventaram o NEPOTISMO CRUZADO, favorecendo o lema da maioria: farinha pouca, meu pirão primeiro. A cúpula do governo atual dá o maior exemplo, usando as desculpas habituais: os parentes não estão em nossos ministérios, trabalham em outros lugares, longe das nossas vistas e foram selecionados pela qualificação profissional, sem favorecimentos. Tudo ok pessoal?

Vejamos as últimas aquisições nos quadros do funcionalismo público:
*Ministro da Fazenda – Fernando Haddad – Estela Haddad, esposa, ocupa cargo no Ministério da Saúde – salário R$ 10.166,00.
*Ministro do Trabalho e Emprego – Luiz Marinho – Nilza de Oliveira, esposa, ocupa cargo na Secretaria Especial da Casa Civil- salário R$ 15.688,92.
*Ministro da Casa Civil – Rui Costa – Aline Peixoto (enfermeira), esposa, ocupa cargo de Conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia – salário R$ 35.462,22.
*Pasta do Desenvolvimento Social – Ministro Wellington Dias – Rejane Dias, esposa, ocupa cargo no Tribunal de Contas do Estado do Piaui –salário R$ 37.589,96.
*Ministro das Relações Institucionais – Alexandre Padilha – Thassia Azevedo Alves , esposa, ocupa cargo de assistente parlamentar da senadora Tereza Leitão- salário R$ 18.240,29.
*Ministro da CGU –Vinicius marques de Carvalho – Carolina Gabas Stuchi, ex-esposa, ocupa cargo na Secretaria Adjunta da Secretaria e Gestão do Patrimônio da União – salário R$22.208,00.

Pois é, estão fazendo a festa em várias modalidades, cada uma melhor que a outra. Fico pensando: será que a pátria amada, tão subvertida, resiste a este excesso de agressão, tantos mal feitos? Para quem não se importa com este país, para gente que virou as costas para o povo e se delicia fazendo apenas o que lhe dá na telha, desde que eles não paguem nada, apenas ganhem, tudo está certo. Até a primeira dama, dona Janja, sentindo-se (talvez) incomodada por não fazer parte do vespeiro, ameaça rasgar a certidão de casamento, caso o amoroso esposo não lhe consiga um cargo remunerado… Aviltado fica o país, aos tropeços fica o povo, pagando pela desonestidade e a cara de pau alheia…

Na verdade, político é assim mesmo (me desculpem as honrosas exceções): quando intentam se beneficiar dão nó em goteira, se não têm cão caçam como o gato, acreditam piamente que é dando que se recebe, não tiram o cavalinho da chuva nem por decreto e se saem, em situações de abuso de poder, melhor que a encomenda. Salvem-nos santos e anjos! Estamos nós, povo brasileiro, mais perdido que cego em tiroteio, que cachorro em dia de mudança, que mineiro na praia, mais perdido que Bolsonaro em parada Gay…