Gustavo Hoffay*
O sonho era de JK, a promessa foi de Lula, Dilma deu uma renovada nos votos e agora, finalmente, coube ao presidente Bolsonaro autorizar o inicio das obras de pavimentação de um grande trecho da BR 367 em Minas Gerais, próximo à divisa com o estado da Bahia. No “auê” e “oba-oba” das comemorações de tão aguardada notícia, autoridades federais e o governador Romeu Zema, juntamente com representantes da bancada mineira no Congresso Nacional, começaram a transformar em realidade um sonho acalentado por quem anseia pelo progresso do Nordeste Mineiro, dada a importância de tal obra para a economia dos vales Jequitinhonha e Mucuri que, em breve, serão interligados por asfalto a duas das maiores rodovias brasileiras, as Brs 116 e 101. Iniciando a referida obra por Gouveia e passando por Diamantina, rasgando o cerrado em direção a uma das regiões mais economicamente pobres do nosso estado e desembocando no litoral baiano, os governos de Zema e de Bolsonaro põem fim a uma novela que retratou em branco e preto o descaso de antigos governantes com aquela região e provaram, mais uma vez, que o abandono daquele trecho nada mais era que uma amostra do descaso e da péssima gestão de recursos a partir, principalmente, de antigos ocupantes do Ministério dos Transportes. Em 2.002, para o asfaltamento de 157 quilômetros , foram liberados recursos da ordem de quase sessenta milhões de reais, mas apenas 37 (?) daquele total foram, de fato, executados! Próxima a Minas Novas, terra do antigo amigo e senador Murilo Badaró, a mais de sete anos uma ponte imponente simplesmente paira no ar pois, acredite quem quiser, as suas cabeceiras não foram concluídas para interligá-la ao restante da rodovia ! Passei por aquela região a pouco tempo e o que revi foram as velhas pontes de madeira que continuam a cair aos pedaços, buracos por toda banda de um longo trecho de terra e a decepção estampada no rosto de um povo castigado pelo sol e carente de progresso. Adoro verdadeiramente aquele “pedaço” de Minas, principalmente pelas características da sua gente simples e muito acolhedora que, em breve, passará a assistir ao escoamento da produção agropecuária e de madeira de eucalipto para o sul da Bahia e o norte do Espírito Santo. O que hoje é uma viagem tranqüila, bucólica e prazerosa desde a capital Belo Horizonte em direção ao Vale do Jequitinhonha ( principalmente a partir do trecho entre Curvelo e Diamantina, atravessando o rio Paraúna em Presidente Juscelino e depois subindo a serra do Espinhaço em direção a Gouveia), passará a ser uma jornada da qual constarão, também, caminhões e carretas transportando fomento para aquela região mas, infelizmente, sufocando a tranqüilidade de toda uma gente e maculando uma grande área de terra muito conservada em seus tradicionais aspectos sociais, culturais, religiosos e históricos. Eu, um eterno saudosista, só lamento ( e muito ) a futura descaracterização daquele rincão, quando comparado ao que é hoje. O peito aperta e o coração sangra de saudades boas ao lembrar-me de um tempo que lá vai longe, distante, quando os modos e costumes de vida da gente que ali nasceu, vive ou viveu, eram e continuam sendo naturais, humildes, sinceros e tipicamente ricos, o que proporciona uma euforia à alma e aos sentimentos de qualquer visitante, principalmente daqueles que são defensores de ecossistemas, amantes da história e que lutam para manter a continuidade da preservação ambiental. Evidentemente sei o quanto o incremento econômico é importante para uma região que raramente era lembrada pelos governantes, mas em sua esteira deverão vir processos de especulação aliados a uma exploração mercantil que farão surgir novos e estranhos hábitos para, fatalmente, confrontarem-se com tradições seculares de um povo humilde e sensível, virtuoso e profundamente religioso, descaracterizando o que é natural e comprometendo o que é perfeito. Estou, sim, enciumado por prever a invasão de “estranhos” por entre os campos de “sempre vivas”, córregos e cachoeiras de águas cristalinas e trilhas salpicadas de muricis, cagaitas, pequis e araticuns. Se você também é um amante da natureza, de estórias e da história, se preza uma culinária típica mineira e de uma boa prosa à beira de um fogão à lenha, se “apreceia” um passeio sem pressa e que sempre deixa um gostinho de “quero mais”, aproveite que tratores, patrolas, caminhões-caçamba e rolos compactadores ainda estão sendo preparados para macular a virgindade daquele naco de Minas; deixe-se lançar a uma deliciosa e inesquecível aventura, onde descobertas positivas suscitam de imediato uma grande alegria e ali descobrir mais e novos motivos para sentir o que é o furor pátrio mineiro a partir da humildade, da simplicidade, do recato e do respeito ali percebidos e praticados, enquanto ouvindo prosas que dão conta do aparecimento de assombrações, mulas-sem-cabeça, curupiras e do temível Bicho da Carneira- o lobisomem mineiro.
Agente social – Uberlândia-MG