Benito Salomão*

Diferentemente do que havia ocorrido em 2016, quando todas as previsões econômicas apontavam para uma aguda recessão, 2017 começou com um cenário coberto de incertezas, patrocinadas pela existência de uma flagrante crise política que dificultava a chamada recuperação cíclica da economia. Em artigo escrito em janeiro, ancoramos nossas previsões para este ano em dois cenários: no pessimista teríamos a reedição do biênio 2015 – 16, já no otimista, o país voltaria a apresentar resultados positivos que, segundo estimamos, seria de 0,4%.
A hipótese que balizava a passagem do cenário pessimista para o otimista, era a de que o governo fosse capaz de aprovar as reformas fiscais no primeiro semestre do ano e, adentrasse no segundo semestre discutindo uma agenda de reformas pró produtividade e crescimento da economia brasileira, sabidamente sacrificados pela matriz heterodoxa de Dilma Rousseff. Em que pese nossas previsões iniciais para o crescimento econômico fossem bastante conservadoras, vista que parte dos analistas previam em janeiro resultados próximos a 1% para este ano, a hipótese que fundamentava nosso otimismo ruiu, o governo além de não aprovar a reforma da previdência no 1° semestre, está mais distante de aprova-la neste mandato, tudo indica com isto, que esta basilar reforma ficará sob responsabilidade do próximo presidente, o qual ainda é prematuro prever quem seja.
Sem a reforma da previdência no curto prazo, o investimento público fica ainda mais comprometido, as taxas de juros devem diminuir o seu ritmo de queda, como já sinalizado pelo BC e isto deverá afetar negativamente o crescimento cujas previsões já eram modestas. Some-se ainda, que as incertezas no campo da política, devem postergar as decisões de investimentos privados na economia, a temeridade quanto ao embarque noutra aventura populista, desperta uma postura defensiva nos investidores, isto afetará negativamente o mercado de trabalho, a renda das famílias e o consumo.
Dado o nosso excesso de conservadorismo no começo do ano, é prematuro ainda, revisar para baixo as nossas expectativas, muito embora 0,4% seja um cenário demasiadamente otimista para 2017, talvez o desempenho seja metade disso, ou pior, talvez pelo terceiro ano consecutivo, o crescimento pode ser negativo. Um desempenho econômico frágil, torna mais aguda a crise política, eleva o risco de que uma ameaça populista emerja das urnas em 2018 e todo o esforço para se equilibrar o orçamento, controlar a inflação e reduzir a taxa de juros se perca. Se em janeiro, o ano de 2017 era uma incógnita, agora com o ano já pela metade as incertezas permanecem.
O único consenso é que o nosso potencial de crescimento para 2017 está limitado ao 0,5%, as apostas de 1,2%, 1%, ou 0,9% realizadas por várias consultorias ouvidas pelo Focus em janeiro, foram gradualmente sendo abandonadas, enquanto a nossa aposta conservadora de janeiro, hoje é tida como otimista. Igualmente, as projeções para o crescimento de 2018 estão sendo revisadas para baixo, o que revela que estamos no pior quadriênio em termos econômicos desde a democracia.
Quiçá estamos diante de outra década perdida, dado que nossa capacidade de crescimento foi estruturalmente diminuída, entre 1930 e 1980 o país cresceu em média 6,5% ao ano, entre 1981 e 2016, a taxa média de crescimento foi de 2,3% ao ano, e pior, se considerarmos exclusivamente o período 2011 – 18, ao se confirmarem as expectativas médias, nossa média de crescimento foi inferior a 1,5% ao ano neste período, o que significa uma estagnação da nossa renda per capita, caso único no mundo. É preciso solucionar urgentemente o impasse político, o julgamento do TSE, que tinha tudo para ser uma saída constitucional para esta crise, optou pela impunidade, e pela manutenção de uma estrutura carcomida de relacionamento entre governo e sociedade, as consequências econômicas disto, serão indesejáveis.

* Bacharel e Mestre em Economia – www.benitosalomao.com.br