Gustavo Hoffay*

Não é atendendo a apelos de programas de rádio e TV, teoricamente a favor dessa ou daquela causa, que alguém terá garantido o reconhecimento de quem, supõe, esteja sendo atendido em suas súplicas, naquilo que diz respeito a doações diversas. A genuína caridade aos olhos de Deus está muito longe de ser apenas ofertas de bens materiais a quem precisa. Fosse assim cada um de nós, leitores, já teria ou imaginaria garantida uma exclusiva espreguiçadeira nos jardins celestes; sim, pois dar é fácil. Quanto mais alguém amar a si mesmo, tanto mais será desprendido daquilo que é seu e mais aberto estará para atender algumas das necessidades alheias. Amando verdadeiramente o próximo e de maneira prática e eficiente, com temporário esquecimento de si mesmo, o homem está, em última análise, amando a si e produzindo grande benefício a si próprio, pois estará quebrando a crosta do egoísmo para dilatar-se em Deus. Promover pequenas doações por meios eletrônicos e mesmo por telefone é algo louvável, desde que de maneira espontânea e com o espírito em festa, na certeza de que a contribuição chegará de fato a quem realmente precisa, conforme as leis da moralidade e as leis de Deus, as quais sempre se manifestam no íntimo de cada um de nós pelos ditames da consciência e quase nunca pelos sucessivos apelos promovidos em forma de shows televisivos e que servem, unicamente, para aguçar sentimentos distantes daquilo que entende-se por genuína filantropia. A verdadeira prática da caridade não é tarefa fácil e por um motivo muito simples: o amor deve fazer-se presente em todas ações e palavras de quem doa-se e faz doar em benefício de outrem. Em
Uberlândia não são poucas as pessoas que têm e praticam com zelo missionário (e muitas vezes silenciosamente) atividades que visam preencher algum espaço não ocupado pelo governo e em vista do bem de alguém, sem diminuir sequer um milímetro aqueles que auxiliam. O governo pode até fazer desaparecer as causas de problemas que dificultam e atormentam a vida de milhares de pessoas socialmente marginalizadas, mas precisa da organização de instituições que são criadas para aquele fim, de funcionários e voluntários que satisfaçam a indigência dos cidadãos e independentemente dos deveres estritamente a eles relacionados ou dos salários que recebem ao final de cada mês. É certo que o amor é o que deve mover as pessoas a lançarem-se, a promoverem com ardor o amor ao próximo e sem visarem nada mais que a autossatisfação na busca do bem de alguém. E esse bem não pode fazer distinção de raça ou classe social; deve ser tão espontâneo quanto ao apreço que temos por nós mesmos. Pessoas caridosas e desejosas de auxiliar necessitados de especial atenção, sabem controlar o próprio tempo e nunca deixam-se sobrecarregar com propósitos que excedem a sua capacidade de doar-se. Quer doar-se a alguém, a alguma causa de cunho beneficente? Conserve a paz da alma e esteja sempre ausente de conflitos, para que ninguém perceba que você não esteja satisfatoriamente preparado para cuidar sequer si mesmo. Doar dinheiro ou alimentos durante alguma campanha promovida pela mídia, é bom para a consciência de todos que o fazem, mas isso é algo extremamente fácil, está ao alcance de qualquer pessoa por meio de um simples toque, uma ligação telefônica ou acesso à internet e sem sair do seu conforto; mais importante é dar continuidade a isso, agindo de maneira a intervir mais ousada e devotadamente e levando em conta as exigências de uma justiça distributiva, na qual a fraternidade e tudo dela derivado alcance também o coração de quem recebe e não apenas o seu estômago ou o seu bolso, que ficariam apenas momentaneamente saciados.

*Presidente Cons. Deliberativo Fundação Frei Antonino Puglisi
Uberlândia-MG