Cesar Vanucci *

“Agravo vulgar à política é confundi-la com a astúcia.”
(Baltasar Gracián y Morales, filósofo espanhol)

Esse ar pesadão! Essas nuvens pardacentas a embaçarem o cenário ao alcance da vista! Esse gosto amargo de cabo de guarda-chuva na boca e na alma! Esse cheiro, a cada momento mais pronunciado, de pizza em caprichado preparo, já quase no ponto de ser levada ao forno das velhacas conveniências políticas por prestativos “pizzaiolos” de plantão! Um pessoal, como notório, escolado nas sutilezas do mais deslavado fisiologismo, recrutado em diferentes esferas das atividades públicas!
Tudo isso aí retrata situação feia, braba, periclitante, abracadabrante, como por certo diriam os primos rico e pobre daquela comédia de costumes protagonizada por Paulo Gracindo e Brandão Filho, que marcou época no rádio e televisão.
Agora, me digam, com toda sinceridade, como sair dessa baita encrenca em que, contra vontade, fomos enredados? Não passa dia sequer sem que alguma novidade impactante quebre o sossego coletivo. As revelações trazidas a lume, com sua carga cotidiana de desconforto e mal-estar, têm origens e características variadas. Ora, um libelo acusatório arrasador ganhando o espalhafato da manchete. Ora, uma acusação a mais contemplando manjada figura dos altos escalões. Adiante, pinta no pedaço denúncia contundente implicando personagens até então distanciados do noticiário político-policial. Mais adiante ainda, troca de desaforos, alfinetadas, coisas do tipo, a projetarem egos super inflados de cidadãos ávidos por celebridade duradoura. Ocorrem, também, em apreciável volume, as decisões e medidas incoerentes, os juízos interpretativos contraditórios de fatos graves, trazendo contribuição significativa ao aumento da confusão no espírito das pessoas, elevando o descrédito popular com relação a instituições tidas como respeitáveis. E o que não dizer do discurso demagógico, oco, carregado de mesóclises, meio chegado ao deboche, narrando dados irreais sobre a superação de sérios problemas sociais e econômicos, com o qual se procura, frequentemente, embair a boa fé da gente do povo? E o que não dizer, ainda, dessas confabulações escalafobéticas, insustentáveis à luz do bom senso e da ética, que aproximam em horas tardias e ambientes penumbrosos, julgadores e julgados dos processos investigatórios em curso? E quanto aos esquemas de aliciamento de parlamentares para votações em plenário que possam atender a interesses de detentores do poder, mesmo que colidentes com o interesse público, como interpretá-los?
É compreensível, face a tudo que anda rolando, diante dessa fadiga suscitada pelo excesso de astúcia da politiquice barata, que, no sentimento das ruas, ganhem consistência as teses da antecipação das eleições e da convocação de uma Assembleia Constituinte exclusiva para que se possa chegar às reformas estruturais almejadas pela sociedade.
Esta a saída visível da crise que nos assola. Vem ao encontro de aspirações majoritárias. Está em sintonia com os postulados republicanos e com os ditames democráticos.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)