Cesar Vanucci *

“Turfa, uma nova riqueza energética!”
(Declaração contida num comunicado
oficial do governo de Minas, em 1982, na Fiemg)

Convido meu reduzido, posto que leal, público ledor a acompanhar as considerações alinhadas abaixo. Ressalvando a condição de leigo no trato da temática abordada, disponho-me a fornecer informações, que tenho na conta de relevantes, a respeito das propriedades da turfa como fonte alternativa de energia. Como se verá no relato, a questão suscitada abre perspectiva, até aqui não cogitada, para a implementação de ações de fomento ao desenvolvimento.

Vamos lá: turfa, o que é? O geólogo João Alberto Pratini de Morais, por volta de 1982, nas funções de diretor de operações da Metamig, produziu palpitante estudo ressaltando a importância e viabilidade do emprego da turfa como adicional tecnológico precioso. Assegurou tratar-se de matéria prima capaz de oferecer bons resultados, em termos regionais – ele se referia aí, então, à região do Triângulo Mineiro –, no tocante à produção energética. No trabalho vindo a lume foi explicado que a turfa é uma massa formada da degeneração ou desintegração de plantas acumuladas ao longo de milhares de anos, em depressões de terrenos. Com o soterramento e compactação, a água e outros compostos voláteis foram lentamente expulsos dessa massa, de tudo resultando o surgimento de camadas de carvão. A aplicação do material é ampla. O aproveitamento da turfa, segundo o informe técnico, decorre tanto de sua estrutura específica, quanto de suas características físico-químicas. A experiência mundial de utilização aponta que as principais aplicações ocorrem na agricultura, no condicionamento de solos, e na indústria, como combustível para gaseificação. Como insumo energético, a turfa contribui para a geração de eletricidade, vapor e aquecimento. A substituição de derivados do petróleo, a proteção ambiental, a alta eficiência de combustão, o controle de temperatura de combustão e a possibilidade de adaptação às caldeiras instaladas são indicados como outras vantagens do processo.
A utilização da turfa em grande escala, na Finlândia, Holanda, Suécia, Polônia, Inglaterra, Alemanha, Noruega, Rússia, Irlanda e Escócia, seu aproveitamento em épocas remotas e mais recentemente, em tempo de guerra, como fonte opcional de energia, são fatores que sugerem sua crescente importância na atualidade, importância essa traduzida na necessidade de identificação de outras matrizes de energia para acudir às exigências do conforto humano.
Há mais de três décadas, a produção de turfa na Rússia era da ordem 200 milhões de toneladas/ano, canalizadas principalmente para o setor elétrico. Na Irlanda, o volume atingia 6 milhões de toneladas/ano. O histórico brasileiro nessa modalidade não indicava, pelo menos no período já mencionado, índices dignos de nota. Sabe-se que a Central do Brasil explorou turfeiras para alimentar suas locomotivas nos anos 40.
Em janeiro de 1982, há mais de 35 anos por conseguinte, numa reunião realizada na Federação das Indústrias de Minas Gerais, o secretário da Indústria José Romualdo Cançado Bahia, de saudosa memória, anunciou que a descoberta recente de volumosa concentração de jazidas turfeiras em Uberaba, Araxá, Sacramento e Perdizes, representava o despertar do Brasil para uma fonte de energia até aquele momento adormecida no subsolo. A Metamig acabara de concluir, no território mencionado, o mais avançado estudo já promovido sobre a apropriação da turfa. Foi salientado que as reservas identificadas tornariam localidades da região desobrigadas de recorrer ao carvão mineral, proveniente do sul do país, e à lenha, já bastante escassa. As lavras encontradas eram de fácil extração. Simples seu beneficiamento e transformação em elemento energético, comparável ao carvão mineral. O comunicado rendeu copioso noticiário. A “Vida Industrial”, publicação da Fiemg, conferiu ao assunto reportagem de capa, com realce para as declarações de Pratini de Morais, diretor da Metamig, responsável pela pesquisa. Acentuando que o Ministério de Minas e Energia mostrava-se propenso a incentivar investimentos visando a exploração das jazidas e que essa exploração não exigia grande tecnologia, oferecendo retorno imediato, o então diretor técnico da Companhia de Recursos Minerais, Edson Suchinski, adicionou às revelações transmitidas o esclarecimento de que a turfa é mais viável economicamente do que o próprio carvão. Em conteúdo energético, quatro toneladas de turfa equivalem a uma tonelada de óleo.
Paro por aqui o papo, deixando suspensa no ar, inspirada por irrefreável curiosidade de repórter, singela indagação: a possibilidade de exploração da turfa na região de Uberaba continua sendo economicamente viável, como então enfatizado, nas circunstâncias descritas, pelos órgãos técnicos do governo de Minas?

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)