Gustavo Hoffay*

Em 1.998 reencontrei nos Estados Unidos meus dois filhos, Patrícia e Felipe, frutos do meu primeiro casamento e de quem circunstâncias diversas privaram-me de suas companhias por longos dezesseis anos. Em 2.004, reencontrei uma outra filha a quem eu não via desde 1.979 e o que, ademais, oportunizou-me conhecer a minha primeira neta, então com sete anos de idade. Antes, em 1987, após oito anos distante, reencontrei a senhora a quem sempre considerei na qualidade de uma segunda mãe, que proporcionou-me excelente educação formal e a quem fiz companhia durante os anos de 1.970 a 1.979. Pouco antes de partir deste mundo, meu irmão Humberto, de quem fiquei distante por nove anos, telefonou-me para dar a notícia do falecimento daquele que foi o meu melhor amigo de adolescência e de quem eu não tinha notícias a aproximadamente quarenta anos. Foram perdas as quais, confesso, um dia pensei fossem todas definitivas; e algumas realmente foram. A lembrança daquelas pessoas faz-se quase sempre presente em meu dia-a-dia; surgem como a flashbacks em minha mente, especialmente em momentos de solidão ou quando bate uma saudade dos bons tempos vividos enquanto na companhia de cada uma delas em viagem, a passeio, em festas, na escola ou em jogos de futebol…. Amei algumas delas e com outras passei períodos que igualmente marcaram positiva e definitivamente a minha vida. Quatro anos passaram desde que vi uma de minhas irmãs pela última vez; passei o dia de Natal em sua casa, em Belo Horizonte; um ano e cinco meses depois eu lamentava não ter ido ao seu velório e sepultamento, dada a distância e a falta de passagens em horários oportunos para que eu chegasse a tempo. Em junho deverei reencontrar-me com aquele que foi o meu melhor amigo de infância e que não vejo desde 1.969; foi ele quem depois de tanto tempo manteve o primeiro contato, via facebook : -“Você é aquele Gustavo que morava à rua………?” Encontros e desencontros; amizades que vão e saudade que fica de épocas felizes, recheadas de momentos de intensa e sadia convivência mas que o tempo, a correria e os compromissos diários encarregam-se de afastar de nós, enquanto servos da nossa própria ignorância e das nossas buscas diárias, desatinadas e desvalidas que, invariavelmente, brindam-nos com o sofrimento originado da nossa mesquinhez e da nossa indisciplina diante de tantas e boas opções que diariamente se nos apresentam. A maioria de nós vive, sim, como se o mundo fosse acabar amanhã e portanto o que tiver de ser feito para o nosso próprio entretenimento e prazer torna-se em algo a realizar-se inevitavelmente ontem, custe o que custar. Torno àquele que “foi o meu melhor amigo de infância e quem eu não vejo desde 1.969”. Em breve deveremos reencontrar-nos em alguma cidade do Triangulo Mineiro, talvez até aqui mesmo em Uberlândia. E ao revê-lo, imediatamente retornarão em minha memória os tempos sadios e descompromissados de uma infância feliz e saudável, de velocípedes, patinetes, peões e jogos inocentes, onde o brincar não dependia de espaço e nem de tempo, quando podia-se ir à rua sem o receio de ser molestado ou assaltado, quando o grupo de coleguinhas compreendia e respeitava as regras impostas pelos respectivos pais e pela própria sociedade, quando absorvíamos para a nossa vida algumas manifestações culturais e encantadas emoções concebidas a partir de inocentes impulsos; das brincadeiras inocentes, casas assombradas e faz-de-contas com capas do Super-Homem ou do Batman, das sessões domingueiras/matinais no cine Pathé e das ginásticas com o professor Macedo nos gramados do Minas Tênis Clube, em nossa capital mineira. E nada acontece por acaso e sem razão, pois no tempo certo somos libertos da cadeia do próprio tempo. E obrigado, Papai do Céu, por tantos reencontros depois de tantas partidas, despedidas e até de inesperados desencontros. Nesses momentos penso o quanto esse mundo dá voltas e o quanto a Divina Providência age em nosso auxilio. Providência, essa, que silenciosamente alertou-me para que eu viajasse pouco mais de setecentos quilômetros em 2.012, para rever primas e tias que eu não via desde 1.984 ; naquela oportunidade encontrei uma de minhas primas em estado de coma e do qual ela nunca mais retornou, falecendo dois dias após o meu retorno. A sua irmã mais velha , residente na mesma cidade, que acompanhou-me naquela visita e a quem eu não via desde 1.972, faleceu dois meses depois. E após tantas idas e vindas, perdas e arrependimentos, permito-me registrar aqui uma leve e breve advertência a muitos: não adiem reencontros, pois talvez eles nunca venham a acontecer da maneira como gostaríamos que ocorressem e se ocorrerem. Dissipem hesitações existentes em seu coração e mexam-se, partam ao encontro! Na verdade, nenhuma “desculpa” alegada para não rever amigos e parentes há tempos distantes é suficiente ou sequer decisiva para justificar a continuidade de um cisma que insiste em marcar-nos. Por outro lado a possibilidade de reencontros inesperados e após um longo período está incluída, acredito, naquilo que conhecemos por milagres. Não duvido que o autor da natureza, Deus, pode, por si ou utilizando-se de alguma criatura, proporcionar essas oportunidades e talvez, até, no sentido de obedecer-se a um plano traçado pela Sua Providência.

*Agente Social – Uberlândia-MG