Interessante, não é mesmo? Em relação à cassação da chapa Dilma-Temer pode-se formular duas indagações com respostas possivelmente contraditórias, a saber:
– a chapa deveria ter sido cassada?
– convinha ao momento político e econômico brasileiro a cassação da chapa?
Eu responderia à primeira pergunta, com a imensa maioria do povo brasileiro, de modo afirmativo. O assalto aos cofres públicos promovido pelo PT e pelo PMDB contaminou a dupla presidencial e, de cambulhada, os mandatos de parcela expressiva do Congresso Nacional. Estivesse sendo julgado o mandato de um prefeito, de um parlamentar e mesmo de um governador, com muito menos evidências do que as disponíveis neste caso, o tribunal teria resolvido o assunto numa sentada sem blá-blá-blá.
Já à segunda pergunta eu daria resposta negativa. Estabilidade política é condição indispensável ao desenvolvimento das atividades econômicas, à míngua das quais entra-se em “depressão” social, com queda do nível de emprego e precarização das condições de vida. A cassação da chapa e o afastamento do presidente criariam um novo sobressalto institucional. Prolongado sobressalto, diga-se de passagem, porque caberia recurso ao STF, com direito a todas as juntadas, embargos e pedidos de vista. Confirmada a decisão, haveria a posse de um governo provisório, através do presidente da Câmara (Rodrigo Maia), seguido da articulação política e legislativa para definir as regras da eleição indireta de um novo presidente pelo Congresso Nacional. Este novo mandatário, então, cumpriria um período de poucos meses, suficientes para fins de direito, mas insuficientes para nossas urgências sócio-econômicas.
Parece evidente que este confronto entre a óbvia presença das condições para a cassação da chapa e a conveniência do ato compareceu às sessões de deliberação do TSE e agitou seus bastidores. Gilmar Mendes, empanturrado de autoestima, na completa saciedade de si mesmo, deixou isso muito claro ao longo de suas manifestações, sempre desprezando as provas para assumir um discurso nitidamente político. E note-se, atropelando a coerência ao afirmar que … “Não devemos brincar de aprendizes de feiticeiro. Não tentem usar o tribunal para resolver crise política. O tribunal não é instrumento. Resolvam seus problemas”. Não foi isso que ele fez?
O tribunal foi instrumentalizado, sim. Quatro ministros serviram votos às conveniências da atividade política. Agiram na esteira das circunstâncias e jamais repetirão as mesmas frases em decisões subsequentes.
Creio que fica, assim, caracterizado um gravíssimo problema institucional. Ele se havia manifestado, recentemente, quando o STF mudou de opinião sobre o afastamento das presidências da Câmara e Senado quando na condição de réus perante a corte. Se Renan Calheiros saísse, seu vice, o petista Jorge Viana, se encarregaria de acabar com a governabilidade do país. Então, coube a Celso de Melo dar jeito de coisa séria àquela patacoada.
Nossos tribunais superiores não sabem mais o que são. Não sabem se atuam no campo do Direito, no topo do poder político como poder moderador da República, ou as duas coisas. Na segunda função, têm servido ao que Gilmar diz não se prestar, precisamente enquanto se presta: a aprendizes de feiticeiro para resolver crise política.
* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
Parabéns.
Como sempre, sua sapiência nos conforta com crônicas inteligentíssimas, que propiciam cultura útil para que desinformados (e infelizmente são milhões por aí) tenham a necessária e primordial elevação cultural.
Pena que quem é alienado, analfabeto total, analfabeto funcional e/ou analfabeto político (por opção, preguiça ou falta de oportunidades) não terá condições de entender a magnitude e relevância de suas palavras, e não “abrirão os olhos”, para que não fique tal qual “burros úteis do PT” (CUT, MST, MTST, etc…) em carroças com as viseiras nas cabeças, para só olharem para frente, hipnotizados terrivelmente pela seita maligna PT=perda de tempo/partido de terroristas (José Dirceu, Dilma, José Genoino, e outras coisas inúteis mais…).
“Uma Nação pode sobreviver aos idiotas e até aos gananciosos.Mas não pode sobreviver à traição gerada dentro de si mesma.Um inimigo exterior não é tão perigoso, porque é conhecido e carrega suas bandeiras abertamente.Mas o traidor se move livremente dentro do Governo, seus melífluos sussurros são ouvidos entre todos, e ecoam no próprio vestíbulo do Estado.E esse traidor não parece ser um traidor; ele fala com familiaridade às suas vítimas, usa sua face, suas roupas, e apela aos sentimentos…
2)…que se alojam no coração de todas as pessoas. Ele arruína as raízes da sociedade; ele trabalha em segredo e oculto na noite para demolir as fundações da Nação; ele infecta o corpo político a tal ponto que este sucumbe. Deve-se temê-lo mais que a um assassino.” Marcus Tullius Cicero, filósofo, advogado e Senador da Roma Antiga.(Ótima caracterização de Lula/Dilma, em seus péssimos desgovernos lulofidelcastropetistas, que competentes demorarão mais de uma década para consertar estragos causados).