Dr. Flávio de Andrade Goulart*

O câncer de pele é o tema do post de hoje. Por que, exatamente? Vamos analisar alguns dados sobre isso a seguir. Mas de saída minha preocupação é de outra natureza, ou seja, a exposição maciça das pessoas aqui no DF à luz solar, sabidamente um fator determinante na origem de tal neoplasia. É claro que sol não existe só aqui, mas em toda parte. Mas é bom lembrar que aqui em Brasília temos pela frente, a partir de agora, seis meses, no mínimo, de sol inclemente, em nossa cabeça, em nossa pele. E tal exposição é aumentada e incentivada pela liberação de “áreas de lazer”, como o Eixão, a Ponte JK e muitas outras, nas quais não bastasse a radiação que vem de cima, há que se lidar também com aquela refletida pelo asfalto. Não é que eu seja contrário a tal ideia; movimento, convívio social e exposição à luz são coisas sempre saudáveis. Mas acima de tudo penso que a liberação de tais áreas, somada agora à da Ponte JK (a meu ver injustificada), exigiria medidas complementares, que incluíssem no mínimo a conscientização dos usuários, mas também a eventual distribuição de produtos e objetos protetores, como bonés e cremes, além da restrição de horários de uso, por exemplo.

Mais despesas para o contribuinte? Não necessariamente: as sociedades médicas, a rede de farmácias e empresas em geral poderiam arcar com custos e voluntariado, como parte de uma ação de benefício coletivo, com direito ao merchandising institucional, se for o caso. Creio que o costume de liberar tais áreas, que vem de décadas aqui no DF, se inspira em exemplos de cidades maiores, como São Paulo, com a famosa liberação do Minhocão e depois da Paulista, aos domingos. Mas lá tal medida é muito mais justificada do que aqui, pela escassez de áreas onde as pessoas possam correr, pedalar ou simplesmente dar um rolê. Mas nossa cidade as tem de sobra, geralmente mais sombreadas, confortáveis e seguras. Assim, a compulsão de nossas autoridades em liberar mais e mais áreas parta o tal “lazer” me parece ser um mais fenômeno de ordem política e eleitoral do que voltado realmente ao conforto e à saúde das pessoas. Esta última liberação, a da Ponte JK, por exemplo, é um espanto de incúria, pois tal via é utilizada intensivamente também nos finais de semana e feriados e seu bloqueio iria contemplar apenas áreas onde a densidade populacional é baixa, prejudicando a mobilidade dos demais cidadãos. Aliás, os moradores do Lago Sul, relativamente próximo à ponte, já têm de sobra seus espaços de lazer e movimentação, além de exposição à insolação. Sendo assim… Veja mais informações sobre o câncer de pele a seguir.

No DF as doenças do aparelho circulatório são a principal causa de morte em 2018, mas as neoplasias vêm em segundo lugar e aumentaram sua incidência nos últimos anos. Na faixa dos 40 aos 59 anos elas foram as principais causas, junto com as doenças do aparelho circulatório. No quadro abaixo, que representa uma estimativa para o DF nos próximos dois anos, segundo dados do INCA, o câncer de pele não melanoma apresenta maior número de casos e taxa bruta de qualquer outra neoplasia. Por sorte tal tipo de câncer é raramente letal, mas ainda assim representa uma doença grave, não raramente incapacitante ou mutilante, além de ter alto custo para o sistema de saúde.

Localização Primária da Neoplasia Maligna Homens Mulheres
Casos Taxa Bruta Taxa Ajustada Casos Taxa Bruta Taxa Ajustada
Próstata 840 55,40 59,38 – – –
Mama feminina – – – 730 42,63 34,66
Colo do útero – – – 260 15,01 9,29
Traqueia, Brônquio e Pulmão 230 15,37 17,91 190 10,88 11,08
Cólon e Reto 260 16,85 20,32 230 13,74 10,84
Estômago 110 7,00 6,92 130 7,72 4,38
Cavidade Oral 120 8,06 9,30 30 1,53 1,27
Laringe 90 5,77 5,76 30 1,58 1,58
Bexiga 30 1,91 1,79 30 1,89 1,84
Esôfago 100 6,32 7,74 30 1,70 1,67
Ovário – – – 110 6,75 6,26
Linfoma de Hodgkin ** 0,86 0,90 20 1,44 1,36
Linfoma não Hodgkin 70 4,67 5,43 60 3,37 3,30
Glândula Tireoide 20 1,25 1,52 70 4,36 4,36
Sistema Nervoso Central 100 6,46 7,31 90 5,02 5,01
Leucemias 110 7,37 7,33 110 6,17 5,71
Corpo do útero – – – 100 6,05 6,13
Pele Melanoma 20 1,48 1,74 30 1,62 1,57
Outras Localizações 660 43,29 42,55 530 31,24 25,88
Todas as neoplasias, exceto Pele não melanoma 2.770 182,22 199,64 2.780 163,25 169,07
Pele não Melanoma 1.170 77,24 – 1.940 114,13 –
Todas as Neoplasias 3.940 259,19 – 4.720 277,17 –
Em termos nacionais a situação não é menos séria: a estimativa de surgimento de novos casos no Brasil nos próximos dois anos é 176.930 casos, sendo 83.770 homens e 93.160 mulheres. O número de mortes chegará a 2.616 (1.488 homens e 1.128 mulheres), segundo dados do INCA (ver link)

