Gustavo Hoffay*

Salvo algumas poucas exceções no campo da teoria e da prática, ouso dizer que o Brasil segue, degringolado, ladeira abaixo na ´área da repressão ao uso de drogas. Atitudes governamentais e similares à que assistimos na Cracolândia, desembocam em soluções paliativas e unicamente sustentadas por interesses políticos. E a carreta segue descendo a ladeira…..Por um dia todo o Brasil falou e emitiu opiniões a respeito do ocorrido naquele quadrilátero do Campos Elísios, região do Braz na capital paulista, mas em nenhum dia deste e de outros anos falou-se de alguma iniciativa popular ou governamental que estivesse sendo planejada para ao menos obter-se uma solução plausível para o combate ao tráfico e consumo de drogas. Certo é que a política antidrogas em nosso país encontra-se estagnada em função da fragmentação de ideias, poderes e cargos e o que transforma-nos em vítimas da multiplicação de ações sem qualquer objetividade e de caráter contínuo naquela seara.Todo mundo fala, todos opinam, todos escrevem, todos aparecem, enfim todos dão o seu pitaco, colocam o dedo na ferida e vez ou outra até surge alguma feliz ideia mas, sabe-se lá o porquê, não é adotada e cultivada em benefício de toda uma sociedade que clama por ações contra o terrorismo implantado pelo tráfico de drogas. Autoridades e servidores públicos ficam obcecados em ressaltar as suas ideias, mas parecem ter folego ou determinação para levar adiante algum projeto de prevenção ao uso de drogas somente até esbarrarem na questão de verbas e o que, do lado de lá, no tráfico de drogas, nunca foi problema. Apelos financeiros tornam-se necessários, sim. Verdade seja dita: são pouquíssimos os empresários dispostos a verem o nome de suas empresas e o logotipo das mesmas relacionados a campanhas de prevenção ao uso drogas ou tratamentos pela reabilitação de drogados, o que contribui para fazer surgir uma nova visão sobre essa área da saúde e daí gerar uma vaidade disfarçada de “falta de dinheiro” e, quando não, o nome da empresa patrocinadora de algum programa de reabilitação ou prevenção deva ser mais valorizado que o objetivo proposto. No Brasil, país que orgulha-se por estar entre as maiores economias do mundo, os apelos financeiros naquele sentido são muitos, mas poucos são os apelos atendidos e mesmo considerando-se a eficácia comprovada de cada um deles. É muito mais fácil e cômodo ao sr. Dória, prefeito de São Paulo, autorizar numa canetada a desintegração total de uma “boca de fumo” a ter que admitir que nada mais fez que pulverizar pelo centro da capital paulista uma dezena de outros focos de uso e comercio de drogas, o que resultará no aumento do raio de ação de dependentes químicos que buscam, a qualquer custo, obter o dinheiro necessário para não deixarem o cômodo e fatal círculo vicioso das drogas. Algo muito comum entre os dependentes químicos em atividade de sua adicção, é o pensamento de que uma comunidade terapêutica para a reabilitação de toxicômanos não é profissionalmente qualificada e que ali, sem exceção, estão instaladas autênticas masmorras ao melhor estilo medieval e onde seriam severamente punidos por carrascos fortes e mascarados. Por outro lado o encaminhamento compulsório de dependentes químicos para alguma clínica de reabilitação, é algo que particularmente entendo como a uma operação absolutamente carente de otimistas perspectivas e levando-se em conta o fato deles serem vítimas de uma doença de fundo psicológico, o que aterra subjetivismos que orbitam crenças a respeito daquela enfermidade. Mais que afastar o drogado das substancias químicas alteradoras do humor, é preciso fazer que ele volte a ter tesão pela vida, que ele mude radicalmente hábitos nocivos à sua integridade física, moral, mental e espiritual. Tornando ao caso da Cracolândia, fico a imaginar para onde serão encaminhados aqueles dependentes químicos dali dispersados e considerando-se que tratam-se de jovens, mulheres e homens absolutamente insensíveis a qualquer apelo oficial em favor deles próprios. Recuso-me terminantemente a acreditar que o sr. João Dória tenha autorizado aquela operação, sem antes estar embasado por pareceres de profissionais da saúde mental e preferencialmente com especialização em dependência química. Já está provado e teoricamente comprovado que não basta parar de usar as drogas, há que oferecer-se oportunidades de ressocialização e de engajamento profissional, motivando o ex-usuário a dar um novo , sadio e definitivo rumo à sua vida.

Agente Social – Uberlândia-MG