Gustavo Hoffay*
É latente, obvio, ululante como está oculto dentro de um rústico e deselegante Renan Calheiros (o ilustríssimo senador investigado em nada menos que dezessete inquéritos no Superior Tribunal Federal, réu em uma ação penal e indecentemente indicado para ser o relator de uma Comissão de Inquérito no Congresso Nacional) um claro sinal de revanche, de negativo, de fermento odioso que o faz descer literalmente – e ainda mais – por uma escala que mede o caráter de pessoas que deixam-se levar por asquerosos meandros políticos e que conduzem a medíocres instâncias. Não faz-se necessário tecer nestas linhas, as circunstâncias que levam o “digníssimo” relator da CPI da Covid a responder inquéritos em trâmite contra ele no Superior Tribunal Federal, basta lembrarmos que continua sendo contestado e repudiado por milhões de brasileiros o que foi o seu estrepitoso e duvidoso comportamento enquanto presidente do Senado Federal ! Não é, pois, nem um pouco confortante à maioria dos brasileiros, assistir os seus gestos e ouvir as suas insidiosas intervenções durante o depoimento daqueles que foram convocados ou convidados a prestar esclarecimentos naquele inquisitório e o qual, inutilmente, pretende lançar sementes de valor a partir de alguns dos seus dirigentes, cujo passado político está repleto de atitudes que vergonhosamente maculam suas carreiras políticas. Pobre Brasil! É muito fácil a qualquer cidadão brasileiro medir o grau de parcialidade que fascina o senador Renan Calheiros em atitudes e falas que parecem querer encantar a platéia e, quanto mais, ciente da estrambótica audiência popular da CPI, via imprensa. Ficou claro, até aqui, que os interrogatórios daquela Comissão parecem estar em nítida oposição ao que poderia ser considerado na qualidade de uma investigação imparcial, conscienciosa, incensurável e imanente de uma perfeita racionalidade, mas nunca duvidosa e assombreada por uma fascínio derivado de um espírito revanchista político tolo e descabido, no qual inutilmente refugiam-se os tolos e fracos de espírito. O Brasil já está cansado desses deprimentes espetáculos! Impõe-se à atenção de todos nós, brasileiros e eleitores ( sem que a nós seja possível escapar e que não em nenhuma hipótese ser negligenciado por que possui um mínimo de discernimento político), um elevado grau de parcialidade daqueles que ocupam funções estratégicas na disputada tribuna de uma Comissão de Inquérito e que sentem-se como a vingadores ou a super-heróis de capa e espada diante de uma abundante platéia, justo em um ano anterior a um período eleitoral e quando estaremos escolhendo nossos futuros presidente, governadores, deputados estaduais e federais. Ninguém, em sã consciência, pode sequer arriscar que partidos e correntes políticas pluripartidárias não estão servindo-se da presente CPI como a um poderoso e gratuito horário de propaganda política, para catapultarem seus futuros e respectivos candidatos rumo ao Olimpo de Brasília e onde encontra-se o majestoso panteão de poderosos deputados e senadores, o Congresso Nacional; local onde muitos deles procuram inutilmente demonstrar um grau de inquestionável competência em suas respectivas condutas parlamentares. Desculpem-me os milhões de amigos e familiares das quase meio milhão de vítimas da Covid-19 até ao presente momento, mas percebo com clareza o quanto a sua dor está sendo usada por uma legião de políticos que abusam da CPI da Covid como a uma forma de entesourarem-se, abusarem da sua condição de inquisidores mas que nada ou quase nada desenvolvem no afã de esclarecer o porque da trágica situação a que chegamos. Não faço desta crônica uma defesa do atual presidente da República, bem longe de mim tal intenção; mas as indicações,as circunstâncias e o comportamento de dois senadores para dirigirem a referida CPI ( inclusive do presidente da mesma e que é investigado pelo desvio de 260 milhões de reais da área da Saúde no seu estado, o Amazonas) são, na minha opinião, tragicamente hilárias, absolutamente repreensíveis e esboçam o quanto a mesma está servindo de palco para as suas breves pretensões políticas. Muitos seriam outros argumentos de caráter pessoal a respeito dessa CPI e a qual eu sinto cinicamente explorada por não poucas pessoas em proveito próprio. O que julgo estar em jogo, principalmente, é a dignidade de alguns dos atuais governantes e a competência de não poucos políticos em passarem a limpo as ações até aqui tomadas e também o interesse político de muitos que formaram fila para participar, de algum ou outro modo, de uma tragicômica encenação high-tec em torno de uma matéria que tem sobressaltado todo o Brasil e o mundo; fica evidente a intenção das conseqüências político-partidárias dali derivadas e as quais somente seriam aceitáveis mediante atos de inteligência movidos por uma racionalidade que deveria fazer-se presente em seus principais e originários protagonistas. Enfim, um circo de pretensões gigantescas, milionárias até (considerando-se as próximas eleições) e de ações desrespeitosas em relação ao luto de milhões de parentes e amigos daqueles que foram afetados direta ou indiretamente pela Covid-19. O circo armado no Congresso Nacional sobre centenas de milhares de túmulos de brasileiros é desrespeitoso, explorador e nada escrupuloso. Investigassem os fatos que geraram dúvidas, interrogassem testemunhas e ex-agentes governamentais, mas nunca da maneira como está sendo publicamente explorado e unicamente em vista de um mesquinho proveito político próprio dos seus principais protagonistas. Usar-se da desgraça alheia para promover-se em um ano pré-eleitoral, é um cruel desacato público à memória daquelas centenas de milhares de vítimas fatais. Faça-se a justiça necessária, mas sem a encenação de nenhum ato que mire alimentar a empáfia de quem se atreva a tirar proveito do padecimento de muitos e que, vergonhosamente, chegou ao cumulo de comparar a atual situação vivida em nosso país ao que foi a tragicidade de alguns dos mais escabrosos eventos nazistas na Segunda Grande Guerra. Meu Deus…que políticos são esses em quem muitos depositam a sua confiança, o seu voto? Se os problemas relacionados ao uso de drogas não está unicamente nas mesmas mas, também, em quem faz uso daquelas substâncias, o problema no nosso Congresso Nacional não está unicamente nos legisladores, mas em quem vota em alguns deles! Acorda, Brasil!
*Gustavo Hoffay – Agente Social – Uberlândia-MG