Gustavo Hoffay

Temos a vantagem de residir em um país onde vale a famosa frase do não menos famoso personagem Macunaíma e vivido nas telas do cinema pelo uberlandense Grande Otelo: -“Ai, que preguiça”. Aliás, a expressão “ai” na língua indígena significa preguiça e o que, na prática, tornava duplamente preguiçoso aquele personagem do grande escritor Mário Andrade. Sim, a preguiça de tomada de atitudes ou de raciocinar de grande parte dos brasileiros, resulta em outra preguiça: a de saber escolher melhor os candidatos em que devem votar para representar-nos em assembleias políticas. Somos o país do “ vamudexácumequitá, právêcuméquifica”; ou do “dispois nóis resorvi”. Pois é… situações escandalosas chegaram de mansinho e outras preponderantemente ultrajantes estouraram em nosso colo para que sejam resolvidas. E a pergunta que desafia-nos é: – “Seremos capazes”? Ora. Aquela nossa infeliz e tão enraizada subcultura tupiniquim, vem contaminando inclusive e por décadas as próprias eleições políticas, quando eleitores contrariam até mesmo as suas nobres intenções de voto e terminam, por impulso decorrente de influências diversas ( como as desditas “bocas de urnas”), optando por candidatos notadamente desqualificados a exercerem, por exemplo, a nobilíssima função de vereador, termo originado de “vereda” ( estrada secundária) de onde surgiu o verbo “verear” (administrar estradas e caminhos). Depois de tantas bordoadas, lambadas e outras contrariedades cometidas por muitos dos atuais políticos e que infestam como a parasitas o Congresso Nacional deste envergonhadoc e desacreditado país, ainda seriam necessárias quantas intervenções da Justiça Federal para que, enfim, centenas de milhares de brasileiros conseguissem refletir e daí passarem a usufruir de maneira absolutamente virtuosa, o supremo compromisso democrático de decidir por meio do voto aqueles que deverão conduzir os nossos destinos por meio da ciência política? Sim, porque poucos segundos frente a uma urna eletrônica ou a uma cédula eleitoral podem resultar em um estrambótico caos na vida de milhões de brasileiros, um mar de consequências terríveis e imensuráveis para a sustentabilidade da nossa democracia. As recentes delações dos goianos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, pasmem, coincidiram com o jubileu de prata da catastrófica delação de Pedro Collor de Melo e o que resultou na queda do seu irmão, o então presidente Fernando Collor. Tudo bem, tudo como antes no quartel de Abrantes e quando, naquela cidade portuguesa do século XIX, nada se fazia com intenção de se opor ao avanço do general Napoleão; ninguém lhe ousava resistir. Da nossa parte já estamos acostumados a intervenções, impedimentos, quedas, golpes e renúncias de presidentes desde que esse país republicou-se. Quanto a Temer, a última esperança para a redenção brasileira antes das próximas eleições presidenciais, o mais ungido e recém delatado e investigado figurão político tupiniquim nos últimos tempos, resta-lhe o consolo de acomodar-se sobre os termos do parágrafo 16 do artigo 4 da Lei 12.850/2.013 ( …”é inválida qualquer sentença condenatória fundamentada apenas em delações…..”)e enquanto uma descomunal força tarefa de juristas trabalha de maneira hercúlea para livra-lo do pior. Que bom! Realça-se, assim, mais uma vantagem de ser brasileiro: enquanto lidamos com os nossos compromissos diários em busca de uma sobrevivência ao menos digna, vamos passando o tempo na qualidade de espectadores, com o que há de melhor em termos de “reality shows”: a nossa própria, merecida e genuína epopeia de tramas e aventuras, que deixariam invejosos os poetas Homero, Virgílio e Luís de Camões. –“-Ai que preguiça…..!

Agente Social // Uberlândia(MG)