José C. Martelli*

Nascida em 27 de junho de 1958 e falecida em 06 de setembro de 2020.
Pois é. A vida é uma louca aventura que sempre termina em morte (Chaplin).
Agora mesmo, conversando com uma, tal como a falecida, muito querida amiga, sobre o infausto e inesperado acontecimento acima noticiado, eu lhe dizia que por mais que busque, não encontro o sentido da vida.
E ela obtemperou com a inteligência que lhe é inata: “Então creio que não vale a pena perder tempo procurando o sentido. Ele o é por si só.”
Perfeito. Pode ter havido uma vida com mais sentido do que a da Doutora Adélia? Posso dizer isso com propriedade pois com ela convivi por quase 30 anos.
De fato. Corria o ano de 1992. Eu tinha um escritório de advocacia em Pinhal. Entretanto, como trabalhava em um projeto que me obrigava a viagens quase que diárias pelo Estado de São Paulo , no mais das vezes o escritório permanecia fechado.
Na ocasião, andava a procura de colega advogada(o) que pudesse assumir meu escritório em minhas constantes ausências. Foi quando me indicaram uma jovem, casada, com uma filha recém nascida, formada em direito pela Universidade Mackenzie de São Paulo, que talvez pudesse preencher minha necessidade.
Dito e feito. Foi a sopa no mel. Ela também estava precisando de um trabalho onde tivesse liberdade para cuidar da filha e da família, sem restrições de horários e compromissos correlatos.
Negócio fechado sem nenhum documento a não ser as palavras de cada um. E já nos primeiros tempos de nossa convivência começou a mostrar a determinação de quem sabe o que quer. E continuou, por anos e anos de trabalhos conjuntos com uma seriedade, dedicação e disponibilidade sem par.
Os anos se passaram, ela deixou o escritório mas continuou sempre a amiga (e advogada) disponível e fiel. Haja vista que todas as minhas causas e foram muitas em razão do plano cruzado que literalmente quebrou inúmeras pessoas, cujas ações passou a cuidar.
Ganhou algum dinheiro com nossa parceria. Sim. Mas com certeza muito menos do que merecia, tanto pela dedicação, quanto pela seriedade com que sempre se havia.
Antes da cirurgia cujas complicações terminariam por tirá-la de nosso convívio, estava cheia de planos. Para ela, para a filha, para o netinho Ícaro, mais do que neto, um filho.
Dizem que Deus escreve certo por linhas tortas. Ainda não me refiz e ainda não encontrei o sentido do que aconteceu.
Eu não era e não sou de muito sair.
Então ficava ansioso por suas visitas, quase sempre às tardes, após sair do Sindicato onde tralhava, para ficar sabendo, das novidades do dia, ocorridas em Pinhal. Ela as trazia com graça e sutileza, jamais caindo no jargão sem sentido da fofoca.
Fazer o que? São os desígnios de Deus.
Só resta o quadro de seu diploma na parede de meu escritório e a gaveta com os assuntos que tínhamos em comum, como se vê aí abaixo. E o vácuo impreenchível de sua ausência que vai demorar pra ser ocupado, se o for.
Muita e dolorida saudade. Descanse em paz minha amiga. Até qualquer dia destes.

*Advogado agrarista e professor