Gustavo Hoffay*

A alma que se eleva, eleva o mundo….já dizia Elisabeth Leseur, autora de uma grande obra intitulada Cartas sobre o Sofrimento. Transferindo o sentido dessa frase para a seara política tupiniquim, eu arriscaria a dizer que um congressista ou algum outro personagem da nossa política e em exercício de alguma função no poder Executivo nacional, deveria sentir como próprios os anseios da nossa população e as suas vitórias os êxitos da gente. Ora! Meditando esse ponto de vista, quem não se sentiria arrebatado à conquista de grandes ideais para a sua vida e a partir de quem elegemos, para ver realizados desejos incontidos por uma perfeição maior e na condição de seu representante na política nacional? Queremos, todos, o melhor para o nosso país, mas quem comanda o timão da nave Brasil deveria entender que há de respeitar a pressão sobre si mesmo para conseguir levar adiante as suas ações e intenções a nosso favor, a favor do nosso país. Um mandatário – graças a nós, mandantes – não deve, em uma democracia, deixar-se embebedar de orgulho e de poder, mas despertar a esperança para o seu povo de uma maneira ponderada, sem impulsividade, medindo as suas atitudes e palavras e de maneira a não arrepender-se depois de agir precipitada e desastradamente. Pressionado, um chefe de governo deve entender – e aceitar – que há um ponto de parada, um limite às ações que tem em vista, pois há uma região extrema de liberdade onde não se pode , mesmo para a prática do bem, exercer qualquer ato que possa desviar-nos de uma trilha racional, lógica em termos de governança com sabedoria. Ainda em relação ao presidente Bolsonaro, por vezes deixamo-nos levar por algumas de suas atitudes dado à nossa paixão de realizar e alcançar ações e obras a muito acalentadas, pois somos uma gente que a muito deseja admirar o grão germinar, ver aceso o braseiro e embarcar em uma onda de grandes e virtuosas realizações! Mas há limites! Nem sempre é melhor aquele político que age e esbraveja mas, sim, aquele que é secundado por uma inteligência esclarecida e que tem um sábio discernimento sobre o que é política e de que maneira exercer essa arte, mesmo calado. O perigoso ( como vem sendo tratado o presidente Bolsonaro por alguns que desejam destituí-lo do trono do Palácio do Planalto) ou ainda patife, louco, usurpador, nazista, ditador e outros adjetivos ainda mais eloqüentes e a ele destinados por muitos, não previu e sequer foi alertado pelos seus gurus de que não seria capaz de evangelizar com os seus olhos azuis e magnetizados a maioria dos deputados federais, a ponto de convencê-los a votar a favor da PEC que desejava institucionalizar o voto impresso. Carreatas, passeatas e motociatas por ele incentivadas e levadas a efeito em todos os quadrantes da Terra de Santa Cruz não conseguiram, nem de longe, fascinar e convencer aqueles que ele pensava estarem ao seu lado no Congresso,embora é sabido o quanto muitos dos seus aliados tenham o costume de agir como a folhas de bananeira ao sabor do vento; são criaturas a quem pode-se dar a alcunha de infelizes instáveis e atraídos para o poder como o papel gomado atrai as moscas. Bolsonaro perdeu ao tentar estimular o povo contra o Congresso e, a partir daquela casa, ressuscitar dentre aqueles que estão à sua frente na maioria das pesquisas eleitorais. Acusado pela frenética e por vezes tresloucada oposição ao seu governo, de semear a desordem neste país bonito por natureza, o presidente do Executivo procura a todo custo escapar do apelido de impostor perigoso à democracia, ao contrário de ser reconhecido como o messias que viria trazer a salvação a essa república tropical e de modo a livrar-nos de uma intentona bolchevista, sanguinária, absolutamente subversiva e cujos simpatizantes comem criancinhas no almoço e na janta. Mas Messias, de fato,ele não é; Bolsonaro não é um deus. Ele é um comum e tem se revelado da forma de outros que já ocuparam aquele mesmo trono e enquanto na mesma e espinhosa função, para a frustração de muitos dos seus eleitores, inclusive eu. Sou um católico laico ou seja: pratico a minha religião mas não a meto em tudo o que faço e bom seria se assim o fizesse o presidente –terrivelmente evangélico – e uma considerável parcela dos seus assessores em cargos de comissão. Não, não dá! Exijo que os políticos a quem ajudamos a alcançar o olimpo em Brasília, passem a sonhar com um Brasil grande, pacífico, desenvolvido e que exprimam explicita e publicamente o seu amor a Deus unicamente em locais apropriados a essa prática, nunca em gabinetes, discursos ou palácios oficiais.Os caminhos e ações de Deus são infinitamente mais altos que os caminhos e ações de qualquer um de nós, reles mortais.E o nosso presidente deveria ter a humildade de reconhecer essa verdade.

*Agente Social – Uberlândia-MG