Conheça abaixo outras informações sobre o câncer de pele, de acordo com os manuais do Instituto Nacional de Câncer.

O câncer de pele não melanoma é o mais frequente no Brasil e corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados no país. Apresenta altos percentuais de cura, se for detectado e tratado precocemente. Entre os tumores de pele, é o mais frequente e de menor mortalidade, porém, se não tratado adequadamente pode deixar mutilações bastante expressivas.

Mais comum em pessoas com mais de 40 anos, o câncer de pele é raro em crianças e negros, com exceção daqueles já portadores de doenças cutâneas. Porém, com a constante exposição de jovens aos raios solares, a média de idade dos pacientes vem diminuindo.

Pessoas de pele clara, sensíveis à ação dos raios solares, com história pessoal ou familiar deste câncer ou com doenças cutâneas prévias são as mais atingidas.

O câncer de pele não melanoma apresenta tumores de diferentes tipos. Os mais frequentes são o carcinoma basocelular (o mais comum e também o menos agressivo) e o carcinoma epidermoide.

Fatores de risco: (a) Exposição prolongada e repetida ao sol (raios ultravioletas – UV), principalmente na infância e adolescência. (b) Ter pele e olhos claros, com cabelos ruivos ou loiros, ou ser albino. (c) Ter história familiar ou pessoal de câncer de pele. Deve ser lembrado que os tumores de pele estão relacionados a alguns fatores de risco, principalmente, à exposição aos raios ultravioletas do sol. Pessoas que trabalham sob exposição direta ao sol são mais vulneráveis ao câncer de pele não-melanoma. Outros fatores de risco incluem indivíduos com sistema imune debilitado e exposição à radiação artificial.

Cuidados de proteção:

Evitar exposição prolongada ao sol entre 10h e 16h.
Procurar lugares com sombra.
Usar proteção adequada, como roupas, bonés ou chapéus de abas largas, óculos escuros com proteção UV, sombrinhas e barracas.
Aplicar na pele, antes de se expor ao sol, filtro (protetor) solar com fator de proteção 15, no mínimo.
Usar filtro solar próprio para os lábios.
A detecção precoce do câncer é uma estratégia utilizada para encontrar um tumor numa fase inicial e, assim, possibilitar maior chance de tratamento bem sucedido.
A detecção precoce pode ser feita por meio da investigação com exames clínicos, laboratoriais, endoscópios ou radiológicos, de pessoas com sinais e sintomas sugestivos da doença (diagnóstico precoce), ou de pessoas sem sinais ou sintomas (rastreamento), mas pertencentes a grupos com maior chance de ter a doença.
Não há evidência científica de que o rastreamento do câncer de pele não melanoma traga mais benefícios do que riscos e, portanto, até o momento, ele não é recomendado. Entretanto, é importante que todos estejam atentos a qualquer modificação na pele. Manchas na pele que coçam, ardem, descamam ou sangram e feridas que não cicatrizam em quatro semanas, principalmente em áreas do corpo mais expostas ao sol, como rosto, pescoço e orelhas, devem ser investigadas por um especialista. O diagnóstico precoce aumenta as chances de tratamento e cura.
Na maior parte das vezes essas alterações na pele não são causadas por câncer, mas é importante que elas sejam investigadas por um médico, principalmente se não melhorarem em poucos dias.
Para conhecer as principais informações e dicas para se proteger do câncer de pele não-melanoma, consulte o folheto “Câncer de pele: vamos falar sobre isso?“.
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https://www.inca.gov.br/estimativa/estado-capital/distrito-federal
https://www.inca.gov.br/estimativa/estado-capital/brasil

Como evoluiu a situação de saúde no DF nos últimos anos?

*Flávio de Andrade Goulart é médico, professor de Medicina na UFU e na UNB, secretário municipal de Saúde em Uberlândia e é sobrinho do poeta Carlos Drummond de Andrade.