Marília Alves Cunha*

Com o advento da pandemia, todos nós presenteados com a peste chinesa que atormentou 2020 e continua atormentando 2021, peguei por hábito navegar pela internet à procura de coisas interessantes e curiosas. Assisti concertos, ballet, ópera, grandes recitais de música erudita, assim como grandes intérpretes de música popular, ótimos filmes e séries e, de quebra, aulas de inglês para melhorar o meu ainda pobre vocabulário… A internet, bem usada e bem aproveitada é um instrumento maravilhoso de cultura e entretenimento. Que maravilha você poder, por exemplo, visitar os grandes museus do mundo no conforto de sua sala…

E me deparo também, nestas minhas incursões pelo mundo digital, com acontecimentos absurdos que, infelizmente, não foram brincadeira. Fazem parte de um passado de desleixo e irresponsabilidade, que é necessário lembrar: um povo que ignora seu passado não tem condições de prever e construir seu futuro. Trago á baila um destes fatos, pelo tamanho da sua bizarrice, pela incúria que representa um governo e pelo rombo que deixou nos cofres públicos: onde já se viu um navio que não navega?

No dia 10 de maio de 2010, ao lado de Dilma Rousseff, a mulher que foi ressignificada como uma gerente de primeira grandeza e deu no que deu, também do governador de Pernambuco, Lula deveria estrear um navio petroleiro. Maravilha! O primeiro a ser construído em 14 anos – Petroleiro João Cândido – a ressurreição da indústria naval brasileira. Enorme, com grande capacidade, custou a “mixaria” de 336 milhões, o dobro do valor orçado no mercado internacional. Foi uma festa! Operários ornados com coloridos adesivos, aguardando e aplaudindo o presidente e sua turma. Porém, aconteceu o que não se esperava… O enorme navio foi rebocado ao estaleiro antes que afundasse. E nunca mais tentou flutuar. Se ficasse mais algumas horas no mar, Lula teria tido a honra de inaugurar um naufrágio.

Bem, o petroleiro está guardado, como triste memória de governos ineptos e indisfarçavelmente corruptos. R$ 336.000.000,00 foram gastos num navio que se aposentou, sem ter trabalhado um só dia. Putz! Me digam se não merece ser lembrado e se não é surreal!

*Educadora e escritora – Uberlândia – MG