Ana Maria Coelho Carvalho*

Adoro ovo caipira, desses com gema bem amarela e casca azul. Tempos atrás descobri uma placa em uma casa na vizinhança: “Vendem-se ovos caipira”. Ao lado, outra placa: “Cuidado! Cão bravo”. A tentação de comer os ovos foi mais forte e toquei o interfone. Imediatamente surgiu um doberman enorme, latindo raivoso e dando saltos incríveis para pular o murinho baixo e me devorar viva. Fiquei petrificada onde estava. Apareceu um homem que não era mentalmente muito normal, mandou o cão ficar quieto e buscou os meus ovos. Voltei mais duas vezes, tentada pelos ovos. Na última vez, cheguei justo no momento em que o cão começou a latir e pulou para cima de uma senhora distraída que passava na calçada com o filhinho. O cão bravo foi detido pelo murinho, mas parte do tronco dele passou por cima e ele quase mordeu a mulher. Ela levou um susto enorme, porém era mais brava que o cão e fez um escândalo na rua. O homem com problema tomou o partido do seu cão raivoso e ameaçou acertar umas pedradas na mulher. Vendo os ânimos exaltados, antes de levar uma pedrada ou uma mordida, dei meia volta e fiquei sem os deliciosos ovinhos caipira.

Passado um ano do episódio, criei coragem e lá voltei . Somente vi a placa dos ovos. Onde estaria o cão bravo? Seria uma armadilha? Toquei o interfone pronta para correr, se necessário. Apareceu uma senhorinha amável , eu disse que queria ovos e ela me convidou para entrar e ver as galinhas. Eu me neguei veementemente, o cachorro deveria estar lá em algum lugar, de tocaia. Mas ela explicou que tinham dado o cachorro porque ele atacara o senhor idoso e grandalhão, que morava na casa com o seu filho, e ela estava lá para cuidar dele. Eu vi o braço do senhor, todo machucado, com inúmeros pontos, dilacerado, inchado e vermelho, um horror. Também vi as galinhas gordas, livres, ciscando no quintal e de papo cheio. Levei meus ovinhos caipiras, mas fiquei impressionada ao ver que eu tinha razão de ter medo, o cão era uma fera e ficava solto. Ainda bem que não comeu as galinhas.

Semanas depois passei por outro episódio envolvendo cão bravo, mas dessa vez com final feliz. Minha cadelinha yorkshire, a Duda, teve três filhotinhos , na sua segunda ninhada: : Lolla, Milla e Tobias, lindos. Fiquei com a Milla, dei o Tobias e vendi a Lolla. Mas não havia como entregar os cãezinhos para os donos, pois estavam sete netos pequenos passando férias comigo. Eles fizeram um complô para esconder os filhotes e para chorarem juntos como protesto. No entanto, a compradora da Lolla era insistente e conseguiu levá-la, deixando as crianças aos prantos. Horas depois ela voltou para devolvê-la. Explicou que a Lolla só chorava, não comia e estava sendo aterrorizada por sua outra cachorra, uma filhote de rottweiler que queria engolir a Lolla viva. Devolveu a cachorrinha.

*Bióloga – Uberlândia – MG – anacoelhocarvalho@terra.com.br