Um cidadão que se identificou pela Internet como Contreiras, após ler um texto que escrevemos sob o título: “Aumenta o consumo de drogas”, comentou assim: “Somos donos do nosso corpo. A soberania do indivíduo sobre o próprio organismo lhe dá o direito de nele introduzir quaisquer substâncias (inclusive drogas). Se o Estado limitar esta liberdade, ele estará se apossando indevidamente do corpo das pessoas e violando a mais sacrossanta propriedade privada que é o corpo humano e a liberdade individual de cada cidadão”. Respeitamos o livre pensar, mas nem tudo o que eu quero ou desejo é eticamente aceitável. Conhecemos opiniões de vários juristas que classificam vício como crime. No vício, o homem prejudica a si mesmo, prejudica a própria família e a sociedade onde vive. Segundo alguns estudiosos da problemática social, uma pessoa não é verdadeiramente livre se não tiver liberdade de acertar ou errar. No entanto, todo ser humano racional deve ter entendimento para distinguir o que é certo do que é errado. Logo, cada homem ou mulher precisa ter liberdade e vontade para mudar de hábito e recompor-se com o meio onde vive. Onde a venda de drogas for livre, compra-as quem quiser para drogar-se ou para outros fins. Se uma sociedade convive com a venda livre de drogas como bebidas alcoólicas e fumo, por que não aceitar a livre comercialização de cocaína, crack ou maconha? Qual é a diferença para a saúde humana entre o consumo de drogas reconhecidas socialmente como “lícitas” e as “ilícitas”? O tráfico de drogas hoje sobrevive ao lado da corrupção. A repressão às drogas cria gangs, gera conflitos armados e alimenta a criminalidade organizada que, audaciosamente opera outras ações criminosas organizadas. Então, diante desta dura realidade, é tempo adequado à racionalidade e parar um instante para refletir, concluir e decidir se é melhor liberar as drogas ou conviver com a inútil repressão ou com a escandalosa corrupção que o tráfico alimenta. A repressão estatal inibe os produtores de drogas e faz com que os preços destas no mercado clandestino disparem. Alguém conhecedor do tráfico internacional já disse que enquanto no mundo houver consumidores de drogas, haverá quem as produza e quem as distribua, queiram ou não os governos nacionais. Esta conclusão é clara como a luz do dia iluminado por um sol brilhante. É também uma evidência que nos remete a profundas reflexões sobre o aumento do potencial de lucro proporcionado pela distribuição de drogas onde houver repressão. Esta realidade proporcionada pela repressão às drogas atrai pessoas com tendências criminosas dispostas a tudo para ampliar o lucro no mercado. A sociedade, impotente, passa a ser fustigada por gangs que geram conflitos armados entre concorrentes. Assim a criminalidade se alastra por toda a sociedade assustada. Continuar a combater o tráfico e o consumo de drogas com repressão policial é ingenuidade ou má fé. A polícia precisa trabalhar intensamente no combate a outros crimes e não perder tempo em controlar e reprimir o consumo e o tráfico de drogas. Conclusão: enquanto houver consumo de drogas haverá produção e tráfico, queiram ou não os governos nacionais. Pensem nisto sem preconceitos.
*Jornalista
Concordo com o sr. Contreiras quando ele diz que somos donos do nosso próprio corpo e que a soberania do indivíduo dá a ele o direito de nele introduzir substancias químicas (da sua preferência). É sim, quase inútil, a repressão às drogas e embora assistamos comumente pela TV ou tomemos conhecimentos por outros meios midiáticos, de grandes quantidades de drogas ilícitas serem apreendidas e muito posteriormente incineradas. Mas, convenhamos: a liberação das drogas em nosso país não seria uma violação do direito à quase absoluta maioria da nossa população e que não deseja conviver com milhares de zumbis sujeitos, passivamente, à indução de práticas anti sociais, anti éticas e até criminosas pelas nossas ruas e praças, 24 horas ao dia e sete dias por semana? E o que dizer, então, da potencialização do número de famílias que passariam a sofrer da terrível síndrome da co-dependência? Liberando as drogas hoje ilícitas, o governo federal responsabilizaria-se por aumentar e financiar as vagas para tratamento de dependentes e co-dependentes químicos? Nesse caso e usando de uma política neo-liberal, não estaria ele isentando-se das consequências advindas do abuso de drogas e passando todas as consequências daí advindas para as famílias que já são penalizadas pela síndrome da co-dependência ? Ora, o tráfico de drogas é operado por esquemas bilionários e internacionais, interligados em redes de produção, transporte e comercialização com elevadíssimo know-how internacional e cultivado e praticado já a bastante tempo, por agentes altamente qualificados para exercerem suas funções criminosas. Engana-se quem pensa que a liberação geral daquelas substâncias ( ou ao menos de algumas delas) colocaria um fim ao tráfico de drogas ou ao menos levaria ao enfraquecimento de todo um muito bem montado esquema cartelizado e servido por toda uma mega-estrutura de logística. É algo muito parecido ao que queria fazer-se para acabar com a prostituição: fechava-se as zonas boêmias mas as meretrizes continuariam atendendo em outros locais privados e que melhor lhes conviesse. Os cárteis que administram a produção, o transporte e a comercialização das drogas, com o enfraquecimento de suas ações em razão da liberação daquilo que era parte do seu sustento e enquanto ilícito, passariam a operar em outras frentes do ilícito e até com drogas super-potencializadas sinteticamente.Por tudo isso e muito mais que, momentaneamente, não cabe aqui explanar, continuo radicalmente contra a liberação das drogas hoje consideradas ilícitas. Além do que, moralmente seria tido como a uma vergonhosa rendição do poder público diante daqueles que comandam o caos de tudo aquilo é originado pelo poder emanado das drogas.