José C. Martelli*

“É por isso que não desfalecemos. Ainda que exteriormente se desconjunte nosso homem exterior, nosso interior renova-se a cada dia (2Cor 4, 16).

De fato. Começamos o caminho para a morte, no dia em que nascemos. Passamos pela infância sem termos a menor noção do que estamos fazendo neste mundo. Depois a adolescência de grandes e prazerosos sonhos. A seguir a idade madura também cheia de projetos a realizar. Família, amores, realizações, fracassos, objetivos, desencantos, frustrações, vitórias etc… sem jamais nos darmos conta ou passar pela nossa cabeça a finitude inexorável desta vida terrena. Sem jamais pararmos para pensar que estamos caminhando para o fim.

Fim? É aí que, em outras palavras, diz São Paulo: na medida em que o homem exterior definha, nessa mesma medida cresce e rejuvenesce o homem interior. É a última etapa da vida para quem, pelos desígnios de Deus, chegou lá, a velhice que é uma exigência do homem interior. É o nosso verdadeiro eu que aflora do mais profundo do nosso ser. É o nosso modo característico e particular de agir. É nossa maneira singular de encarar essa passagem do eu exterior com todas suas restrições físicas para o eu interior, aquele que verdadeiramente somos e que nos dá e nos dará alento até o último suspiro.

Este é o desafio. Já li alhures que esta etapa da vida, vivida cada um a seu modo é que nos mostra o verdadeiro sentido da vida. Tentamos fazer uma síntese final realimentando os sonhos que nos alimentaram por toda uma vida. Nos reconciliamos com os fracassos e buscamos sabedoria. Por fim concluímos que a vida não termina na morte. Ela apenas se transfigura através da morte. Felizes os que assim creem.

Encerro este texto fazendo minhas as palavras do Frei Leonardo Boff : “morremos para viver mais e melhor, para mergulhar na eternidade e encontrar a Última Realidade, feita de amor e de misericórdia. Aí saberemos finalmente quem somos e qual é o nosso nome” e ainda segundo o Frei, palavras de uma poetisa e menina de rua chamada Herzer: “ eu só queria nascer de novo para me ensinar a viver”.
Faço minhas as palavras dela.

*Advogado e professor – Espirito Santo do Pinhal – SP