José C. Martelli – Advogado e professor ´Espirito Santo do Pinhal – São Paulo

O primeiro significado do termo órfão, segundo os dicionaristas, é o de filhos que perderam o pai, a mãe, ou ambos. O segundo é o de desamparados, abandonados, desprotegidos e outros com iguais significados.
É de se concluir que a segunda acepção é consequência da primeira, ou seja, quem tem pais vivos não está desamparado, abandonado, desprotegido e que tais.
Portanto, não são órfãos.
Puro engano. A separação de casais, tenham ela o nome que tenham, separação essa que vem crescendo de maneira assustadora, faz com que os filhos, principalmente os adolescentes, fique ao “Deus dará”.
Que dizer então quando a separação dá origem a novas uniões.
Cada um dos ex cônjuges tentando refazer a própria vida, esquecendo-se totalmente das responsabilidades assumidas na vida pregressa, como por exemplo, cuidar dos filhos.
Estes, como soe acontecer, “deitam e rolam” sob o manto protetor dos pais que, cada um, querendo provar a culpa do outro na separação e querendo trazer para si a querência dos filhos, não faz outra coisa que não fazer-lhes as vontades.
Ou coisa pior. Os avós, carentes da atenção e do carinho dos próprios filhos que, se já tiveram, não têm mais, buscam-na nos netos, procurando, também, satisfazer-lhes às mínimas vontades.
E estes, aproveitando-se da oportunidade, manipulam a seu bel prazer esses avós, com carinhos e atenções que, quase sempre, são eivadas de segundas intenções.
Mas a pergunta importante a fazer é: – quem vai orientar esses jovens para a vida que os espera? A escola? É sabido que esta tem um valor inestimável na educação da juventude. Mas é sabido também que sem uma base familiar sólida, a escola não supre essa carência. Essa base só pode advir de uma família sólida e bem estruturada.
Quando essa família se esfacela em separações de casais, nascem os órfãos de pais vivos que, como já dito, ficam entregues à própria sorte.
Daí ao desrespeito a tudo e a todos, a licenciosidade, ao sexo desenfreado e desregrado, às drogas e aos crimes é um passo.
É bem verdade que na maioria dos casos, os avós procuram suprir essa lacuna. Mas como podem fazê-lo se ficam apenas com o “ônus” sem terem o “bônus”, ou seja, a força do pátrio poder.
Dir-se-ão que é muita fácil criticar, mas muito difícil apontar soluções.
Entendemos que também neste caso, como em muitos outros a solução estaria na EDUCAÇÃO. Mas não somente a escola, mas a sociedade como um todo. Os púlpitos de todas as religiões têm que dizer aos jovens de hoje, casadoiros de amanhã que, embora todas as facilidades que se lhes ofereçam para separações futuras, é preciso que haja muita seriedade ao constituir-se em casal, principalmente em ter filhos.
Isso somente poderá ocorrer quando houver absoluta certeza de que a união será duradoura e, se possível até que as morte os separe.
Não se pode pensar, como costuma acontecer: vou me casar e, se não der certo, me separo. Essa cultura que está se arraigando em nossa sociedade tem que ser mudada.
Há que haver um verdadeiro mutirão nesse sentido, sob pena de de convivermos cada vez mais com ÓRFÃOS DE PAIS VIVOS, vale dizer, desamparados, desorientados, desprotegidos e prontos para tudo que não é correto, digno e honesto.