Shyrley Pimenta*

Elisabeth Kübler-Ross, uma médica suíça, ficou mundialmente conhecida pelo seu livro Sobre a Morte e o Morrer (Editora Martins Fontes, 1985), bem como pelo seu trabalho pioneiro no aconselhamento terapêutico aos doentes terminais.
Para a autora, a vida é dura, a vida é luta, mas são as adversidades que nos tornam mais fortes, quando aprendemos as lições da vida, caminho afora. Uma boa morte implica uma vida plena e boa. Lembrando que o livre-arbítrio põe sobre nossos ombros a capacidade de fazer escolhas e a responsabilidade por elas.
Kübler-Ross carregou o grande peso psicológico de ser trigêmea, ou seja, de ter tido dificuldades adicionais em descobrir a própria identidade: ela e as irmãs, Erika e Eva, eram muito parecidas, recebiam os mesmos presentes, vestiam roupas idênticas e a própria mãe delas admitia não saber quem era quem. Tais circunstâncias, ainda que desagradáveis, contribuíram desde cedo para alicerçar nela a firmeza, a determinação e a energia para seguir em frente.
Tendo crescido em contato muito próximo com a natureza (sol, pássaros, árvores, múltiplos sons e paisagens), Kübler-Ross aprendeu com ela (natureza) lições que lhe calaram muito fundo na alma. Sua experiência precoce com a religião, ela teve um professor, pastor protestante, que ensinava as escrituras, com ênfase exagerada no medo e na culpa, muito cedo a desestimulou de identificar-se com o Deus que lhe era apresentado. Sua igreja favorita, na qual reconhecia claramente a mão de Deus, eram os campos abertos, as árvores, os pássaros, a luz do sol.
Kübler-Ross, de certa forma, vivenciou os horrores da Segunda Guerra Mundial: trabalhando como voluntária na Polônia do pós-guerra, ela conheceu de perto as atrocidades da Guerra, o desmedido potencial humano para a selvageria. E ao longo de sua carreira médica, Kübler-Ross foi descobrindo, a pouco e pouco, que a melhor maneira de um médico ajudar seu paciente é ser, ele próprio, uma pessoa cheia de bondade, zelo, sensibilidade e amor. Seu grande legado é que podemos e precisamos aprender muito sobre a morte e o processo de morrer, escutando os pacientes terminais. Ainda que a morte seja um assunto espinhoso, sobre o qual as famílias e mesmo os médicos evitam abordar. Para o médico, afirma ela, a morte significa colapso, falência de órgãos, declínio. Nos hospitais modernos, a morte costuma ser um acontecimento triste, solitário, impessoal.
Para um doente terminal, afirma ela, a verdade é sempre a melhor opção – pois a morte é parte da vida, a parte mais importante da vida. Por isso, precisamos aproximar-nos dela sem medo, valendo-nos da ajuda de mestres, pois que os há e sob os mais diferentes disfarces. Médicos, padres, assistentes sociais, psicólogos, homens e mulheres precisamos urgentemente defrontarmo-nos com nossos medos, hostilidades e defesas diante da morte e do morrer. Só assim será possível descobrir o poder extraordinário que uma pessoa tem de confortar outras, simplesmente tomando coragem para agir sob o impulso do coração.

Psicóloga clínica*