Antônio Pereira da Silva*

No dia 2 de janeiro de 1928, como era seu costume, o dr. Duarte Pimentel de Ulhoa, nosso primeiro magistrado, levantou-se cedo e dirigiu-se a um salão para barbear-se. Cruzou, no caminho, com o jornalista Agenor Paes, que se dirigia à redação de “A Tribuna” que ficava na praça Clarimundo Carneiro.
Cumprimentaram-se. Agenor via-o com um certo constrangimento. O dr. Duarte, há algum tempo, mostrava-se combalido. Perdera o passo firme, o “aplomb”, como se dizia na época. A prodigiosa memória já mostrava lapsos.
O telefone da redação tocou às onze horas. Alguém informava que o dr. Duarte sofrera um “acesso” e passava mal. Alguns minutos depois novamente o telefone chamou. O dr. Duarte acabara de falecer.
Duarte Pimentel de Ulhoa nascera em Paracatu, aos 15 de abril de 1858. Fora nomeado Juiz para a Comarca de Uberabinha pelo Presidente da Província, José Cesário de Faria Alvim, aos 23 de dezembro de 1891. Prestou juramento e empossou-se no dia 26. Entrou em exercício aos 25 de janeiro de 1892. Foi ele quem instalou a nossa Comarca.
Morou 36 anos em Uberabinha. Ao falecer era o Juiz mais velho do Estado, estava próximo dos 70 anos de idade.
Em 1910 foi transferido para São Sebastião do Paraíso, mas atendendo aos apelos da população, renunciou à promoção e permaneceu em Uberabinha.
À época do seu falecimento era a figura mais popular da cidade, admirado por pobres e ricos. Tanto que o seu enterro foi o mais concorrido desde a morte do dr. Raphael Rinaldi, o “médico dos pobres”, em 1910.
Seu velório, em casa, durou vinte e quatro horas e praticamente toda a cidade o visitou.
Durante toda a noite a sua residência esteve cheia, era comum verem-se famílias inteiras aos prantos.
Às onze horas do dia 3, seu corpo foi levado para a Matriz. Mais de duas mil pessoas acompanhavam-no.
À frente do préstito, o crucifixo de prata da Igreja conduzido por Claudemiro de Souza. Em seguida, duas alas de moças vestidas de branco. Comissões de várias sociedades. Representantes de todas as classes sociais, senhoras, corporações, clubes, escolas, o Grêmio Recreativo Feminino, que decretou três dias de luto para a entidade pela Presidente em exercício, Brasílica de Freitas etc. E a indefectível Banda União Operária.
À frente do caixão iam os vigários Albino de Figueiredo e José de Magalhães. Depois do caixão, um auto-eça com dezenas e dezenas de coroas.
Na Matriz, que ficava na praça Cícero Macedo, onde está a Biblioteca Pública, uma multidão esperava. Houve cânticos e a encomendação.
Havia diversas representações de autoridades públicas, a começar pelo Agente Executivo Eduardo Marquez que representava o Presidente do Estado Antônio Carlos.
No cemitério, antes do esquife descer à cova, vários oradores despediram-se do magistrado. Pela ordem: o professor Mário Porto pelo Foro e A Tribuna, o professor Jerônimo Arantes pelo Colégio Amor às Artes, o dr. Abelardo Penna pelos amigos do Foro, o professor Gasparino Magalhães pelo povo de Uberabinha, o dr. Francisco Potier Monteiro pelo Foro de Tupaciguara e o dr. Pelópidas Fonseca pela Câmara Municipal de Uberabinha.

(Fontes: jornais da época, Tito Teixeira, entrevista com d. Benedita de Ulhoa Rocha)

* Jornalista