Gustavo Hoffay*

Antes do mais devo dizer que esse texto foi redigido após ler, ouvir e analisar relatos e experiências de terceiros, fatos do cotidiano e de analisar muitas das práticas vivenciadas enquanto diretor do Conselho Municipal Antidrogas, de Gerente-Geral da Fundação Giuseppina Saitta e da minha própria e dolorosa vivência quando no subterrâneo das drogas, além de aprender ao menos um pouco de fundadas teorias de alguns dos maiores expoentes em Dependência Química no nosso país e o que, por consequência, permitiu-me ousar e mudar alguns particulares e antigos conceitos, preconceitos e mitos sobre as drogas ao longo dos últimos vinte e cinco anos. Igual a maioria das pessoas eu também cresci em meio a tabus sobre o tema “drogas”, além do que o tempo e a vivência, discussões e quedas, avanços e retrocessos, creio, contribuíram para que, enfim, decidisse-me expor alguns pontos de vista e até contraditórios a muito daquilo que já falei, debati e defendi publicamente em palestras, conferências e por meio da imprensa. Ora, partindo do princípio de que droga é qualquer substância que altera o estado de consciência do seu consumidor e a partir de uma simples dose de aguardente até a uma injetada de cocaína na veia, nunca é demais lembrar que em nosso país tais as drogas – naturais ou sintéticos – não são liberadas pelo receio de ver-se aumentada a criminalidade e nunca pelo fato de que as nossas autoridades estejam realmente preocupadas com a nossa saúde física e mental; e isso é algo que deve ser muito bem esclarecido, pois usuários deixaram de ser vistos como a pessoas comuns e entraram para o rol de pessoas de vida marginal à sociedade dita sadia e, por isso, uma ameaça à ordem pública. Interessante observar que a mera proibição de certas drogas em território brasileiro parece induzir não poucos jovens ao uso das mesmas, de modo a fazê-los caminhar por meandros repletos de ação, desafios e aventura, onde polícia e imprensa, médicos, assistentes sociais e psicólogos entre outros profissionais e também voluntários diversos compõem parte de um cenário cinematográfico perigoso, desafiador e por isso mesmo, atraente aos olhos de não poucos daquela faixa etária. Tudo isso, claro, turbinado por filmes nacionais e estrangeiros que alimentam a fantasia e o desejo de uso daquelas substâncias. Francamente….Da mesma forma que ninguém evita o uso de drogas por ser proibido, mulher nenhuma deixa de abortar porque é crime! Em ambos os casos sabe-se que o governo oferece locais para tratamento humanizado além de informações, diálogos, entrevistas e medicamentos. Propagandas governamentais na imprensa e que propõem a divulgar o mal causado pelas drogas não são ( e nunca foram, nem de longe) úteis à diminuição do consumo e dos danos decorrentes de tal prática. Nós, brasileiros, pautamos o tema “drogas” quase sempre amparados por uma cultura de medo e de culpa e quase nunca sob uma visão que baseia-se na ciência, o que aumenta a marginalização de jovens usuários que terminam sofrendo discriminações e preconceitos desnecessários. O que falta aos nossos jovens são basicamente informações de caráter científico a respeito dos males provocados pelas drogas, de modo a esclarecer-lhes massiva e continuamente questões a respeito da dependência e da dependência químicas e mostrar-lhes que drogas são para os fracos e nunca para quem ama e honra a si mesmo e a sua família. Francamente….jovem algum deixa de usar um ou outro tipo de droga por ter medo das consequências deletérias de tal ato; da mesma maneira pessoas não deixam de ter relações sexuais por medo de engravidar ou contrair Aids; também não deixam de dirigir por medo de tornarem-se vítimas de um acidente de trânsito ou de nadarem próximos a uma cachoeira dado ao receio de morrerem afogadas. Jovens costumam sentir-se invulneráveis às drogas, são desafiadores e na grande maioria das vezes por total falta de conhecimento dos riscos inerentes àquilo que causa-lhes algum prazer imediato, passageiro mas de terríveis consequências futuras. Enfim, são muitos os rapazes e moças que não deixam de fazer algo por medo ou receio das consequências dos seus atos; daí fazerem uso de drogas por curiosidade ou exibicionismo e em momento algum se importando sobre a possibilidade de serem propensos a tornar-se dependentes das mesmas! Insisto que a psicologia do medo funciona apenas para alguns e não para a maioria daqueles que, no fulgor da sua adolescência, acreditam que “coisas ruins” só acontecem com os outros. Informações científicas e passadas por profissionais da saúde são infinitamente mais positivas do que a indução do medo na mente dos nossos jovens; o medo se perde, a informação não! Remédios e bebidas alcoólicas são drogas, no entanto são produtos encontrados em qualquer esquina de qualquer cidade, na casa da maioria das pessoas e quase todos têm conhecimento dos efeitos das ingestões sem escrúpulos daqueles produtos. Não caberia o mesmo princípio para aquelas substâncias que hoje são consideradas ilegais? A legalização das drogas forçaria o crime organizado a sair do comércio de drogas, acabaria com a sua polpuda fonte de renda e permitiria ao governo regular e controlar com maior rigor o mercado de substâncias entorpecentes e estupefacientes. Ora! Consumir drogas tidas por ilegais é um hábito muito caro, daí alguns usuários dependentes recorrerem diariamente à criminalidade para obter dinheiro e saciarem a sua impulsão de consumo; o sistema judiciário seria aliviado e dado que o número de pessoas encarceradas seria reduzido a quase dois terços; a “guerra” contra as drogas não está surtindo o efeito necessário e ainda coloca em risco a vida de pessoas inocentes diversas; a legalização das drogas daria fim a um universo de informações falsas sobre o uso de tais substâncias e ao ponto de tratá-las por inofensivas, difundidas que são por pessoas ignorantes, aproveitadoras e até por canais de comunicação que espalham mitos e mentiras. A liberação, penso, ajudaria a disseminar informações honestas e verdadeiras ao povo em geral e de maneira a ajudar muitas pessoas na tomada decisões de usar ou não usar e de como usá-las sem ocasionar maiores danos ao indivíduo, à sua família e à sociedade onde estão inseridas, além de restaurar o direito de se usar drogas responsavelmente e o que permitiria maior controle e regulação no intuito de proteger os mais vulneráveis. Sempre acreditei e continuo acreditando que não poucos políticos já foram eleitos com dinheiro do tráfico de drogas e o que, por tanto, faz que sejam manipulados por facções criminosas e enquanto sob forte influência dos poderosos cartéis das drogas que alimentam-se do vício e da desgraça dos nossos filhos e netos. Ou o Brasil libera as drogas de maneira estratégica e progressiva ou continuará, eternamente, expondo toda a sua população ao risco de graves prejuízos decorrentes do tráfico e das transações ilegais daquelas substâncias. Para ter-se ideia dos males ocasionados apenas pelo consumo de drogas lícitas em todo o mundo neste ano e mais precisamente até o momento em que era redigido este texto, informo que 3.847.501 pessoas morreram em decorrência do uso de cigarro, outras 1.924.974 em função do consumo de álcool etílico e que foi gasta a bagatela de U$307.902.376.489,00 com drogas ilegais, de acordo com o site https://www.worldometers.info/pt.

Agente Social – Uberlândia-MG

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