Rafael Moia Filho*

Em pleno mês de janeiro de 2021, recebo um áudio de um contato do WhatsApp, produzido por um militar tecendo críticas ao uso de máscaras e ao isolamento social. Ele demonstrava ainda seu inconformismo com a não utilização de um tratamento profilático com medicamentos como a Invermectina, Hidroxicloroquina e outros comprovadamente não eficazes contra o coronavírus.
Ele dizia que o uso prolongado da máscara pode levar a um quadro de intoxicação e baixa oxigenação do organismo. Pois essa mensagem emanada por ele é falsa: os médicos explicam que isso não ocorre porque a máscara não é hermeticamente fechada.
É inexplicável a quantidade enorme de informações mentirosas sobre o tratamento da Covid-19 circulando pelas mídias sociais e por grupos de WhatsApp, as quais, não raro, envolvem médicos que alegam ser pneumologistas dando depoimentos sem a mínima ética e levando desinformação a sociedade.
Sendo assim, devemos recorrer a informação precisa da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia – SBPT, que informa abaixo aquilo que está dentro dos preceitos da medicina e da ciência:
1 – A sobrevida de doentes acometidos por quadros graves de COVID-19 está na dependência de cuidados médicos de qualidade, por equipes de saúde treinadas, e a disponibilidade de equipamentos apropriados. Nesse contexto, os médicos dos pacientes deverão adaptar as medidas terapêuticas às necessidades individuais de cada caso.
2 – No momento, não existem evidências científicas que anticoagulação plena deva ser instituída de rotina em pacientes acometidos pela COVID-19 em nenhum cenário.
3 – Estudo recente, ainda não publicado em revista científica após avaliação crítica por pares, indica que dexametasona, na dose de 6 mg ao dia por 10 dias, possa ser benéfica em casos graves, mas não em indivíduos com formas leves da doença. Entende-se como formas graves, todos os casos em que o paciente requeira algum tipo de suporte respiratório, tais como oxigenoterapia ou ventilação mecânica. Nesse cenário específico, o uso de dexametasona se associou com aumento de aproximadamente 33% na sobrevida dos indivíduos tratados.
4 – Não existem evidências científicas que suportem o uso de corticosteroides de rotina em pacientes com formas leves da doença, nem tampouco com a finalidade de evitar sua instalação.
5 – Não existem evidências científicas de que quaisquer das medicações disponíveis no Brasil, tais como ivermectina, cloroquina ou hidroxicloroquina, isoladas ou associadamente, colaborem para melhor evolução clínica dos casos sejam capazes de evitar a instalação da doença em indivíduos não infectados. Isso também é verdade para vitaminas, como, por exemplo, a C e D, e suplementos alimentares contendo zinco ou outros nutrientes.
6 – Drogas de eficácia ainda não comprovada para a COVID-19 podem ser utilizadas dentro de ensaios clínicos, que sigam todas as normas aplicáveis a esse tipo de estudo incluindo, por exemplo, aprovação e supervisão por comitês de ética médica institucionais.
8 – A SBPT acredita que compete ao médico que assiste o doente tomar as melhores decisões para o seu cuidado. Nesse contexto, tais decisões têm que ser tomadas baseadas nas melhores evidências científicas disponíveis, as quais estão resumidas acima. Redes sociais não são textos médicos e, com frequência, transmitem informações infundadas, impulsionadas por interesses obscuros.
9 – A medicina e a ciência são processos dinâmicos e, a qualquer momento, poderão surgir novidades concretas, as quais a SBPT compartilhará de pronto com seus associados. Enquanto isso, a melhor forma de combater a pandemia é a manutenção do isolamento social e uso de máscaras.
Impossível é entender porque brasileiros que em geral apoiaram ou votaram em Jair Bolsonaro tenham a necessidade doentia de espalhar Fake News, mentir aos seus contatos, amigos e familiares sobre a Covid-19 e seus tratamentos e formas de prevenção mundialmente reconhecidas. O que ganham com isso?

* Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.