Gustavo Hoffay*

Cada vez mais somos alvos de notícias que já não impactam tanto quanto a vinte, trinta e mais anos; atentados terroristas, estupros, assassinatos, roubos, assaltos e golpes díspares tornaram-se ocorrências comezinhas, quase pueris, restando-nos (é claro) lamentar as vítimas decorrentes de tais episódios e outros prejuízos dali decorrentes. E assim, dia a dia, vimos sendo observadores de males diversos e de maneira instantânea, devido principalmente a dinâmica alcançada pelos meios de comunicação. Por outro lado, “experts” naturais de tantas tragédias humanas, vimos percebendo que o mal vem tornando-se sempre mais violento e sobretudo quando assistimos a programas de TV que se nutrem da divulgação do supra sumo da criminalidade durante os ditos horários nobres, afinal o bem e as edificantes e felizes ações não mais costumam atrair a atenção popular como antes e sequer motivam empresários da grande mídia a dar-lhes alguma cobertura jornalística. Venho obtendo a nítida impressão de que boa parte da população sente-se bem ao assistir programas que tratam da criminalidade pois, vitoriosa que é em seu entusiasmo pelas desgraças alheias, ela aplaude e vislumbra aprimorar-se em técnicas de combate em benefício da sua própria luta pela sobrevivência. É evidente que não devemos fechar os olhos à brutalidade que reina e que enriquece quem a divulga de maneira sensacionalista, cobrindo ocorrências policiais de modo a causar fascínio em milhões de telespectadores, mas é mister que saibamos equilibrar nossos pontos de vista e não criticarmos quem goste de passar boa parte do seu dia regalando-se com notícias desonrosas, degradantes. Essa nossa capacidade de maravilharmo-nos diante de tantas desgraças que a vida oferece-nos, descobri ser uma maneira sadia de sair de um conformismo que teima em colocar-nos na posição de felizes habitantes de uma cidade sem qualquer problema relacionado à violência . Ora! Não passamos por qualquer dificuldade na vida e sequer precisamos da força de desejo para impulsionar nossas ações, para sobrevivermos. Muitos de nós ao assistirem programas de TV que fazem do crime e da brutalidade humana uma forma de conquistar milionários patrocinadores, sentem-se estranhamente felizes e regozijam-se enquanto cobrados pelas obrigações diárias, em família e sociedade. A vida, sabemos, parece-nos um tecido composto de retalhos de acontecimentos sadios e deveres prazerosos, mas é maioria as pessoas que conseguem regozijar unicamente pela alienação provocada por programas que tratam exclusivamente da violência e em seus mais diversos matizes. Já ouvi pessoas dizerem que notícias de crimes “aliviam o peso do tédio” e, francamente, penso que elas têm razão, afinal tal alívio é fantástico pois contribui para aumentar a nossa necessária dose diária de adrenalina. Pudéssemos todos alimentar a nossa capacidade de ver para além do dia de hoje ou de amanhã ou de percebermos a grandeza de ideais, que são conquistados mediante a nossa visão e conhecimento da desgraça alheia e devido a nossa diária e compulsiva necessidade de testemunharmos a ocorrência de crimes diversos e outras tragédias humanas.Tudo isso, claro, dá força à nossa eficácia de tornar as pessoas mais corajosas, além de embaraçar a mais otimista esperança. Enfim, tenhamos a sabedoria de buscar e dar um necessário suporte e incentivo a programas que tratam exclusivamente da criminalidade, onde essa é o “show” e muitas vezes impede-nos de contemplar, gozar e agradecer a Deus pelas suas maravilhas. Sim, pois se nada ( nada e nada, absolutamente nada ) pode ser feito para barrar a onda de violência, então acostumemo-nos a ela para sofrer menos e passar a negar que estamos cada vez mais irritados, apoquentados e tensos com tanto descaso de quem deveria cuidar de fazer justiça neste país.

Agente Social – Uberlândia-MG