Com a aproximação das eleições as pesquisas de opinião começam a ser noticiadas cada vez mais. Por enquanto, os números da intenção de votos para a presidência são os principais a serem divulgados. Mas, a mais de um ano da eleição e em meio a tanta imprevisibilidade do cenário político, o que significam essas pesquisas?
Normalmente, o candidato que está na frente nas intenções de voto tende a valorizar excessivamente sua posição e, o que está atrás, menospreza os índices. Enquanto isso, para a população em geral, os números podem soar como previsões do resultado das urnas. Porém, não é bem assim. Existem outros fatores importantes a serem levados em conta ao analisar pesquisas na atual conjuntura.
O primeiro deles é o momento político, pois é o que a pesquisa mostra: a intenções de voto naquele instante. E isso serve para relativizarmos os números que são divulgados, pois a história brasileira nos mostra que uma eleição, desde a pré-campanha até seu resultado, pode ser uma montanha russa com altos e baixos, além de muitas surpresas. Quem poderia supor, por exemplo, que o ex-governador Eduardo Campos iria falecer em plena disputa eleitoral em 2014? Um fato que mudou o cenário daquele momento. Ou seja, o que deve ser levado em conta neste tipo de pesquisa é a dinâmica da opinião pública.
Outro aspecto fundamental é o grau de conhecimento dos candidatos. No levantamento do Datafolha, divulgado em junho, o ex-presidente Lula aparece liderando as intenções de voto no primeiro turno. Mas um dado importante da pesquisa, que justifica em parte a liderança, é o nível de conhecimento do ex-presidente perante à população: 99%. Ou seja, quase todos os brasileiros o conhecem, sendo o maior índice entre os possíveis candidatos. E ser conhecido é o primeiro passo, que segue com a identificação, a comparação, a lembrança, até chegar ao voto. Isso quer dizer que o eleitor não vota em quem não conhece, e também que candidatos menos conhecidos tendem, logicamente, a ter menos intenção de votos.
Em outra pesquisa recente do Datafolha, menos noticiada mas talvez mais importante, foi demonstrado o posicionamento dos brasileiros em relação às bandeiras ideológicas. Os números mostram a posição do eleitorado em relação a diferentes temas. Essa análise é ainda mais útil para um candidato se posicionar quanto às suas bandeiras, bem como para entender o limite de determinadas candidaturas. Por exemplo: um político mais à direita deve saber que seu discurso terá empatia de cerca de 40% do eleitorado, contudo, 77% acreditam que “boa parte da pobreza está ligada à falta de oportunidades iguais para que todos possam subir na vida”, posição identificada com a esquerda, em detrimento dos que acreditam que “boa parte da pobreza está ligada à preguiça de pessoas que não querem trabalhar” (21%), posição mais identificada com a direita. Dessa forma, é possível trabalhar de forma mais eficiente ao compreender a temperatura e os nichos da opinião pública, colaborando para uma estratégia mais eficaz. Por outro lado, é compreensível que discursos extremados encontrem tetos e limites.
As pesquisas são peças-chaves para o marketing político. Porém, têm que ser bem interpretadas. A leitura deve ser mais profunda que as manchetes dos jornais. Mais do que números, o importante é entender os dados qualitativamente. Qual imagem a população tem do candidato? Ele tem as qualidades que o eleitor almeja? Se sim, como isso pode ser melhorado? Se não, o que pode ser trabalhado? Por isso, é importante entender que intenção de voto é apenas um dos dados, tanto para compreender o momento quanto para traçar a estratégia que oriente as ações a serem tomadas para se chegar à vitória.

Por Emílio de Sá e Leandro Grôppo
Artigo publicado no Blog Strattegy