Ana Maria Coelho Carvalho*

Recentemente, estive em Stavanger, na Noruega. Fui passar 15 dias com o filho que mora nesse país com a família e trabalha na empresa de petróleo Equinor. Vi e aprendi muita coisa.
Por exemplo, o país é lindo. Tem montanhas altas com picos cobertos de gelo e por onde descem cachoeiras cristalinas e esverdeadas, formadas pelo gelo que derrete. Trilhas que passam por paisagens de tirar o fôlego. Fiordes, que são braços de mar que entram pelo continente e recortam todo o país. Rochedos imensos ladeando os fiordes, onde as pessoas sobem e parecem ficar acima das nuvens, observando o mar lá do alto.
O país possui vários pontos turísticos, como a Preikestolen, que fica em Forsand. É uma uma falésia de 604m, por onde se chega após uma subida que leva de 2 a 3 h, por uma trilha de 4 km cheia de pedras. O topo do rochedo, o platô, é quadrado, com cerca de 25×25 m, chamado de Púlpito do Pregador. A vista lá de cima é uma das coisas mais incríveis de se ver na vida (eu não fui, mas os filhos e netos foram e contaram). As pessoas mais ousadas sentam-se na beirada da rocha e balançam as pernas. Já o meu neto de 14 anos, bom de bola, ficou no platô, com a camisa do Brasil, fazendo embaixadinha… Tem até uma cena do filme “Missão Impossível” filmada na Preikestolen. É de arrepiar, com o Tom Cruise dependurado no precipício, lutando com o vilão . No inverno não é possível subir, a trilha fica coberta de neve e tem pouca luz, é perigoso. Outro ponto turístico famoso é a Trolltunga, mas não subimos até lá, apenas visitamos a região. É uma pedra esticada horizontalmente a 700 m de altura, sobre um precipício, com um lago abaixo. Noruegueses e turistas enfrentam uma caminhada de 22 km ida e volta, numa subida intensa, onde tem neve na trilha até no verão. O nome significa “lingua do Troll”. O Troll é uma figura do folclore da Noruega. Segundo a lenda, é feio, grandalhão, pouco inteligente, mas desperta simpatia. Habita a escuridão das florestas e as cavernas das montanhas. Ele está em toda parte na forma de estátuas, pinturas, histórias. É vendido como cartões postais, bonecos, brinquedos, canecas, etc. Ele e a família toda: filhos, mulher, avô, avó. Troll pra todo lado e pra todo gosto. Esquiando, andando de moto, abraçado no alce. Comprei um pregador de geladeira com toda a família Troll, de lembrança. Vimos também uma escadaria de madeira de 4.444 degraus. A maior do mundo em madeira, equivalente a um prédio de 28 andares. Foi construida há cem anos, para os trabalhadores levarem nas costas o material para fazer uma hidrelétrica, hoje desativada. Não subimos, Deus me livre! Olhamos por baixo, quando fizemos um passeio de barco por um fiorde para apreciar as cachoeiras, as rochas imensas, a mansidão azul das águas do mar. E com um vento gelado batendo no rosto, em pleno verão com temperatura entre 7 a 14 graus.
Também as rodovias e estradas na Noruega são incríveis. Tudo lá é muito intenso. Cheias de altos e baixos, muitas curvas, pontes sobre o mar, túneis imensos. Atravessamos um de 14,6 Km perto de Stavanger, que passa debaixo do fiorde. Primeiro o túnel desce para atravessar as rochas debaixo do mar, depois sobe. Uma loucura, e tudo com qualidade e segurança. Nas estradas que ligam pequenas cidades ou chegam a pontos turísticos, é um eterno zigue-zague , sobe e desce, e precipícios. Ovelhas e cabras pastam nas margens. São estradas estreitas de mão dupla, mas só passa um carro de cada vez. Quando um encontra outro, um precisa dar marcha a ré e encostar em local mais largo. A gente reza pra não encontrar nenhum carro na curva. Achei estas estradas perigosas demais, em alguns pontos nem tem proteção perto dos precipícios. No inverno ficam interditadas, cheias de neve e os motoristas não sabem onde é a estrada. Talvez por tudo isso seja muito difícil tirar carteira de motorista na Noruega. Leva de seis meses a um ano. É um processo muito sério, o que contribui para reduzir a quase zero o número de acidentes. As provas são feitas nessas estradas estreitas e numa pista escorregadia, onde são simuladas situações de risco.
Mas bonito mesmo é uma ilha que visitamos, a Flor & Fjaere. Ela foi transformada em um imenso jardim e aberta ao público em 1995. Flores, rosas, árvores, arbustos, trepadeiras, cactus, lagos…Tudo misturado em uma emocionante profusão de cheiros e cores. Com o mar e o céu azul ao fundo. Outra coisa que chama a atenção na Noruega é o silêncio . Uma calmaria que faz bem ao espírito. Contemplar e admirar a natureza em silêncio, para os noruegueses, é quase como fazer uma oração. Mesmo nas cidades, há pouco barulho. Andando pelas ruas do bairro, não ouvi grito ou choro de criança, música tocando, cachorro latindo . Até os carros deslizam sem fazer barulho, a maioria deles é elétrico. Mesmo os cortadores de grama foram substituídos por pequenos robôs achatados, pretos luzidios, que podam a grama silenciosamente, com perfeição. Têm até um sensor para não passar no mesmo lugar duas vezes.
Enfim, além da natureza exuberante, das estradas incríveis, do silêncio e da paz, existem muitas coisas interessantes na Noruega, que abordarei nos próximos capítulos.

*Bióloga – Uberlândia – MG – anacoelhocarvalho@terra.com.br